quarta-feira, 3 de julho de 2024

Sessenta dias após enchente histórica, professor do IPH aponta medidas emergenciais para combater novas cheias em Porto Alegre

 Reflexos e desafios relacionados à cheia seguem presentes na rotina dos porto-alegrenses

Dois meses após enchente em Porto Alegre, Centro Histórico ainda guarda marcas da cheia 

Passados os 60 dias da cheia histórica, Porto Alegre ainda convive com o temor de que novos episódios possam acontecer. Desde então, novos repiques do Guaíba foram registrados no final de maio e no final de junho, mantendo milhares de porto-alegrenses apreensivos com a possibilidade de que mais estragos sejam contabilizados, principalmente em regiões que já foram duramente atingidas, como a Zona Norte, a região Central e o Extremo Sul.

Conforme o professor Fernando Dornelles, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), algumas medidas emergenciais e de curto prazo podem ser tomadas para evitar estragos relacionados com novas cheias. Ele aponta como necessário, de forma emergencial, retomar o monitoramento das estações fluviométricas atingidas em maio para recuperar a coleta de dados, além da redução de pessoas e animais em abrigos.

“Onde há sistema de diques e muros, é importante realizar intervenções, mesmo que de caráter temporário, para que não tenhamos ingresso de água. Onde o dique está mais baixo, como nos bairros Sarandi em Porto Alegre e Rio Branco em Canoas, a situação é mais preocupante. Em um novo evento de cheia de igual magnitude, haverá inundação. Por isso, neste caso é fundamental a previsão de nível, para que haja ação de evacuação coordenada”, relatou.

Questionado se serviços de desassoreamento podem ajudar a prevenir cheias, Dornelles destacou que não é possível ter uma recomendação definitiva sem um estudo técnico que indique elementos como o efeito na redução do nível, custo, periodicidade, impactos ambientais e quanto deve ser rebaixado. “Por fim, é necessário comparar com outras alternativas de controle. Assim, de posse destas informações, podermos tomar a melhor decisão, que tenha o maior efeito em reduzir os prejuízos pelo menor custo”, completou.

Apesar de ser um tema complexo, o professor do IPH afirmou ser favorável à regionalização, através de um serviço único, dos sistemas de proteção contra inundações na região metropolitana. Atualmente, cada prefeitura, como Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, é responsável por operar e realizar manutenções nos seus sistemas. “Isso melhoraria o serviço e tornaria mais eficiente por ter um único corpo técnico para toda a região, que ao padronizar procedimentos e equipamentos, tonaria mais fácil toda a atividade de operação e manutenção dos sistemas”, reforçou.


Além disso, Dornelles ressaltou sobre a necessidade do planejamento para este momento do retorno de moradores atingidos para suas casas. Segundo ele, é preciso avaliar cada caso e a estrutura disponível para a área. Onde não há proteção por sistema de diques e comportas, como na região das Ilhas e no Extremo Sul, a recomendação seria não retornar para casas que foram destruídas.

“É zona de passagem de cheia, onde a água tem grande velocidade e gera grandes profundidades de inundação, com poder destrutivo e grande risco de morte. Já nas regiões mais altas onde a inundação foi menor, não atingindo o 2º pavimento, há a possibilidade de retorno. Porém, é preciso rever os protocolos de contingência com melhoria no sistema de previsão e alerta de cheias, e analisar se deve se permitir novas construções nestes locais”, alertou.

Já nas áreas onde há sistema de proteção, o professor entende que o retorno não deve ter nenhum tipo de impedimento. Entretanto, deve-se implementar um protocolo de contingência no caso dos sistemas falharem, como ocorreu em maio. “É necessário que, ao se ter uma previsão de níveis em que a cota de água fique significativamente alta, a população fique de prontidão para uma eventual evacuação da área. E que isso seja realizado de forma coordenada”, finalizou.

Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, a região das Ilhas, que não é protegida pelo sistema de contenção de cheias da Capital, passará por um estudo específico que será contratado via Projeto de Cooperação Técnica Internacional com o Plano de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).

Ele reforça que o projeto foi concebido ainda antes da enchente, ponta conta da demanda local no processo de revisão do Plano Diretor. O prazo previsto para o desenvolvimento do plano é 18 meses a partir da contratação.

“Ele é composto por um plano emergencial, para buscar uma solução rápida para a população local; um plano urbanístico ambiental, que contará com propostas de mitigação e recuperação das áreas; e um plano de monitoramento e avaliação permanente do território, o qual inclui um plano para a gestão de riscos e desastres e gerenciamento de emergências. Os resultados poderão se refletir também para os padrões de ocupação no Sul e Extremo Sul da Capital”, salientou Bremm.



Correio do Povo

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