Moradora do bairro está na expectativa do auxílio federal e teme novos episódios de chuva
O apoio familiar nesse momento de reconstrução está sendo essencial para moradores do bairro SarandiPode até parecer que a vida em Porto Alegre voltou ao normal após a enchente de maio, mas os sinais do desastre ainda persistem. As marcas deixadas pelas águas do dique Sarandi, que inundaram o bairro, ainda são visíveis nas paredes das casas, lembrando os moradores do sofrimento que gostariam de esquecer.
O apoio de familiares está sendo o suporte essencial para uma família do Sarandi que tenta se reconstruir. Moradores do bairro há quase seis décadas, tiveram duas casas e o negócio familiar severamente atingido pelas águas.
A consultora de vendas Isabel do Nascimento relata o medo contínuo de uma nova enchente enquanto aguarda o auxílio federal solicitado no final de maio. Ela já atualizou seus dados no Centro de Referência de Assistência Social, mas sua solicitação está na sexta análise para liberação.
Isabel também observa que as paredes continuam muito úmidas, prejudicando os móveis e roupas que recebeu. Ela mantém os ventiladores ligados e aproveita os dias de sol para para tentar remover os mofos das paredes, temendo que as chuvas previstas para setembro causem danos ao que já foi recuperado.
“A gente ainda tem insegurança. Nós pagamos por não acreditar, e ainda não sabemos o que vão fazer com o dique”, diz ressaltando que água nunca chegou nem na calçada da casa. “Nós pegamos algumas roupas achando que iríamos voltar dois dias depois”, conta lembrando que a água começou a subir no sábado de tarde e que recebia informações da elevação do nível por fotos que o vizinho da frente, que resolveu ficar no segundo andar da casa, mandava com frequência.
Ela nota que muitos vizinhos que alugavam casas na rua não retornaram, e o comércio local viu muitos pequenos empreendedores fecharem suas portas. “Alguns vizinhos saíram de barco, precisaram pedir socorro. Em 2013, quando o dique estourou também, a água não chegou nem perto daqui, por isso muitos não acreditaram”, lamenta. Ela ressalta que a ajuda da família e os mutirões foram fundamentais para a limpeza e o recomeço. "Em um dia de limpeza tinham mais de vinte pessoas aqui”.
Valdir Pinido do Nascimento, que possui uma loja de assistência técnica, conta que muitas peças de seu estoque foram descartadas e que agora o negócio focará mais em vendas de produtos e menos em manutenção.
A matriarca da família, Terezinha do Nascimento, 83 anos, revelou que não via a hora de voltar para a casa e que também sente muito por ter perdido as frutas e flores do seu jardim que ela cuida com muito amor. “Eu fiquei ruim. Meus filhos falavam comigo, eu dizia que estava forte, mas eu estava ruim, me deu até dor no estômago. É muito triste, meus filhos tudo trabalhando e limpando tudo aqui. Tivemos que colocar tudo fora”.
Seu filho Valter do Nascimento recorda que as portas foram retiradas devido aos móveis caídos que bloquearam as passagens. “Tivemos que tirar todos os móveis para o pátio e começar a limpeza. Era uma montanha de lixo”, lembra Valter, descrevendo a sensação de impotência ao ver a casa da mãe em tal estado. “Não sei como não pegamos leptospirose; as luvas furavam e o sangue saía. Era muita lama quando a água baixou.”
Correio do Povo
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