Tesouro, cujo valor é estimado em bilhões de dólares, está lá desde junho de 1708
O governo da Colômbia anunciou, nesta sexta-feira, 23, que em abril começará a extração de objetos de 'valor incalculável' que fazem parte do tesouro do galeão espanhol San José, submerso há três séculos no mar do Caribe.
Sete anos após a histórica descoberta do navio afundado ao longo da costa de Cartagena, as autoridades começarão a recuperar as peças debaixo d'água, disse o ministro da Cultura, Juan David Correa, à AFP.
O tesouro, cujo valor é estimado em bilhões de dólares, está lá desde junho de 1708, quando o navio à vela foi emboscado e afundado por um esquadrão inglês .Entre abril e maio, será realizada uma 'exploração de alguns materiais que estão superficialmente no leito' do galeão para ver como reagem ao serem retirados da água e preparar a recuperação do restante dos bens, explicou Correa.
Os trabalhos custarão mais de 4,5 milhões de dólares (22,2 milhões de reais) e serão realizados com um robô que desce até 600 metros de profundidade, onde está o navio. Assim, 'são extraídas sem modificar e sem agredir o pecúlio, algumas coisas que estão lá', como cerâmicas, conchas e pedaços de madeira, acrescentou o ministro em uma entrevista à AFP a bordo do navio ARC Caribe.
Os especialistas trabalharão a partir desse enorme navio da Marinha em um ponto no mar ainda secreto, para não alertar caçadores de tesouros e piratas sobre a localização da descoberta arqueológica, considerada uma das maiores da história colombiana.
O San José naufragou nas águas próximas a esta cidade caribenha turística e ponto chave do comércio entre a América e a Espanha durante a época da colonização, após partir de Portobelo, no Panamá, repleto de vasos, joias, pedras preciosas, ouro, prata e canhões.
Correa não especificou se os metais mais valiosos do tesouro, de 'valor incalculável' e que 'excede qualquer preço monetário', serão extraídos na primeira fase. 'A maioria' dos elementos submersos sofreu uma 'alteração física e química', portanto provavelmente se desmancharão ao sair da água, explicou a capitã Alexandra Chadid, pesquisadora da Marinha,
'Novo paradigma'
Desde que foi localizado em 2015, o galeão tem sido objeto de disputas devido ao alto valor de sua carga de centenas de toneladas. A Espanha reivindicava o carregamento com base em uma convenção da UNESCO da qual a Colômbia não faz parte. Também indígenas bolivianos do povo Qhara Qhara afirmavam que as riquezas foram retiradas de sua terra.
O governo do esquerdista Gustavo Petro, no poder desde 2022, busca retirar o pecúlio do oceano com recursos próprios para contribuir com a ciência e a cultura, à margem de controvérsias relacionadas à distribuição da riqueza. A intenção é 'deixar de considerar que estamos diante de um tesouro pelo qual devemos lutar, como se estivéssemos na era colonial dos piratas que disputavam estes territórios', acrescentou Correa.
O embaixador espanhol em Bogotá, Joaquín de Arístegui afirmou que tem instruções para oferecer à Colômbia um 'acordo bilateral' que leve a um 'novo paradigma' entre os dois países em prol da 'proteção' do galeão.Os representantes indígenas bolivianos em Cartagena expressaram seu apoio ao projeto de Petro. Agora vão propor a devolução de algumas peças à sua nação, 'não só pela questão simbólica, mas mais pela questão espiritual', disse à AFP o líder indígena Samuel Flores. 'Queremos apenas que nossos ancestrais estejam em paz', disse ele.
Litígio
Embora ainda não esteja definido, o governo colombiano projeta que o San José seja acessível ao público por meio de uma exposição virtual com inteligência artificial e que o local onde afundou se torne um destino para pesquisas científicas.
'O mundo pode aprender muitíssimo (...). O galeão é muito interessante do ponto de vista das ideias, da tecnologia, do processo naval, e do ponto de vista humano, porque era habitado por 600 homens', afirmou o arqueólogo português Filipe Castro, da Universidade de Coimbra.
A maior aproximação da aparência do galeão foi uma série de vídeos revelados oficialmente em meados de 2022, filmados por um veículo teleguiado e equipamentos de gravação de alta tecnologia que permitiram ver na escuridão do fundo do mar.
O anúncio do governo sobre o início da extração coincide com uma nova controvérsia, um litígio entre o Estado colombiano e a empresa americana Sea Search Armada perante o Tribunal Permanente de Arbitragem.
A empresa alega ter encontrado o galeão antes, portanto, reivindica direitos sobre 50% do tesouro, cujo valor é estimado em até 20 bilhões de dólares (98 bilhões de reais), segundo a reclamação.Paula Robledo, diretora da Agência Jurídica do Estado colombiano, classificou essa reivindicação de 'grotesca' e 'frívola', e anunciou ações de defesa legal.
AFP e Correio do Povo
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