terça-feira, 21 de maio de 2024

Mesmo sem água baixar, moradores do Sarandi limpam casas e tentam recomeçar

 Ao menos uma bomba já opera na drenagem da água no bairro da zona Norte de Porto Alegre

Descarte de móveis acumula nas calçadas 

Na placa onde há 12 anos são anunciadas as ofertas, há apenas um espaço vazio. Na calçada e na fachada, tinta fresca já esconde a marca deixada pela enchente. O cheiro do revestimento ainda sendo espalhado no pavimento externo se mistura ao da lama e dos móveis estragados deixados em pilhas nas frentes das casas e comércios. São os contrastes do bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre.

O bairro hoje é o retrato do drama de quem espera a água baixar, contabiliza perdas e se prepara para recomeçar. Onde a enchente já recuou, pessoas entram em suas propriedades a todo instante em busca de algo que tenha sobrado. Não há energia elétrica e em alguns pontos falta até mesmo água para a limpeza das paredes e interior das construções. Ainda assim o povo persiste, nem que seja para jogar fora o que já não serve mais.

“Estou sem luz, o que não perdi em mercadoria com a cheia, estragou sem refrigeração”, conta Tânia Lorenzatto, proprietária do mercado que tenta reerguer na rua Affonso Paulo Feijó. Foi a primeira vez que a água invadiu o estabelecimento, atingindo, conforme as marcas na parede, 1,60m.


A uma quadra dali, a situação é a mesma na rua Senhor do Bom Fim. Do colchão a utensílios de cozinha, uma a uma as referências e conquistas de anos de trabalho vão para a sarjeta, esperando a passagem das equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana.

Até mesmo vias movimentadas das região hoje estão transformadas em extensões de lixo. A avenida Bernardirno Silveira Amorim, tradicionalmente carregada nos horários de pico, hoje está congestionada por entulhos. Moradores da região, como o vigilante Ramses Carneiro passam os dias a expulsar a lama de dentro de casa. Ele conta que não restou nada na casa que morava com esposa, filho e sogra. “Meu filho trabalhava com informática, acabou… todo o equipamento se foi”, lamenta.

Diante da demanda, 40 homens e mulheres do DMLU estão na região. O mutirão de limpeza já recolheu, desde o último sábado, mais de 90 toneladas de resíduos. Nas ruas secas e com acesso de caminhões e retroescavadeira, também ocorre a raspagem do lodo.

No bairro Sarandi, a equipe conseguiu acesso nas ruas Francisco Pinto da Fontoura, Bento Rosa e Rocco Aloise. Na Vila Elizabeth, foram atendidas vias como as avenidas 21 de Abril, dos Gaúchos e Toledo Piza e as ruas Fábio Carneiro de Lima, Vieira da Silva e Domingos de Abreu.

Ao menos uma das nove bombas de drenagem prometidas para a zona Norte já está em operação. De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), o equipamento foi emprestado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Os equipamentos têm capacidade para drenar cerca de 2 mil litros de água por segundo, ou seja, 7,2 milhões de litros por hora e prometem aliviar as regiões próximas do aeroporto, Sarandi e do Humaitá.

“Esses equipamentos pesam em torno de 10 toneladas. A Sabesp disponibilizou 18 para o Estado e estão vindo para Canoas e Porto Alegre. As demais bombas devem chegar entre hoje e amanhã e serão instaladas ao longo da semana por técnicos da Sabesp e do Dmae”, explica o diretor-geral Mauricio Loss.

Correio do Povo

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