De acordo com entidades, suspensão afetará 25 mil pacientes que possuem procedimentos eletivos já agendados. Suspensão inicia no dia 6 de maio
Diretor geral da Santa Casa de Porto Alegre, Julio Dornelles de Matos, apresentou prejuízos dos hospitais com nova tabela do IPE SaúdeHospitais de referência no Rio Grande do Sul anunciaram na tarde desta segunda-feira a suspensão dos atendimentos eletivos de segurados do IPE Saúde a partir do dia 6 de maio. O comunicado aconteceu em uma coletiva na sede da Federação de Santas Casas e Hospitais sem Fins Lucrativos (FederaçãoRS) e da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul), que também contou com entidades ligadas à área médica.
Os presidentes da Federação RS, Rogério Franklin, e da Fehosul, Cláudio Allgayer, apontaram a tristeza das entidades em chegar à esta decisão. "Estamos tomando uma decisão face à intransigência de negociação por parte do instituto. É uma decisão que não gostaríamos de adotar", citou Allgayer.
A estimativa é que a suspensão atinja inicialmente cerca de 25 mil assegurados que estavam com consultas e procedimentos eletivos agendados para depois do dia 6 de maio. Conforme as entidades, o IPE Saúde já foi notificado da decisão dos 18 hospitais, que representam cerca dos 60% dos atendimentos. Para estas casas de saúde, seguir atendendo dentro dos novos valores do IPE Saúde representaria um prejuízo de R$ 154 milhões ao ano.
Situação dos hospitais com a nova tabela do IPE Saúde
Antes da coletiva, o diretor geral da Santa Casa de Porto Alegre, Júlio Dornelles de Matos, apresentou dados históricos dos repasses e apontou as dificuldades vividas pelos hospitais de referência no RS com o IPE Saúde. “Até 2023, para cada R$ 100 pagos pelo instituto, R$ 98,70 eram de custo dos hospitais. Isso é aniquilar a saúde financeira dos prestadores de serviço. As narrativas sempre trouxeram que o IPE Saúde fez reajustes, mas isso não é verdade. O cenário é absolutamente deficitário”, citou.
Com relação às novas tabelas apresentadas, Matos citou que, em 2024, o custo investido pelos hospitais no atendimento aos assegurados será maior do que o pago pelo instituto. “O que teremos é uma margem de 9% a 10% negativo. Atualmente, os hospitais não possuem condições de seguirem trabalhando com o IPE Saúde”, completou.
O diretor geral da Santa Casa de Porto Alegre citou a falta de negociação por parte do IPE Saúde para que as tabelas também atendessem à necessidade dos hospitais. “Tivemos inúmeras reuniões, todas com diálogos impositivos. Fizeram uma gambiarra para compor o valor da nova tabela, mas, ainda assim, fica deficitário. Não há do outro lado nenhum senso de humanidade. Lamentamos profundamente esta decisão”, finalizou.
Os representantes dos hospitais presentes na reunião afirmaram ainda que vão recorrer da liminar que foi suspensa e que os pacientes com atendimento agendado até o dia 6 de maio serão atendidos normalmente, com o cancelamento dos procedimentos a partir desta data. Atendimentos de urgência e emergência não serão afetados.
Entidades da área médica lamentam falta de diálogo do IPE Saúde
Os presidentes do Sindicato Médico do RS (Simers), Marcos Rovinski, do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade, e da Associação Médica do RS (Amrigs), Gerson Junqueira Júnior, também participaram do encontro e destacaram seu lamento. “Me sinto deprimido com o que estou assistindo hoje. O Governo do Estado parece que brinca com a saúde do povo gaúcho. Minha preocupação é com a população e com os médicos, principalmente do interior, que dependem muito da remuneração do IPE Saúde”, falou Rovinski.
Já o presidente do Cremers reiterou que o atendimento à população deve ser prioridade de todos os envolvidos. Ele citou também a preocupação com quase 1 milhão de assegurados do instituto. “Esperamos que o governo ou o IPE Saúde procurem os hospitais para negociar. É uma situação extremamente crítica, mas se chegou realmente a um momento crucial”, afirmou Trindade.
Já o presidente da Amrigs salientou sua aflição com a entrega de uma medicina de qualidade para a população gaúcha. Ele também relembrou um momento de luta da classe em 2023, quando médicos que atendem o IPE Saúde entraram em greve por falta de acordo nas negociações com o instituto. “Nós médicos sempre podemos ajudar e estamos à disposição. Seguimos solidários com as instituições prestadoras de serviços de saúde”, contou.
Hospitais de referência que suspenderão atendimentos a partir de maio
- Hospital Divina Providência (Porto Alegre)
- Hospital Ernesto Dornelles (Porto Alegre)
- Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre)
- Hospital São Lucas (Porto Alegre)
- Santa Casa de Porto Alegre
- Hospital Tacchini (Bento Gonçalves)
- Hospital de Caridade de Cachoeira do Sul
- Hospital Santa Lúcia (Cruz Alta)
- Hospital de Caridade de Erechim
- Hospital Dom João Becker (Gravataí)
- Hospital de Clínicas de Ijuí
- Hospital Bruno Born (Lajeado)
- Hospital de Clínicas de Passo Fundo
- Hospital São Vicente de Paulo (Passo Fundo)
- Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo (Santa Maria)
- Hospital Vida e Saúde (Santa Rosa)
- Hospital Ivan Goulart (São Borja)
- Hospital Sapiranga
Correio do Povo
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