Profissional do segmento afirma que tarifas de voos com chegadas e saídas no estado são até 300% mais caras do que outros locais
O transporte aéreo é um modal fundamental para o Rio Grande do Sul, seja para o turismo ou negócios, e sua importância foi ampliada desde as enchentes, quando o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, foi inundado, e a retomada tem sido discutida até hoje. Em que pese haver enormes prejuízos com a suspensão do serviço, a Base Aérea de Canoas tem sido utilizada como alternativa para voos comerciais. No entanto, sair da região metropolitana ou chegar até ela por este meio tem pesado no bolso.
A situação preocupa agentes de viagens, que relatam dificuldades no fechamento de pacotes. Um deles, morador de Porto Alegre, e que concordou em falar sob condição de anonimato, exibiu alguns exemplos. Um voo com saída em 2 de setembro, à noite, na rota Canoas a Guarulhos pela Latam, tem o valor de R$ 1.046,19. De Florianópolis a Congonhas, em São Paulo, no mesmo dia e praticamente mesmo horário, R$ 323,49. Outro: de Guarulhos a Canoas em 5 de outubro, à tarde, pela mesma companhia, o preço da passagem foi calculado em R$ 1.023,70. Do mesmo aeroporto a Florianópolis, um pouco mais tarde, no mesmo dia, R$ 274,84.
"Isto não tem cabimento. A diferença é maior do que 300%, e os aeroportos gaúchos e de Florianópolis nem são tão distantes assim”, comentou ele. Em voo com escalas, a situação é similar. Uma simulação feita para o dia 7 de agosto, com partida do Santos Dumont, no Rio de Janeiro, parada em Congonhas e destino em Canoas, o voo sai por R$ 2.021,64. Já os mesmos locais de partida, escala e chegada em Florianópolis, além da mesma data, R$ 643,96. Por fim, a mesma rota, porém com destino no Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, R$ 893,19.
Para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio Grande do Sul (ABAV-RS), João Machado, no entanto, a situação segue uma lógica de mercado. Na opinião dele, a demanda menor de voos de e para o estado faz com que as passagens encareçam. “Agora, no final de julho, não há nem lugar nos voos. Então, nos pouquíssimos dias em que há alguma disponibilidade, obviamente a tarifa fica cara, e ainda mais neste momento, em períodos de alta procura, férias, feriados. Enquanto há 20 voos de Florianópolis para São Paulo, temos cinco”, justificou ele, para quem, à medida em que houver maior número de aviões partindo e pousando do estado, os preços deverão baixar. “Está tudo dentro da normalidade, sem abusos por parte das companhias aéreas”.
Já a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), apesar de informar que acompanha as flutuações de preços, disse, em nota, que “as empresas aéreas têm liberdade para decidir as tarifas de seus serviços de acordo com os fatores de mercado que as envolvem”, conforme o marco regulatório do setor aéreo, de 2005. A Anac também orientou os consumidores que se sentirem lesados ou prejudicados a procurarem os canais das próprias companhias para resolução, ou, em caso de insatisfação posterior, registrar reclamação na plataforma Consumidor.gov.br.
Na última quinta-feira, o órgão informou que o governo federal autorizou o aumento de voos semanais em Canoas dos atuais 49 para 87, com o local passando a funcionar 24 horas por dia. A data de início desta ampliação, segundo a Anac, “depende ainda de ajustes na logística de transporte terrestre de passageiros e bagagens entre o Terminal de Passageiros do Aeroporto Salgado Filho e a Base Aérea de Canoas pela Concessionária Fraport Brasil, bem como da oferta de novos voos pelas companhias aéreas”.
As três principais companhias aéreas do Brasil também foram procuradas. A Latam disse que “a precificação do setor aéreo é dinâmica e considera diversos fatores [...] tais como compra antecipada, disponibilidade, taxa cambial, preço do combustível, sazonalidade, origem e destino do voo”. Ainda afirmou ter "o compromisso de colocar mais ofertas na região, uma vez que o fechamento de Porto Alegre restringiu a quantidade de assentos ao Rio Grande do Sul, e está avaliando quais aeroportos ainda comportam mais decolagens”, e que “seguirá não medindo esforços para atender a alta demanda da região”.
A Azul seguiu a mesma linha. A companhia informou que houve uma redução de 30 voos diários de Porto Alegre para 21 destinos, para três por dia rumo ao aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e que a redução nas viagens chega a 91%. “Os preços praticados variam de acordo com fatores importantes, como trecho, sazonalidade, compra antecipada, demanda e disponibilidade de assentos, entre outros. Fatores externos, como a alta do dólar e o preço do combustível, por exemplo, são elementos que também influenciam nos valores das passagens”, complementou a Azul.
Já a Gol respondeu via Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). De acordo com a entidade, utilizando-se de dados da Anac, a tarifa média comercializada para voos para o RS foi de R$ 554,84 em maio deste ano, 3,8% inferior ao registrado em abril, quando foi de R$ 576,89, e 54,7% das passagens aéreas para o estado custou menos do que R$ 500. A Abear também disse que houve aumento de frequências de voos das companhias aéreas para outras bases e oferta de aeronaves maiores, “para ampliar a oferta de assentos para a região e garantir a conectividade do estado com as demais regiões do país”. Reforçou também que os preços “são dinâmicos e [...] estão sujeitos à liberdade tarifária."
