domingo, 23 de junho de 2024

“A situação é trágica e a insegurança domina”, diz moradora da região das Ilhas, em Porto Alegre

 Após nova elevação do rio Guaíba, comunidade não tem certeza de quando poderá voltar para casa em segurança

Vera caminha pela rua Nossa Senhora da Boa Viagem, tomada por água e areia 

O pesadelo perdura desde o início do mês passado para cerca de 80% da população que habita a região das Ilhas, em Porto Alegre. Os estragos de maio estão por todos os lugares do bairro batizado de arquipélago, e a instabilidade climática não dá trégua para os que tentam recuperar suas casas e estão forçados a ficar mais tempo sem lar.

O fenômeno da última semana agravou os problemas e os temores da Ana Maria Moreira. A diarista estava limpando a residência, na Ilha da Pintada, na manhã de terça-feira, quando ouviu o carro de som com o alerta da Defesa Civil para que deixassem novamente a região.

“A situação é trágica e a insegurança domina. Quando achamos que acabou, começa tudo outra vez”, conta Ana, que vive na região há 18 anos.

Por lá, pilhas de móveis enormes no meio das ruas, casas com paredes arrancadas e até carros virados com as rodas para cima compõe o cenário desolador.

O drama é maior para as famílias ribeirinhas. Apesar de estarem acostumados com cheias, o avanço da água agora assusta como nunca, diz o catador Wellinton de Bem, 24 anos. “Dessa vez foi ‘boca braba’, quero ir embora, mas quem vai negociar minha casa depois de tudo que aconteceu”, questiona.

Moradores de alguns trechos da Pintada voltaram a usar barco para se locomover Moradores de alguns trechos da Pintada voltaram a usar barco para se locomover | Foto: Mauro Schaefer

A rua Nossa Senhora da Boa Viagem voltou a alagar. E onde não tem água está cheia de enormes bancos de areia. Desde maio, a família da aposentada Vera Terezinha Aires da Silva vive de favor na casa de amigos. Ela não tem mais casa, e quem tem não consegue entrar ou sair. “Tive que pedir ajuda para viver, aliás, seguimos precisando de ajuda”, disse Vera.

Na Ilha Grande dos Marinheiros, quase não há acúmulo de água sobre as ruas. O que resta é muito barro, que atrapalha a circulação de veículos e de pessoas. “Demora para secar, quando seca, chove outra vez”, conta Sirlei Vieira, 80 anos, que aproveitou a tarde ensolarada para encher os varais com roupas e lavar alguns móveis atingidos pela cheia.

A região das Ilhas de Porto Alegre preocupou a Defesa Civil durante a semana. Foi montada operação, que contou com o apoio da Marinha do Brasil e do Corpo de Bombeiros, que permanecem em prontidão para auxiliar em eventuais remoções de moradores. Transporte e vagas em abrigos foram reservados pela prefeitura da Capital, sendo que ao menos três famílias precisaram ser resgatadas por fuzileiros navais que atuam na Operação Taquari 2.

Na Ilha dos Marinheiros, a água ainda toma conta de parte da via e das calçadas. Muitos entulhos seguem aguardando remoção na região. A medição das 12h deste sábado, de acordo com a régua da Tide Sat na rua dos Marinheiros, o nível do rio Guaíba estava em 2,67 metros, o maior nível dos últimos sete dias.

Correio do Povo

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