Cemitério Ecumênico João XXIII preserva parte da estrutura do primeiro estádio do Cruzeiro de Porto Alegre
Cemitério mantém arquibancada original do Estádio da MontanhaUm dos pontos mais altos do bairro Medianeira, onde hoje está localizado o Cemitério Ecumênico João XXIII, já abrigou o Estádio da Montanha, a primeira casa do Esporte Clube Cruzeiro (Porto Alegre). Parte da estrutura erguida em 1941 permanece intacta e orna hoje com a construção moderna do segundo maior cemitério vertical do Brasil.
Da estrutura conservada estão o túnel de acesso de jogadores ao campo de futebol, por onde hoje passam os cortejos fúnebres; dois portões de ferro; e parte de um muro e arquibancada, no lado esquerdo do cemitério, que por 30 anos foi destino de milhares de torcedores da cidade e região.
João Luiz Lopes Martins, supervisor operacional do cemitério, é uma das pessoas que zela por essa estrutura. Começou a trabalhar no local há 30 anos, ainda jovem, mas sua ligação é ainda mais antiga. Ainda criança, com 8 anos, ouvia seu pai contar sobre a lida no trabalho: transformar um estádio em cemitério. “Eu acho muito bonito que parte do estádio ainda esteja aqui, pois remonta a uma memória”, conta.
Com capacidade para 20 mil torcedores, o Estádio da Montanha foi construído para ser o maior estádio da região Sul. Acompanhou, em seu auge, a cidade se esparramar e urbanizar, passando pela popularização dos carros e a retirada das linhas de bondes, que ligavam vários pontos da capital gaúcha.
O terreno do estádio foi vendido para a Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul, a ACM-RS no início da década de 70, que logo ergueu um cemitério de três andares para atender a alta demanda por jazigos na época - por conta do acelerado crescimento populacional. Depois, foi ampliado para seis andares, dois elevadores, salas e capelas, e quase 36,5 mil jazigos.
“O maior stadium do Sul do país”
O Estádio da Montanha estreava nas páginas do Correio do Povo em 16 de março de 1941 com a denominação de “stadium mais bonito do sul do paiz”. A estrutura se destacava como a maior ante o Estádio dos Eucaliptos (Estádio Ildo Meneghetti), do Sport Clube Internacional, e o Estádio da Baixada, onde o Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense ficou por meia década. O clube vivia uma era de acontecimentos históricos, dentre eles ser o primeiro time gaúcho e brasileiro a viajar para a Europa e Ásia, em 1953, para jogos amistosos.
No ano seguinte de sua inauguração, o espaço começou a ser usado pela Escola Superior de Educação Física para realização de aulas práticas. A Escola, fundada pelo governo federal, foi incorporada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) em 1960.
A venda do tão sonhado estádio do Cruzeiro ocorreu em 1960, momento em os dirigentes alegaram problemas financeiros no clube. O dinheiro seria usado para construir um novo estádio, agora na avenida Protásio Alves, região que na época era de pouca expansão urbana. As obras não foram concluídas e o terreno foi vendido.
O último jogo realizado na colina aconteceu em oito de novembro de 1970, quando o Cruzeiro venceu o Liverpool, do Uruguai, por 3 a 2.
Com vista para o Olímpico
A história do cemitério também encontra uma ligação com o estádio Olímpico Monumental, propriedade do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, que está desativado desde a conclusão da Arena, em 2012.
A vista para a construção azul e branco faz com que o sexto andar do cemitério seja o lugar mais caro e mais procurado para compra, segundo a diretora do João XXIII, Flávia De Barba. Nele estão os jazigos do jornalista esportivo Paulo Sant’Ana e do artista Túlio Piva.
Outras personalidades também estão enterradas no cemitério: Caio Fernando Abreu, Everaldo Marques da Silva, Flávio Basso, João Gilberto Noll, Luiz Carlos Machado (Escurinho), entre outros.
Correio do Povo
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