sábado, 22 de junho de 2024

Moradores questionam escolha do bairro para instalação de casas provisórias em Eldorado do Sul

 Conforme o grupo de apoio criado por moradores, bairro escolhido pelo Estado não possui estrutura adequada para receber e dar dignidade às famílias

Documento foi assinado pelo governador, pelo procurador-geral do Estado, pelo titular da Sehab e pelo prefeito 

Os moradores do Parque Eldorado em Eldorado do Sul expressaram sua insatisfação com a decisão do governo do Estado de instalar 250 casas provisórias no bairro. A escolha foi anunciada hoje pelo governador Eduardo Leite, mas, segundo os moradores, a localidade carece da infraestrutura necessária para acolher dignamente as famílias desalojadas pelas enchentes.

Gerson Carvalho, de 57 anos, membro da comissão e gestor de RH, destaca que as principais preocupações do grupo de apoio estão na manutenção das condições básicas, como saúde, segurança e educação. “Precisamos salientar que o grupo que se formou tem interesse principal em garantir a qualidade de vida, acolhimento correto e recepção dessas pessoas. Estamos vendo isso acontecer em Canoas e Porto Alegre, por exemplo, mas não em Eldorado não”.

Carvalho explica que o Parque Eldorado, localizado a 30 km da sede urbana de Eldorado do Sul, não possui a infraestrutura necessária para receber as novas moradias. “O bairro tem desde casas milionárias até casas simples, mas não tem empresas e indústrias, portanto não temos empregos. Todas as pessoas que viriam para as casas provisórias dispõem disso em Eldorado na parte urbana. O município ofereceu outros lugares, justamente pensando na infraestrutura que não há, mas o Estado decidiu por este local”, detalha.

O principal receio dos moradores é a falta de infraestrutura básica no Parque Eldorado. Segundo Carvalho, a área onde as moradias serão instaladas, conhecida como Parque Eldorado Parte 2, Praça 2, não oferece serviços essenciais como água encanada, esgoto, transporte público, e saúde 24h. “Deveria ser um local em que essas pessoas continuem tendo acesso a emprego, transporte e saúde 24h, que não tem no Parque Eldorado. Falando com pessoas que viriam dos bairros mais afetados, eles não querem o Parque Eldorado,” afirmou Carvalho.

Além disso, a localização escolhida, segundo ele, comprometerá uma área de praça totalmente arborizada, de 40 mil m², que seria desmatada para dar lugar às moradias. Carvalho também mencionou preocupações ambientais, já que não há sistema de esgoto, o que significa que os resíduos seriam despejados em sumidouros, impactando diretamente o meio ambiente.

Por isso, os moradores estão organizando um abaixo-assinado, que será entregue ao Ministério Público (MP), solicitando uma intervenção. “Fizemos um abaixo-assinado que está em curso, aguardando até amanhã ou domingo, para entrar com petição no MP solicitando intervenção. É outro processo que é lento e moroso, mas queremos ter algo protocolado”, explicou Carvalho.

Acordo com o Estado foi assinado hoje

Nesta sexta-feira, o governador Eduardo Leite assinou o termo de cooperação para a instalação das 250 casas provisórias no município. Segundo Leite, “essa contratação é o primeiro passo de dignidade para quem está em abrigos improvisados, mas o Estado também vai cuidar de dimensões como educação, saúde e segurança, para dar atendimento digno a todos”.

O governo do Estado defende que os módulos habitacionais, que contam com 27 metros quadrados e são desmontáveis e transportáveis, serão uma solução rápida e eficiente, com entrega prevista em 30 dias. Além disso, as unidades habitacionais serão entregues mobiliadas, permitindo o uso imediato.

Apontamentos dos Moradores

Os moradores do Parque Eldorado apresentaram um documento ao governo do Estado, elencando os principais pontos que tornam a instalação das casas provisórias inviável:

  • Não há água encanada;
  • Não há sistema de esgoto (os resíduos seriam despejados em sumidouros, impactando diretamente situações ambientais);
  • Somente duas escolas com salas de aula já esgotadas;
  • Somente uma creche, já sem vaga;
  • Unidade de saúde em reforma e insuficiente para os já residentes;
  • Não há unidade de atendimento 24 horas;
  • Não dispõe de transporte público;
  • Não há disponibilidade de emprego na região;
  • Muitos residentes desempregados, antes mesmo do evento climático;
  • Transporte para a capital; tem custo elevado - valor próximo de R$35,00 considerando ida e volta;
  • As ruas do distrito estão praticamente intransitáveis, antes mesmo do evento climático;
  • Segurança pública, exercida exclusivamente pela BM, é insuficiente;
  • Há problemas com o fornecimento de energia elétrica desde sempre;
  • Sinal de telefonia é precário em todas as operadoras;
  • A administração municipal sempre negligenciou o distrito.

O documento conclui afirmando que a instalação das casas provisórias no Parque Eldorado colapsaria a estrutura já insuficiente do bairro e sugere a adoção de modelos de unidades habitacionais de emergência da ONU para atender as necessidades das famílias afetadas.

A Prefeitura de Eldorado do Sul foi contatada para falar sobre a situação, mas informou apenas que a situação deve ser tratada apenas com o Governo do Estado.

Correio do Povo

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