IPCA acelerou de uma alta de 0,21%, em junho, para um avanço de 0,38% no mês passado
Questionado sobre o resultado do IPCA em julho (que fechou em alta de 0,38%), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira, 9, esperar que os números desacelerem nos próximos meses e que já houve uma "queda significa" do dólar nos últimos dias, o que deve tirar a pressão sobre os preços. Ele disse ainda que é preciso ter "cautela" ao analisar os dados da inflação.
"Nós esperávamos, em função do que está acontecendo no mundo, que houvesse alguma mexida na inflação deste ano. Nós vamos acompanhar com calma. O BC (Banco Central) já parou os cortes (de juros) e vamos analisar com calma. Tem muita coisa para acontecer este ano ainda, sobretudo no cenário internacional. Temos de ter cautela agora", disse o ministro. "Nós estamos acompanhando, tomando as medidas necessárias. O BC tem falado a respeito, o dólar teve uma queda significativa nos últimos dias, e a gente espera que esses números (da inflação) convirjam para patamares inferiores."
Puxado pelos reajustes dos preços da gasolina, passagens aéreas e energia elétrica, o IPCA acelerou de uma alta de 0,21%, em junho, para um avanço de 0,38% no mês passado, informou ontem o IBGE.
Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses subiu pelo terceiro mês consecutivo, chegando a 4,50% em julho, alcançando, assim, o teto de tolerância da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024 - o centro da meta é de 3%.
Haddad acrescentou que novas ações agora do BC em relação aos juros vão afetar não a inflação corrente, mas a de 2026. "Você não vai corrigir a inflação de 2024 aumentando o juro. Você tem de ver a trajetória da inflação ao longo dos meses para saber qual é o remédio adequado para conter um eventual aumento de preços. Inclusive houve boas notícias em relação à cesta básica, preços de alimentos. Nós temos de acompanhar sem ansiedade e tomar as medidas necessárias para o Brasil continuar crescendo, e a renda do trabalhador continuar subindo", defendeu ele.
Mudança de tom
O BC já disse que "não hesitará" em elevar a taxa de juros "para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado". A mensagem apareceu na ata referente à última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que terminou com a manutenção da Selic em 10,5% ao ano.
A mudança de tom levou parte dos agentes de mercado a reconhecer que o comitê deixou uma porta aberta para uma possível elevação do juro à frente, como citaram casas como Bradesco e Itaú Unibanco, enquanto a XP Investimentos avaliou que a chance de alta da Selic "está subindo". Ainda assim, a estimativa predominante no mercado é de manutenção dos juros no atual patamar até o fim do ano.
De acordo com o documento, a avaliação do BC é de que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário, como também a ancoragem das expectativas (ou seja, até que as estimativas do mercado fiquem mais próximas das metas oficiais).
Em evento ontem, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que a autarquia "tem votado de forma coesa e unânime, mostrando seu compromisso no atingimento da meta". "Eu tenho confiança de que isso vai ser feito após minha saída", acrescentou ele, que deixa o cargo o fim do ano. A troca de comando tem alimentado no mercado o receio de que, a depender do nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BC possa assumir uma posição mais leniente em relação à inflação.
Campos Neto ressaltou ainda a importância de proteger a credibilidade do BC com decisões técnicas, para além de questões políticas. "O Banco Central tem demonstrado comportamento bastante técnico, tem tentado ficar um pouco distante do ruído político e do dia a dia."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Estadão Conteúdo e Correio do Povo
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