Secovi/RS aponta haver 8% mais salas disponíveis na região após a inundação do que antes da tragédia
Na avenida Farrapos, muitos prédios comerciais estão fechados após a enchenteImportantes vias da zona Norte e área central de Porto Alegre, outrora repletas de um comércio vibrante, são agora cenário do abandono de empreendedores. Depois das enchentes, não é difícil circular por vias como as avenidas Farrapos e Cristóvão Colombo, assim como a rua Voluntários da Pátria e se deparar com dezenas de placas de aluguel e venda, reflexo da crise provocada pelo avanço da água por cerca de um mês em regiões como o 4º Distrito.
Um levantamento da Associação das Empresas dos Bairros Humaitá e Navegantes (AEHN) feito entre o final de junho e o começo de julho com 39 associados mostrou que quase 90% das empresas consultadas não haviam recebido assistência governamental, e praticamente o mesmo percentual não possuía seguro contra cheias. Seis delas precisaram demitir funcionários e 12 disseram precisar de capital de giro para compra de estoque e pagamento de fornecedores.
Um dos casos mais emblemáticos é o da Lebes Life Store Farrapos, na esquina da Farrapos com a avenida Sertório, aberta em outubro de 2019. O empreendimento conceito, além da unidade da rede varejista, mantinha também outras lojas no térreo, como uma agência bancária. Atualmente, restam apenas as marcas da água nas paredes externas e na grade entre a calçada do terreno, que está fechado e com visíveis sinais de abandono. A reportagem procurou a Lebes para obter informações sobre o futuro do local, e a assessoria da rede informou que fornecerá um retorno em breve.
Já o Sindicato da Habitação (Secovi/RS) mostrou que, em geral, houve aumentos da oferta de pavilhões, depósitos e prédios comerciais, bem como o valor do metro quadrado dos mesmos, enquanto a metragem média diminuiu nos bairros Floresta, Navegantes, São Geraldo, Humaitá e Farrapos, no comparativo entre os meses de abril e junho. No quarto mês deste ano, antes da inundação, havia 159 imóveis destes tipos nesta região, o valor por metro quadrado era de R$ 18,54 e a metragem média era de 975 m².
Já depois da enchente, havia 172 imóveis, ou seja, 8,1% a mais, o m² custava R$ 19,50 e a metragem média foi de 905 m². O maior aumento de oferta para locação foi no Navegantes, com 13,56% a mais disponíveis em junho (67) sobre abril (59). “Possivelmente os imóveis entrantes tinham preço maior do que os que possivelmente foram alugados e/ou retirados da carteira de locação no período por algum dano causado pela enchente”, comentou a economista-chefe do Secovi/RS, Lucineli Martins.
Proprietário de uma oficina e comércio de relógios, Ezequiel de Andrade Neves mantinha seu negócio na Farrapos há 11 anos, mas, depois da inundação, se mudou para uma parte alta da Cristóvão. Segundo ele, a mudança foi “difícil”, mas positiva, já que o novo local, além de manter a clientela antiga, também atraiu novos clientes. No endereço anterior, ele mantinha o estabelecimento em duas lojas e alugava outras duas. Agora, o espaço está ocioso.
“Nossa maior motivação foi não acreditarmos, sinceramente, que parta das autoridades uma solução tão imediata. Achamos que isto vai demorar, se vier. Minha dedução é de que, se não fizermos por nós, assim como foi durante o período da enchente, ninguém fará”, afirmou ele. “O dinheiro do governo federal não está chegando. Estamos largados à nossa própria sorte”, acrescentou. O porão da nova sede mantém relógios danificados pela inundação em Porto Alegre e Canoas.
Correio do Povo
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