quinta-feira, 4 de julho de 2024

Comércio agoniza em avenida símbolo do 4° Distrito de Porto Alegre dois meses após enchente

 Dificuldades para acessar linhas de crédito impedem recuperação de estabelecimentos na avenida Presidente Franklin Roosevelt

Parte expressiva do comércio permanece fechado no 4° Distrito de Porto Alegre dois meses após enchente 

A outrora pujante atividade comercial fez da avenida Presidente Franklin Roosevelt um símbolo do 4º Distrito, na zona Norte de Porto Alegre. A via se estende pelos bairros Navegantes e São Geraldo, somando profusão de lojas de vestuário, restaurantes, tabacarias, oficinas, entre outras. Nesta quarta-feira, entretanto, a penumbra no interior dos estabelecimentos e a marca que a água deixou nas fachadas deixam evidente que o dilúvio minou as bases do polo empreendedor na Capital.

Ali, o líquido sujo que extravasou de bueiros atingiu quase dois metros de altura. Cerca de 4,3 mil empreendimentos foram afetados. Mais do que a perda de produtos e maquinário, há imóveis que estão com a estrutura física comprometida. Por isso que a maior parte do comércio segue de portas fechadas, mesmo após 60 dias da catástrofe.

Sem a vida comercial, o movimento na localidade teve queda brusca. O reduzido número de pessoas em circulação geralmente se resume aos donos dos empreendimentos e funcionários, que em equipe tentam limpar o rastro da água marrom.

O presidente da Associação dos Empresários do 4º Distrito Atingidos pela Enchente, Arlei Romeiro, prefere não estimar o tempo para a recuperação da área. Ele destaca, no entanto, que a velocidade do progresso é freada por limitações em acessar as linhas de crédito do governo federal, que são geridos através do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Badesul.

“Por vezes, as pessoas e a mídia fora da região Sul ficam sabendo apenas dos créditos que foram enviados pelo governo federal. Isso pode gerar a falsa impressão de que os problemas pós-enchente foram resolvidos, mas a verdade é que a situação está muito grave. Mesmo que esse efetivo financeiro chegue aos bancos, não conseguimos ter acesso e, sem isso, estamos impossibilitados de fazer qualquer coisa”, alertou o presidente da associação.

Ainda de acordo com o representante do 4º Distrito, os empresários gaúchos enfrentam dificuldades em acessar o financiamento do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A solução, diz ele, passa por um número maior de empréstimos, ampliação do limite de crédito e redução de entraves burocráticos.

Arlei Romeiro chama atenção para a tendência de esvaziamento do 4º Distrito a partir de empresas que migram para outras bairros da Capital. O movimento é capitaneado por investidores receosos em permanecer na região, que desde antes do dilúvio já registrava alagamentos em menor nível.

Por fim, o presidente da associação diz que há um grupo minoritário de empresas que ainda se estabelecerá no 4º Distrito nos próximos dias, justamente pelo fato da área estar desvalorizada. Em outras palavras, são comerciantes atraídos pela queda no valor dos aluguéis.

“É um movimento minoritário, mas que existe. O valor dos aluguéis teve redução expressiva e isso invariavelmente acaba atraindo pessoas. De todo o modo, não se compara ao número de empresas que vai deixar o 4º Distrito. É algo extremamente preocupante”, lamentou.

Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário