Água começa a baixar em algumas ruas no entorno da Praça da Alfândega
Ruas que antes estavam completa ou parcialmente tomadas pela água, como Andradas, Vigário José Inácio e Dr. Flores, estão com acesso liberado, apesar da lama que cobre o pavimento.Com a redução dos alagamentos no Centro Histórico de Porto Alegre, muitos pequenos comerciantes começaram a ter acesso a seus estabelecimentos que estavam alagados pela enchente. Ruas que antes estavam tomadas pela água, como Andradas, Vigário José Inácio e Dr. Flores, estão com acesso liberado, apesar da lama que cobre o pavimento e as lojas. Na rua Vigário José Inácio, por exemplo, a água baixou cerca de uma quadra e os comerciantes da região retomaram seus estabelecimentos, iniciando o difícil processo de limpeza dos prédios.
Daniele Barbosa, 33 anos, é gerente na loja CiaDaNutrição, na rua Vigário José Inácio, n⁰ 266, no Centro Histórico de Porto Alegre. O estabelecimento de produtos naturais e suplementos alimentares faz parte de uma rede de cinco lojas, que possui 40 funcionários ao todo. Segundo Barbosa, todas as lojas foram afetadas de alguma forma pelas enchentes. Apenas duas não foram alagadas e estão funcionando no momento, uma em Canoas e outra na Av. Borges de Medeiros. A loja da rua Vigário José Inácio e as duas que ficam no Mercado Público foram invadidas pela água.
Somente na unidade da Vigário José Inácio, Barbosa e o proprietário contabilizam cerca de R$300 mil reais em prejuízos, apenas em móveis, equipamentos e produtos estragados ou vencidos. Cerca de seis funcionários estavam fazendo a limpeza dentro da loja nesta segunda-feira. Essa é a primeira vez que a equipe conseguiu chegar até o local para avaliar os estragos.
“Além dos produtos que tivemos que colocar fora por causa do alagamento, tivemos prejuízos também nas lojas que não foram alagadas por conta da falta de energia elétrica, pois temos produtos vendidos a granel, por isso dependemos da energia elétrica para vender, para o funcionamento das balanças. No Mercado Público uma de nossas estruturas era de madeira, então com certeza perdemos, e a outra era de vidro, temos medo que tenha quebrado. Mas isso só vamos conseguir avaliar quando chegarmos lá”, explicou Barbosa.
Além do cheiro forte que podia ser sentido na rua, havia marcas de lama nas paredes internas e os funcionários retiravam muitos objetos sujos de dentro da loja, assim como várias outras pessoas que faziam o mesmo nas lojas vizinhas. Os comerciantes ainda não tem previsão de retomada da energia elétrica nas imediações da rua Vigário José Inácio, por isso muitos compraram geradores para viabilizar a limpeza das lojas. O proprietário da CiaDaNutrição, por exemplo, investiu em um gerador de cerca de R$ 2 mil reais.
Segundo Barbosa, não é possível estimar as perdas totais da CiaDaNutrição visto que as lojas localizadas no Mercado Público ainda estão inacessíveis, mas ela teme que os prejuízos possam chegar a R$ 1 milhão de reais. A gerente relatou também que o intuito é reabrir a loja o quanto antes para recuperar o tempo perdido.
“Ainda não sabemos se o gerador que estamos usando vai dar conta, vamos avaliar com o proprietário, mas eu disse para o pessoal que a ideia é reabrir, mesmo que a gente tenha que improvisar algumas coisas. O que der para aproveitar dos móveis vamos aproveitar também. De qualquer forma, vamos reabrir assim que for retomada a luz”, ressaltou Barbosa.
A loja Lady Bijuterias estava aberta há apenas uma semana quando foi atingida pelo alagamento. A proprietária, uma imigrante chinesa, teve metade dos produtos danificados. Os funcionários que estavam trabalhando no local desde as 8h30 da manhã, também imigrantes chineses, contaram que ainda estão aguardando a proprietária para fazer o levantamento dos prejuízos.
Pérola Amorim, 42 anos, é outra comerciante da região, dona da pequena loja Hyper Calçados. Um homem e uma mulher mais velhos ajudavam na tarefa de retirar com rodo a água barrenta de dentro do prédio na tarde desta segunda-feira. O semblante de cansaço e desolação no rosto da proprietária, que estava parada na porta olhando para a rua, mostra o valor que aquele espaço tem na vida dela.
“Trabalho aqui desde que me entendo por gente”, contou Pérola.
A Hyper Calçados é um negócio familiar que Pérola herdou do pai e, segundo ela, deste estabelecimento dependem 9 familiares. Pérola ainda não sabe o que fazer para recuperar o prejuízo e não sabe como vai pagar o salário dos dois funcionários. Ela disse que não sabe de nenhum auxílio que tenha sido liberado aos comerciantes.
“Auxílio eu não sei de nada, só crédito, mas de linha de crédito eu não quero, quero saber se vamos ter algum auxílio”, reclamou a proprietária.
Até o momento, as iniciativas anunciadas pelos governos Estadual e Federal não contemplam auxílios em dinheiro especificamente para os comerciantes, somente soluções de crédito. O governo do Estado, por sua vez, tem feito um levantamento por meio de um formulário para recolher informações sobre os comércios afetados por alagamentos no Rio Grande do Sul, incluindo prejuízos totais de cada comércio, número de funcionários, necessidades de reforma ou aquisição de equipamentos, entre outros.
Segundo o Governo do Rio Grande do Sul, o Estado está fazendo tratativas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para promover medidas financeiras de auxílio aos empresários afetados pelas enchentes. Segundo o site do governo, uma reunião foi realizada na última quarta-feira, 15, por meio do Gabinete de Apoio ao Empreendedor, e coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), mas até o momento não foram anunciadas ações práticas.
A recomendação do Estado segue sendo que os comerciantes preencham o formulário de pesquisa para que o governo tenha conhecimento da situação de cada empresário.
Confira as medidas de crédito anunciadas pelo Governo Federal até o momento:
- Aporte de R$ 4,5 bilhões para concessão de garantias de crédito no Fundo Garantidor de Operações via Programa Nacional de Apoio a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe)
- R$ 1 bilhão para subvenção de juros no Programa Nacional de Apoio a Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe)
- R$ 500 milhões no Fundo Garantidor de Investimentos para garantir a alavancagem de crédito no Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (FGI-PEAC)
- Prorrogação de vencimento de tributos
- Dispensa da apresentação da Certidão Negativa de Débitos para facilitar o acesso ao crédito em instituições financeiras públicas
- R$ 1 bilhão para subvenção de juros ao Pronaf e Pronamp
Outras soluções:
Abono Salarial - Antecipação do cronograma de pagamento de abono salarial 2024. Medida deve beneficiar 705 mil trabalhadores com carteira assinada.
Seguro-Desemprego - De maio a outubro, serão liberadas duas parcelas adicionais do seguro-desemprego para os desempregados que já estavam recebendo antes da decretação de calamidade. No total, serão beneficiados 140 mil trabalhadores formais desempregados, num total de R$ 495 milhões.
Correio do Povo
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