quinta-feira, 25 de julho de 2024

Mais de 30% da frota de táxis ainda está inoperante após a enchente em Porto Alegre

 Assim como os táxis, as lotações também sofrem com os problemas econômicos que, agora, são o principal desafio a ser superado pelas duas categorias


As marcas das enchentes de maio ainda podem ser vistas por todos os cantos da Capital. Tanto nas marcas deixadas pela passagem da água, quanto nos resíduos retirados das casas e empresas, os sinais são visíveis. Há, porém, as marcas invisíveis e que, para setores como os táxis e lotações, são as que mais impactam neste momento, passados quase três meses desde que as águas baixaram.

Conforme o presidente do Sindicato dos Táxis de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari, boa parte da frota de táxis continua inoperante, levando a uma redução drástica no número de veículos operacionais. “Eu acredito que ainda hoje temos uns 30% de redução no número de carros nas ruas em função da enchente, devido aos problemas diretos no veículo e também devido ao problema do motorista que perdeu sua moradia. Sem o motorista também não adianta ter veículos”, relata Nozari.

Para contornar a situação, os taxistas têm sido parceiros uns dos outros, para que o maior número possível de trabalhadores da categoria possa atuar. “A gente divide o carro, um trabalha no carro do outro no período em que ele não estiver trabalhando, ou no lugar daquele que não pôde trabalhar porque ficou doente, assim vamos nos ajudando”, ressalta.

A crise econômica decorrente da enchente também afetou a demanda por serviços de táxi. Com muitas empresas fechadas e menos pessoas circulando, a quantidade de corridas diminuiu significativamente. “Nós dependemos diretamente do consumo. As pessoas compram, saem para se divertir e utilizam o táxi. Muitas não estão saindo para se divertir porque não tem nem o que comer, não tem onde morar. Então o serviço da noite diminui, o serviço do fim de semana diminui e assim sucessivamente” explica Nozari.

Apesar das dificuldades, a expectativa é de que a situação melhore nos próximos meses, à medida que a cidade se recupere e a economia comece a se reestabelecer. Nozari espera que, em breve, a frota de táxis possa voltar à normalidade, embora o processo seja gradual. “Gradativamente nós estamos voltando, mas hoje ainda temos 30% a menos. Espero que logo tenhamos de volta a dita normalidade”, acrescenta.

Enquanto trabalha para se reerguer, a categoria espera, também, que seja criado algum auxílio específico do governo para ajudar na recuperação. “Foi nos prometido tudo, mas não foi entregue nada. Ao taxista, diretamente, não houve auxílio nenhum. É nós fazendo por nós”, conclui Nozari.

Lotações também vão precisar de apoio

Os serviços de lotação em Porto Alegre também sofreram com as consequências da enchente, embora de maneira diferente. Presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação da Capital (ATL), Magnus Isse explica que, atualmente, o serviço opera entre 50% e 60% do que era antes da enchente. “Ainda está muito aquém do que era antes. Tem muitas lojas fechadas, muita coisa fechada que não abriu. É impressionante”, comentou Isse.

A estrutura das garagens de lotações, muitas situadas em áreas mais altas da cidade, ajudou a minimizar os danos diretos aos veículos. “Teve alguns carros que foram afetados, mas não muitos. Porque muitas das nossas garagens estão aqui na Zona Sul, na parte alta. Então, a água não chegou,” explicou Isse. No entanto, o maior impacto foi o fechamento de comércios e a falta de passageiros, o que reduziu drasticamente o movimento.

A ATL está em diálogo com a Prefeitura e a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para buscar soluções que permitam a recuperação plena do serviço. “Nós temos conversado com os órgãos públicos e eles estão estudando uma maneira, vendo o que podem fazer para nos auxiliar,” diz Isse.

O presidente da ATL também afirma que a recuperação será um desafio contínuo, especialmente ao considerar os impactos econômicos e operacionais enfrentados nos últimos anos, incluindo a pandemia e a concorrência com aplicativos de transporte. “Nós tivemos o desafio do aplicativo, tivemos a pandemia, agora tivemos a enchente, sem contar o sistema integrado, que nós tínhamos uma tarifa atrelada ao sistema ônibus e não temos mais” explica.

Apesar das adversidades, ele garante que há um esforço conjunto para garantir que o serviço de lotação continue a ser uma opção viável e popular para os cidadãos de Porto Alegre. “A Prefeitura está bem intencionada em ajudar, pois as pessoas gostam da lotação. A lotação é uma criação nossa, gaúcha, aqui de Porto Alegre, e as pessoas criaram um carinho e um respeito muito grande. Mas nós precisaremos de apoio para que possamos continuar” concluiu Isse.




Correio do Povo

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