sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Lula: “Sou contra o Marco Temporal, fiz questão de vetar esse atentado contra indígenas”

 Presidente salientou prerrogativa do Congresso para derrubar sua decisão, mas que assunto segue em análise do STF


Representantes do Povo Tupinambá fizeram coro à ala do governo que defende que o Manto Tupinambá, vestimenta sagrada da população indígena, seja levado do Rio de Janeiro à Bahia. O objeto raro e sagrado estava na Dinamarca desde o século 17, e foi doado ao Museu Nacional do Rio como reparação histórica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na tarde desta quinta-feira, da cerimônia de celebração do retorno do Manto Tupinambá, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e criticou o Congresso Nacional por derrubar o veto presidencial sobre a tese do Marco Temporal.

Lula voltou a criticar a decisão do Congresso Nacional de derrubar o veto dele sobre a tese do Marco Temporal. Segundo o presidente, 'a maioria dos congressistas não tem compromisso com os povos indígenas'. 'Sou contra a tese do Marco Temporal, fiz questão de vetar esse atentado contra os povos indígenas, mas o Congresso Nacional, usando uma prerrogativa respaldada em lei, derrubou o meu veto. A discussão segue na Suprema Corte federal. Minha posição não mudou. Sou a favor dos povos indígenas, ao seu território e a sua cultura. Quando vetei o Marco Temporal, imaginei que o Congresso não teria coragem de derrubar o meu veto. E ele teve, porque a maioria dos congressistas não têm compromisso com nenhum povo indígena. O compromisso deles é com os grandes fazendeiros', disse.

A devolução da peça histórica contou com a articulação entre o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil na Dinamarca, museus dos dois países e lideranças do povo Tupinambá - e gerou uma disputa entre alas do governo petista. O manto retornou do Museu Nacional da Dinamarca, no dia 11 de julho, e está instalado em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional, na capital fluminense.

Maria Yakuy Tupinambá, anciã da comunidade dos Tupinambá de Olivença, em Ilhéus (BA), cobrou o governo federal e as autoridades envolvidas na negociação mais transparência, e que os povos indígenas sejam ouvidos na definição de políticas de demarcação de terras.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), presente na celebração desta quinta-feira, é um dos entusiastas de que o manto seja exposto em sua terra originária, ao menos por um período de tempo. Uma transferência definitiva do Manto Tupinambá para a Bahia é considerada complexa. Isso porque a repatriação para o Brasil foi acordada selando o Museu Nacional como destino, inclusive considerando a capacidade de preservação e proteção. Do ponto de vista histórico e cultural, a vestimenta tem valor incalculável, e qualquer trânsito pelo País requer uma série de protocolos.

O presidente Lula afirmou que espera que o governador da Bahia assuma o compromisso de construir um local adequado para receber o Manto Tupinambá. 'Se eu tivesse o poder que ela (Maria Yakuy) pensa que eu tenho, eu não estaria aqui comemorando o Manto. Estaria aqui comemorando a vida de milhões de indígenas que morreram nesse País escravizados pelos colonizadores europeus. Ele (Manto) está no Museu Nacional, mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é aqui. Peço a compreensão do nosso governador da Bahia, ele me disse que é Tupinambá, ele tem a obrigação e o compromisso histórico de construir na Bahia um lugar que possa receber esse Manto e preservá-lo', afirmou.


Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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