Também procurado, o diretor do Procon de Porto Alegre, Rafael Gonçalves, disse que, até o momento, o órgão recebeu apenas uma reclamação relacionada ao aumento dos valores das passagens aéreas. “Quando temos muitas reclamações sobre o mesmo tema, procuramos as companhias e tentamos resolvê-los em bloco. A situação atual relacionada a isto, ao meu ver, não justifica uma ação mais macro”, comentou ele.
Leia a nota completa da Anac
Conforme preconiza o art. 48 da Lei 11.182/2005, a Anac não interfere nos preços de mercado, mas seu papel é acompanhar as tarifas comercializadas pelas empresas. Os dados de tarifas coletados são públicos e estão regulamentados pelas Resoluções nº 140/2010 e nº 437/2017, e pelas Portarias nº 2.923/SAS/2016 e nº 198/SAS/2019.
O atual marco regulatório do setor aéreo, no que diz respeito às tarifas aéreas praticadas, estabelece o regime de liberdade tarifária, instituído pela Lei nº 11.182, de 27/12/2005, em seu art. nº 49. Dessa forma, as empresas aéreas têm liberdade para decidir as tarifas de seus serviços de acordo com os fatores de mercado que as envolvem.
A Agência orienta que, nas situações em que entendam que tenha ocorrido descumprimento do contrato de transporte aéreo, os passageiros são orientados a primeiramente procurar os canais de atendimento eletrônico, telefônico ou presencial da própria empresa aérea para resolução. Caso não fique satisfeito com o atendimento ou a solução apresentada pela empresa aérea em seus canais próprios, recomenda-se que o passageiro registre uma reclamação na plataforma Consumidor.gov.br.
Adicionalmente, a Anac mantém ações de fiscalização em âmbito coletivo da prestação dos serviços de transporte aéreo de passageiros e, no que diz respeito à educação para o consumo, disponibiliza em seus canais de atendimento e comunicação diversas informações sobre as regras do transporte aéreo, os direitos e deveres do passageiro (www.gov.br/anac/passageiros).
Leia a nota completa da Latam
A LATAM Airlines Brasil informa que a precificação do setor aéreo é dinâmica e considera diversos fatores. Os preços das passagens variam de acordo com uma série de fatores, tais como compra antecipada, disponibilidade, taxa cambial, preço do combustível, sazonalidade, origem e destino do voo.
A empresa tem o compromisso de colocar mais ofertas na região, uma vez que o fechamento de Porto Alegre restringiu a quantidade de assentos ao Rio Grande do Sul, e está avaliando quais aeroportos ainda comportam mais decolagens da LATAM.
A LATAM reforça que seguirá não medindo esforços para atender a alta demanda da região, seja com os avanços da operação emergencial ou com o retorno da operação do aeroporto Salgado Filho.
Compartilhamos também o link de acesso ao press release que divulgamos recentemente sobre a ampliação da operação no Rio Grande do Sul com 16 voos mensais para nova rota Guarulhos-Pelotas: https://www.latamairlines.com/br/pt/imprensa/noticias/pelotas-guarulhos.
Leia a nota completa da Azul
A Azul possui atualmente três voos diários entre o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), com a Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul. Antes da suspensão das atividades no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, a Companhia operava mais de 30 voos diários em Porto Alegre para 21 destinos.
Os preços praticados variam de acordo com fatores importantes, como trecho, sazonalidade, compra antecipada, demanda e disponibilidade de assentos, entre outros. Fatores externos, como a alta do dólar e o preço do combustível, por exemplo, são elementos que também influenciam nos valores das passagens.
Além disso, a operação em Canoas tem 91% menos assentos em comparação ao que era ofertado no aeroporto de Porto Alegre. A Azul estuda a ampliação da oferta no local, conforme disponibilização de slots.
Leia a nota completa da Gol/Abear
Em relação aos preços das passagens aéreas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) esclarece que:
- De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a tarifa média comercializada para voos para o Rio Grande do Sul foi de R$ 554,84 em maio de 2024. Este valor é 3,8% inferior ao registrado em abril de 2024, quando a tarifa média ficou em R$ 576,89.
- Já em Santa Catarina, nos aeroportos que integram a malha de voos extras para suprir o fechamento do Aeroporto Salgado Filho (Chapecó, Jaguaruna e Florianópolis), a tarifa média de maio de 2024 foi de R$ 577,42, 1,9% superior ao registrado em abril deste ano (R$ 566,61).
- Em maio de 2024, mais da metade (54,7%) das passagens aéreas para o Rio Grande do Sul foram comercializadas por até R$ 500,00. Em Santa Catarina este número chegou a 61% no mesmo mês.
- A ABEAR ressalta que a oferta de assentos para o Rio Grande do Sul sofreu redução de 49,8% em maio de 2024 na comparação com maio de 2023 em decorrência do fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
- Para mitigar o impacto da suspensão das operações no Salgado Filho, as empresas aéreas aumentaram as frequências para outras bases e disponibilizaram aeronaves maiores, para ampliar a oferta de assentos para a região e garantir a conectividade do estado com as demais regiões do país.
- A ABEAR destaca ainda que os preços das passagens aéreas são dinâmicos e, assim como em todo o mundo, estão sujeitos à liberdade tarifária. Além dos custos operacionais (combustível, manutenção, aluguel de aeronaves, tripulação, entre outros), a composição de uma tarifa considera diversos elementos, como taxa de ocupação do voo, demanda por trecho, data da compra em relação à viagem, época do ano, entre outros.
Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário