terça-feira, 27 de agosto de 2024

Confiança do empresário, perda da arrecadação e encerramento de empresas: números da economia gaúcha pós-enchente

 Confiança do empresário cresce, perspectivas são positivas para os próximos seis meses e fechamento de empresas está abaixo do verificado em 2023; pequeno empreendedor foi o mais impactado

Comércio e empresas fecham no Centro Histórico devido as enchentes 

Os efeitos das enchentes sobre a economia do Estado ainda não estão claros. Porém, os primeiros números que jogam luz ao cenário local indicam tendência de que a retração na atividade de setores importantes deve persistir nos próximos meses. Contudo, pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) indica que a confiança do empresário gaúcho começa a subir.

Conforme a principal entidade empresarial do Estado, o Índice de Confiança do Empresário Industrial gaúcho (ICEI-RS) cresceu de 46,2, em julho, para 49 pontos, em agosto. Apesar do grave momento pós-enchente, o patamar identificado é o mais alto desde abril de 2024.

“O resultado mostra o início de uma recuperação a partir da retomada das atividades nas empresas com o restabelecimento gradual das condições anteriores à calamidade climática de maio. Mas essas condições já não eram muito favoráveis devido ao cenário de incertezas, principalmente por causa dos juros elevados”, diz o presidente da Fiergs, Claudio Bier.

Perspectivas

As perspectivas dos empresários gaúchos para os próximos seis meses voltaram a ficar positivas pela primeira vez desde abril de 2024. Em agosto, o índice de expectativas atingiu 51,6 pontos, 2,7 acima de julho. Acima de 50, revelam otimismo, e abaixo, pessimismo. E segundo a Fiergs, todos os componentes do ICEI-RS, nas condições atuais e nas expectativas, cresceram de julho para agosto.

O otimismo, contudo, está restrito às expectativas com os próximos seis meses entre as suas empresas. Subiu de 53,7 para 54,7 pontos, enquanto o pessimismo com a economia brasileira permanece, mas diminuiu: o índice subiu de 39,4 para 45,3 pontos.

O percentual de empresários pessimistas com a economia brasileira caiu de 43,2% para 27% entre julho e agosto, e o de otimistas subiu de 7,4% para 12,5%. Entretanto, a maioria, 60,5%, não espera mudanças (eram 49,4% no mês anterior). A avaliação dos empresários com relação ao futuro da economia gaúcha voltou a ficar similar à brasileira: o índice de expectativas aumentou de 39,9 para 45,5 pontos.

A pesquisa consultou 152 empresas, sendo 35 pequenas, 53 médias e 64 grandes, entre 1º e 9 de agosto. Acompanhe o levantamento completo no Observatório da Indústria do Rio Grande do Sul.

Atividade em queda

Outro levantamento, este apresentando pelo Banco Central (BC), mostra que a atividade econômica no Estado caiu 9% em maio, na comparação com o mês anterior. Ainda de acordo com o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR), o indicador recuou 3,9%, a a maior queda para o RS desde que o indicador começou a ser divulgado, em 2002.

Outro dado sobre o impacto econômico do desastre climático no Rio Grande do Sul vem da Receita Federal: a arrecadação de tributos federais caiu R$ 4,4 bilhões em maio na comparação com maio de 2023, em números corrigidos pela inflação. Contudo, há ressalva de que tal perda está inflada porque a Receita adiou o pagamento de diversos tributos federais por até três meses, variando conforme imposto ou contribuição.

Empresas fechadas

Após a inundação de maio, 31 empresas deram entrada em pedidos de recuperação judicial na Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul. Contudo, esta etapa que normalmente ocorre diante do agravamento da situação financeira de uma empresa, está próxima da média registrada em 2023 e é levemente superior à frequência dos primeiros cinco meses de 2024 que antecederam a tragédia climática.

Conforme dados da Junta estadual, 94 empresas atualmente estão em recuperação judicial. O mês com maior incidência em 2024 é abril, com 22 processos abertos. Após a enchente, são 7 pedidos em maio, 10 em junho e 14 em julho. Na comparação, ocorreram 110 solicitações durante o ano de 2023, sendo 32 entre maio e julho do ano passado, número praticamente idêntico ao do período pós-inundação.

Neste ano, 87.825 empreendimentos encerraram suas atividades. Deste total, 66.079 estavam registrados como microempreendedores individuais (MEIs). Ocorreram ainda 2.161 fechamentos de filiais entre janeiro e julho. Em 2023 ocorreram 130.678 extinções (98.504 MEIs) e 3.786 filiais fechadas.

Em 2024, o órgão estadual recebeu 36 pedidos de falência, contudo o maior número ocorreu antes da crise. Foram 17 em março contra duas em junho e seis em julho. No ano passado foram 50 pedidos, sendo julho a maior incidência (10).

Pequenos sofreram mais

Aumentar vendas (59%), equilibrar finanças (58%), reconstruir o negócio (45%) e busca por crédito (44%) são as prioridades dos empreendedores entrevistados na 37ª edição da Pesquisa de Monitoramento dos Pequenos Negócios, realizada em julho pelo Sebrae RS. Os dados apontam impacto mais severo da enchente sobre os micro e pequenos empreendedores, justamente o número maior de fechamentos de negócios registrados pela Junta Comercial do Estado.

Sobre o impacto dos recentes eventos climáticos nos pequenos negócios, 90% dos entrevistados revelaram terem sido afetados de alguma maneira. Destes, 36% relataram danos em parte de suas estruturas, enquanto 28% não sofreram danos estruturais, mas enfrentaram paralisações devido à ausência de colaboradores, escassez de matéria-prima, dificuldades de acesso ao local de trabalho, entre outros obstáculos. Já 26% indicaram completa destruição das suas instalações.

Referente à atual situação dos negócios, 75% das empresas já estão operando desde julho, enquanto apenas 2% dos pesquisados admitiram o encerramento total da operação. A redução do faturamento no último bimestre foi um processo apontado por 86% dos respondentes da pesquisa, sendo que 60% dos entrevistados alegam queda superior a 40%.

Entre os 46% que já procuraram financiamento para seus negócios, 34% já acessaram os recursos. Outros 13% estão em processo de análise.

“É latente a necessidade de fortalecer os pequenos negócios, que é o setor que vai impulsionar mais rapidamente a economia”, diz Ariel Fernando Berti, diretor-superintendente do Sebrae RS.

Números da economia Gaúcha*:

  • 1.786.140 empresas ativas no RS
  • 183.197 empresas são do setor da Indústria
  • 512.256 do setor do Comércio
  • 1.015.964 do setor do Serviços

Em 2024 (janeiro a julho):

  • 147.149 aberturas de empresas (sendo 117.045 MEIs)
  • 87.825 extinções (66.079 MEIs) - janeiro é o mês com mais pedidos (14.164)
  • 2.161 filiais fechadas
  • 94 recuperações judiciais solicitadas
  • 36 falências decretadas

Em 2023:

  • 231.924 aberturas (183.567 MEIs)
  • 130.678 extinções (98.504 MEIs) - maio é o mês com mais pedidos - 13.771
  • 3.786 filiais fechadas
  • 110 recuperações judiciais solicitadas
  • 50 falências decretadas

*Fonte: junta comercial do Estado

Correio do Povo

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