Famílias seguem morando em barracas montadas na rodovia ou sob viadutos, ao lado de entulhos e convivendo com frio e risco de serem atropelados
Famílias das Ilhas montaram barracaras nas margens da rodovia e sob viadutos, como o do entroncamento da BR 116 com a BR 290Passados quase 90 dias da enchente histórica registrada em maio, quem trafega pela BR 290, no trecho entre Porto Alegre e Eldorado do Sul, ainda percebe marcas causadas pela catástrofe. Entre lama, entulhos e um cenário de destruição estão algumas dezenas de barracas, onde as famílias que perderam tudo, inclusive a estrutura de suas casas, vivem de forma provisória. Frio, som de veículos trafegando a 80 km/h e o risco de atropelamento agora fazem parte da rotina destas vítimas da enchente na região das Ilhas da Capital.
Sob o viaduto do entroncamento da BR 116 com a BR 290, na Ilha Grande dos Marinheiros, vivem três famílias em barracas montadas com placas de madeira e lona. Um uma das barracas instaladas no local estão os pertences da idosa Denise Pereira. Ela conta que já está em processo de retornar para casa. Entretanto, não à que ela residia originalmente, mas sim para a casa de um familiar, no mesmo terreno onde morava.
Apesar disso, ela retorna para a barraca para cuidar de seus pertences. “Ainda tenho bastante coisa aqui. Tem gente que fica aqui cuidando também. Hoje vim olhar algumas coisas que preciso levar para casa. Depois da enchente, fiquei aqui por quase dois meses, mas era muito frio. Só de estar aqui esses minutos já fico encarangada. Quando voltamos para casa, me assustei com muita destruição. O pátio ainda segue sujo”, contou.
Além do drama vivido com a catástrofe climática, Denise ainda luta contra um câncer de mama e relembrou das dificuldades que teve de manter o tratamento durante o período. “Tive bastante dificuldade, principalmente quando ainda tinha enchente. Tiveram de me levar de barco até a Orla para, de lá, ir para o hospital fazer quimioterapia. Depois, já fiz mais duas sessões, mas as estradas já estavam liberadas”, completou.
Além da doença, Denise também relatou que precisou ficar internada no hospital com pneumonia e que o marido foi diagnosticado com leptospirose. “A rotina aqui foi muito difícil. Ainda é para quem segue aqui. Assim que voltamos, eu chorava dia e noite porque não tinha mais nada. Mas a vida segue e temos que agradecer que não perdemos ninguém da família na tragédia”, finalizou.
A Prefeitura de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), informa que ações com as famílias acampadas na região são rotineiras. Segundo a pasta, já foram distribuídas cestas básicas e cobertores no local, entregues água e lonas, além de banheiros químicos. Parte dos moradores relata não sair do local por medo de furtos em seus imóveis.
“Equipes da Defesa Civil Municipal e da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) rotineiramente conversam com as famílias. As que ainda permanecem acampadas alegam que não querem ir para abrigos emergenciais, que esperam uma solução de moradia definitiva ou aguardam a concessão de benefícios, como o Auxílio Reconstrução”, destacou a SMDS em nota.
Correio do Povo
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