Primeira solicitação à Prefeitura feita por Paulo Cezar data de 1993
Paulo com o protocolo, batido em máquina de escrever, em 1993O serralheiro Paulo de Oliveira Cezar, morador da rua Dario Totta, bairro Nonoai, zona Sul de Porto Alegre, observava na manhã deste domingo um enorme eucalipto centenário caído sobre a casa e a lavagem de automóveis do vizinho e inquilino, Leonardo Bruno Costa. A queda, durante o temporal devastador de terça para quarta-feira, destruiu ambos. Costa estava na residência, na esquina com a rua Mata Coelho, com os três filhos pequenos, entre eles uma menina de três anos que foi localizada embaixo do pai e foi resgatada cerca de uma hora depois pelo Corpo de Bombeiros.
Ele ficou ferido e está internado no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Fraturou o nariz, a bacia, o fêmur e uma costela, e deverá passar por cirurgia. Enquanto trazia seu relato, Paulo segurava um papel, surrado e com escritos a máquina de escrever, com data de junho de 1993. Trata-se de um protocolo, aberto junto à antiga Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), para autorização de poda da mesma árvore que agora jazia ao chão. Desde então, segundo ele, foi aberta uma solicitação por ano junto à Prefeitura.
Embora o primeiro protocolo aparentemente autorize o corte pelo morador, Paulo julgava que a árvore era grande demais e ele não poderia fazê-lo. Há mais de trinta anos, nenhum das mais de 30 pedidos feitos por ele foi atendido, e o resultado foi a queda do vegetal sobre a família de Costa. O mais recente protocolo encaminhado pelo vizinho é datado de 8 de setembro de 2023, com prazo de execução estimado de 225 dias.
“Eu sempre disse que este eucalipto cairia. A Prefeitura alegava que não tinha caminhão. Eles só sabem cobrar imposto. Tantos prefeitos passaram e eles não vieram arrumar. Poderia ser pior. Graças a Deus que não pegou nenhuma criança, se não, teria acontecido uma tragédia”, lamentou Paulo. Costa foi retirado cerca de 40 minutos depois da filha menor, sendo que os outros dois, de 11 e 13 anos, também estavam em casa.
O do meio sofreu pequenos cortes, e foi correndo à casa da tia, a dona de casa Ana Lúcia da Silva Souza, que mora duas casas adiante, enquanto o maior nada sofreu. A esposa de Costa não estava na residência. “Eu mesma desmaiei quando soube. Os Bombeiros também me resgataram. Quando não vi o eucalipto, pensei no pior. Até agora nem consigo chegar ali”, relatou Ana Lúcia, emocionada. Hoje à tarde, ela visitaria o sobrinho internado.
A raiz da árvore tombada superava a altura do morador, e neste domingo, uma equipe dos Bombeiros esteve no local para o corte do vegetal caído com uma motosserra. O risco agora recai sobre outra árvore, no outro lado da Dario Totta, cujo risco de queda também é iminente. “Falei para meu marido que quero muito me mudar daqui. Agora, só por Deus mesmo”, acrescentou ela.
Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), houve 1,5 mil ocorrências relacionadas a remoção de árvores em Porto Alegre desde o começo do temporal. Procurada para comentar o caso, a SMSUrb, responsável pelas podas, informou que fará o recolhimento do vegetal “nos próximos dias”. “Nossas equipes seguem mobilizadas 24 horas por dia e serão reforçadas para que a cidade volte à normalidade”, disse a pasta, mas não comentou sobre as três décadas de protocolos abertos para a retirada do vegetal.
Outras árvores e postes também perturbavam a circulação neste domingo em Porto Alegre. Na rua Tomaz Flores, bairro Independência, o casal formado pelo administrador Maurício Zottis e a servidora pública Camila de Bruchard havia retornado no sábado do litoral, e se surpreendeu com a queda de outro vegetal bem em frente a sua residência. “Recebíamos informação do meu irmão, que passou aqui e viu isto. Mas não imaginávamos que estaria assim”, comentou Zottis. O local teve o trânsito bloqueado pela EPTC. Na rua Araponga, bairro Três Figueiras, outra árvore despencou sobre o muro e a cerca elétrica de outra casa, e o levantamento da raiz causou um buraco no chão.
Correio do Povo
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