domingo, 11 de fevereiro de 2024

ESPARSAS CONSIDERAÇÕES JULGADAS RELEVANTES

 Na atualidade, conspícuos cientistas sociais, não atrelados a ideologias espúrias e impatrióticas, vêm nos alertando para a utilização, amiúde, de três 'ismos': o "Igualitarismo"; o "Coitadismo" e o "Presentismo".

    Quanto ao 1) "Igualitarismo", devido a uma velha e iterativa baldeação ideológica marxista, muitos depreciam a meritocracia e a hierarquia, e desejam, a qualquer custo, igualar-se a quem é melhor preparado. Diga-se, por oportuno, que a CF/88 muito bem acolheu o princípio da ordem hierárquica, no artigo 142, referente ao papel das Forças Armadas, que são "instituições nacionais permanentes e regulares [i. é., regulamentadas por legislação específica, como o Estatuto dos Militares, os regulamentos etc.], organizadas com base na hierarquia e na disciplina" etc.    Em referência ao 2) "Coitadismo", lembremo-nos de que, desafortunadamente no Brasil hodierno, mercê de uma verdadeira e nefasta cruzada desencadeada particularmente pela mídia venal e vendida, somos o "País dos Coitadinhos", para fazermos uma alusão ao excelente livro do saudoso jornalista Emil Farhat, editado com este título, em 1966.  Como é propalado alhures, os brasileiros mais carentes e vulneráveis ('pobres, pretos e prostitutas'), são sempre vítimas da sociedade burguesa opressora...    O 3) "Presentismo" se caracteriza pelo vezo de interpretar-se, de forma ideológica, episódios históricos do passado, sob a atmosfera ou ótica do presente, sem que seja feita, numa visada-à-ré, a imprescindível contextualização. Aduza-se que na atual e hostil conjuntura, críticas muito acerbas são desferidas, máxime a respeito da Contrarrevolução de 31 de março de 1964.    Ainda sobre o Igualitarismo, creio ser da maior importância a transcrição das sábias afirmações de Santo Tomaz de Aquino - o "Doutor Angélico": "É mais merecedor o Mestre que sabe para si e para transmitir, do que o discípulo mais capaz de aprender; o Arquiteto que projeta, do que o artífice mais capaz de executar; o Capitão que traça os planos, do que o soldado mais afoito que os segue. Assim, também, é maior o mérito do bom Chefe, do que o de seus subordinados mais aptos. E quanto maior o Chefe, quanto mais largo o âmbito de suas responsabilidades e de sua missão, tanto maiores hão de ser os seus merecimentos e há de mais crescer a sua recompensa. Porque o Chefe é o Mestre de seus súditos, o Arquiteto dos grandes planos e o Capitão das grandes pelejas".    As Virtudes Militares já foram abordadas, à saciedade, por diversos exegetas de notória competência. Elas são exibidas, há tempos, na bela "Rosa das Virtudes" de nossa Marinha do Brasil, bem como no livrete "Faze Assim... Breviário Moral e Cívico" (contém 148 (!) preceitos educativos direcionados, especialmente, à juventude militar), de autoria do então Capitão de Mar e Guerra Frederico Villar (Biblioteca Militar, 1940). O patriótico autor dedicou a edificante obra à Marinha e "À saudosa memória de seu grande amigo e ilustre Chefe, Almirante Luiz Felippe de Saldanha da Gama, modelo de Perfeição, tipo ideal de Bravura, de Galanteria e de Elegância". Interessante destacar-se o preceito de número primo, " in verbis": "1 - Ama o Brasil acima de tudo na vida e os Brasileiros acima de todos na terra. Venera a tua Pátria e os seus Soldados e Marinheiros" (grifamos). Acrescente-se que o lema da Brigada de Infantaria Paraquedista, do Exército Brasileiro, é "Brasil Acima de Tudo"...    