PANO PRA MANGA
A repentina DECISÃO que foi tomada nesta semana pela -MOODY'S- Agência de classificação de risco-, ao conceder um -UPGRADE- da nota de crédito da dívida soberana brasileira, de BB para BB+, o que coloca o Brasil a um degrau do tão sonhado INVESTMENT GRADE, está dando muito o que falar. Notadamente, porque a tal decisão não combina minimamente com a nossa triste REALIDADE FISCAL, que ostenta intermitentes e preocupantes ROMBOS NAS CONTAS PÚBLICAS.
ANÁLISE CONTEXTUALIZADA
Pois, entre tantos desconfiados e/ou incrédulos com a repentina DECISÃO da MOODY'S, um deles é Marcelo Guterman, mestre em economia e finanças pelo Insper, por conta da sua análise muito bem contextualizada, a saber:
1- A última vez em que a Moody's fez um upgrade do Brasil de BB para BB+ foi em agosto de 2006. Na época, a dívida bruta era de 58,5% do PIB. Hoje, a dívida bruta é de 78,5% do PIB.
2- Em agosto de 2006, a dívida bruta havia recuado 4 pontos percentuais nos 12 meses anteriores. Hoje, a dívida bruta subiu 5 pontos percentuais nos últimos 12 meses.
3- Em agosto de 2006, o superávit primário era de 3,4% do PIB acumulado nos 12 meses anteriores. Hoje, temos um déficit de 2,3% do PIB.
4- Considerando o nível de dívida visto acima, de crescimento econômico de cada época (3,5% em 2006, 2,5% hoje), de custo da dívida (14% em 2006, 11% hoje) e de inflação (4,5% em 2006, 4% hoje), em 2006 era necessário um superávit de 3,4% do PIB para estabilizar a dívida. Hoje, são necessários os mesmos 3,4%. A diferença é que, em 2006, nós efetivamente tínhamos esse superávit. Hoje, estamos 5,7% do PIB distantes desse nível de superávit.
VAMOS AO RELATÓRIO
Guardou esses números? Então, vamos para o relatório, sugere o economista:
1- A agência afirma que o upgrade -reflete melhoras materiais no perfil de crédito-. Bem, dá uma olhada nos números acima, e julgue você mesmo.
2- A agência cita um -crescente track record de reformas econômicas e fiscais que emprestou resiliência ao perfil de crédito-. Deve estar se referindo à reforma tributária (que sequer foi aprovada ainda) e ao arcabouço fiscal, que não cansa de ser desmoralizado.
3- A agência espera que -um crescimento econômico mais robusto e uma política fiscal consistentemente aderente ao arcabouço fiscal permitirão que a dívida bruta se estabilize-. Olhe novamente os números acima.
4- A perspectiva positiva -reflete a possibilidade de que o crescimento econômico e o cumprimento do arcabouço fiscal ajudará a aumentar a credibilidade institucional, reduzindo, assim, o custo da dívida mais do que hoje assumimos-. É a primeira vez que vejo wishful thinking guindado a critério de avaliação de crédito.
MOODY'S
- A agência MOODY`S vê o crescimento "suportado por maiores investimentos, reforçando nossa expectativa de que o crescimento mais robusto irá persistir". Bem, na divulgação do PIB do 2º tri, o crescimento de 2,5% (4Q x 4Q) foi suportado pelos gastos das famílias (+3,7%) e pelos gastos do governo (+2,4%). Os investimentos tiveram, em realidade, retração de 0,9%.
- A agência afirma que, apesar da polarização política, "sucessivos governos avançaram reformas difíceis, como a independência do BC, a governança das estatais e a reforma trabalhista". Sucessivos governos uma pinoia! Todas essas reformas foram feitas nos governos Temer/Bolsonaro! No entanto, a Moody's não achou, na época, que eram reformas suficientemente importantes a ponto de modificar o rating. Hoje, com o governo Lula fazendo de tudo para bombardear a independência do BC (vamos ver como será a gestão Galípolo), a governança das estatais e a reforma trabalhista, a agência concede o upgrade. Julguem vocês mesmos.
CANTANDO PNEU
Paramos por aqui. A Moody's sempre foi a agência mais atrasada nas ações de rating. O grau de investimento foi concedido pela S&P e pela Fitch em maio de 2008, enquanto a Moody's só foi conceder a mesma nota em setembro de 2009. Assim como, na retirada do grau de investimento, S&P e Fitch saíram na frente (set/2015 e dez/2015, respectivamente), com a Moody's agindo somente em fevereiro de 2016. Agora, a Moody's sai na frente de todo mundo cantando pneu.
O fato de a Moody's fazer esse movimento logo em seguida à visitinha de Lula (a visita foi no dia 23/09, o comitê que decidiu o upgrade foi no dia 26/09) só nos deixa uma alternativa: a lábia do homi é irresistível. Estou começando a achar que ele pode ganhar o prêmio Nobel fazendo a paz no Oriente Médio e na Ucrânia.
Pontocritico.com
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