quinta-feira, 11 de julho de 2024

Moradores da região das ilhas de Porto Alegre usam a areia que invadiu ruas para aterrar pátios alagados

 Propriedades e ruas ainda estão, mais de dois meses após inundação, cobertas de barro



Moradores do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, nem bem superaram as dificuldades das inundações de maio e junho, e já estão preocupados com os próximos meses, historicamente os mais chuvosos do inverno na Capital. O temor de parte da comunidade é com o possível impacto da água do rio Jacuí e do Guaíba à região, que já enfrenta problemas de mobilidade e oferta de serviços básicos.

Morando há 40 anos na rua Mexiana, na Ilha da Pintada, o autônomo Paulo Ricardo Souza acaba de concluir a limpeza da casa em que vive com a esposa, Alzira Helena. A água, que atingiu dois metros e dez centímetros, comprovados pelas marcas na fachada externa do prédio de alvenaria, demoraram exatos 65 dias para deixar a propriedade.

“Até o fim de semana passado eu ainda tinha lixo e água no portão. Baixou, mas a rua e a volta da casa estão tapadas de barro”, conta.

Além de não enlamear os pés ao entrar ou sair da residência, Souza agora tenta reduzir os transtornos de futuras cheias na região. Ele aproveita a própria areia trazida pela inundação para elevar o terreno.

“Chove bastante no inverno, setembro é o pior mês, sempre dá cheia, só que esta última deu muito estrago que nem vai ser recuperado a tempo da próxima. Claro que não espero algo igual, mas de 2015 pra cá, sempre fica mais forte, daí a ideia de aterrar o pátio, eu e outros vizinhos estamos fazendo para, pelo menos, não caminhar no meio do barro”, explica o morador.

Estragos e areia estão espalhados por diversos pontos da Ilha da Pintada Estragos e areia estão espalhados por diversos pontos da Ilha da Pintada | Foto: Mauro Schaefer

Assim como a Mexiana, é possível ver montes de areia espalhados em dezenas de ruas da Pintada. Parte do material vem da Nossa Senhora da Boa Viagem, na margem do Jacuí, que acumulou bancos com quase dois metros de altura. No local, a prefeitura trabalha há duas semanas para desobstruir o acesso às residências e à sede da colônia de pescadores Z-5.

Em junho, a administração do município preparava a retirada da areia da localidade por meio de parcerias, quando foi notificada pela Agência Nacional de Mineração (ANM) e suspendeu o procedimento. Cabe destacar que existe uma rígida fiscalização para extração de areia de mananciais da região. Após enviar documentação mostrando meios legais para executar o procedimento, o trabalho foi iniciado nas ilhas.

Dados oficiais indicam que as equipes da Secretaria de Serviços Urbanos, que atuam junto com a Marinha do Brasil no âmbito da Operação Taquari II, já retiraram mais de 4 mil toneladas de areia das ruas do bairro Arquipélago apenas nos primeiros dias de trabalho.

Rua Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada, com cômoros de areia Rua Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada, com cômoros de areia | Foto: Mauro Schaefer / CP Memória

Correio do Povo

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