A virtualidade militar da Disciplina merece um especial realce, eis que ela consta do artigo 142 da CF/88, como já referenciamos. No Estatuto dos Militares está insculpido o seguinte conceito: "Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo". O notável historiador militar, heraldista, escritor e dicionarista José Wasth Rodrigues, em seu "Dicionário Histórico-Militar" (composto por 86 (!!) robustos volumes ilustrados), nos ensina: "A Instituição do Exército Permanente é mantida pela Disciplina, que nos vem desde a Antiguidade grega e romana, como a "lei do soldado", consistindo na obediência que o inferior deve prestar ao superior, ou na integral observância dos regulamentos militares". A disciplina militar, apesar de superlativamente coercitiva, deve ser consciente e muito bem compreendida, havendo quem julgue desnecessária, por redundante, a adjetivação "consciente", posto que toda disciplina já o deveria ser. Ela não pode ser "cega", cerceando a iniciativa, essencialmente em combate, bastando que se reporte à participação do general francês Grouchy, em Waterloo, que redundou na derrota de Napoleão. Em nosso País, ao longo da História, houve vários episódios de descumprimento de ordens, como em 1922, ano da fundação, em Niterói, da Seção Brasileira do Partido Comunista da URSS , com a denominação de "Partido Comunista do Brasil'. Naquele ano também foi deflagrada "A Revolta de 1922", primorosamente historiada por meio de um encorpado livro, de igual título, publicado pela Bibliex, em 2022, de autoria do prolífico e incansável historiador e escritor militar, coronel Juvêncio Saldanha Lemos; igualmente ocorreu, em 1922, a "Semana de Arte Moderna" etc. Outrossim, em 1964, ordens absurdas não foram cumpridas, porquanto o sentimento de patriotismo falou mais alto, máxime em três ocasiões dramáticas: na divisa de MG e RJ, às margens do rio Paraibuna, quando 1) a Infantaria Divisionária da 1ª DI, do Rio de Janeiro, então capital do estado da Guanabara, aderiu ao "Destacamento Tiradentes"; 2) quando o GUEs (Grupamento de Unidades Escola), do RJ, se viu impedido de prosseguir pelos cadetes da AMAN, empregados numa Posição Defensiva (PD), pelo comandante da Academia, general  Emílio Garrastazu Médici, nas alturas de Barra Mansa, constituindo a vanguarda do II Exército, ao comando do general Amaury Kruel; e 3) no RS, por ocasião do avanço sobre a capital gaúcha, das 3ª e 6ª DI  (com sedes em Santa Maria e Porto Alegre, sob o comando dos generais Mário Poppe de Figueiredo e Adalberto Pereira dos Santos, respectivamente); o comandante da 6ª DI, general Adalberto, passou a comandar a sua Divisão a partir de Cruz Alta e o governador Ildo Meneghetti transferiu o governo para a cidade de Passo Fundo). Vitoriosos, às 1830 horas, de 3 de abril de 1964, o governador Meneghetti e o comandante da 3ª DI, general Poppe de Figueiredo, entraram, em um jipão militar, escoltados por forte comboio, na cidade de Porto Alegre, tendo o dito general assumido o comando do III Exército. Eis o 'gran finale', o glorioso epílogo do Movimento Cívico-Militar de 31 de março de 1964!! Hosanas!!    Por derradeiro, afirme-se que a disciplina mitar é "prestante", tal como, indignado, mas com ferina zombaria, o derrotado prisioneiro de Roma, general Aníbal, o Cartaginês, exclamou para Formião, um filósofo romano, de quem o general era obrigado a assistir a tediosas aulas sobre a Arte da Guerra. Camões bem descreve, em suas belíssimas rimatas rítmicas, no verso 153, do Canto X, de "Os Lusíadas" , o escárnio do grande chefe militar para com o citado e presunçoso "teórico da guerra" (o general Aníbal formou com Alexandre e Júlio César, a tríade dos maiores generais da Antiguidade Clássica ou Idade Antiga). Eis o mencionado verso, o qual, não sabemos por que, é normalmente transcrito sem a primeira parte, omitindo-se o imortal vulto militar de Cartago, dando a impressão de que os ensinamentos concernentes à Disciplina Militar são de autoria de Luiz Vaz de Camões, o "Poeta-Soldado". Eis a transcrição completa:    " De Formião, filósofo elegante,       Vereis como Aníbal escarnecia       Quando das artes bélicas, diante dele,       Com larga voz tratava e lia.       A disciplina militar prestante,       Não se aprende, Senhor, na fantasia,       Sonhando, imaginando ou estudando,       Senão vendo, tratando e pelejando"
      Coronel de Infantaria e Estado-Maior Manoel Soriano Neto, Historiador Militar e Advogado.

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