sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Dólar fecha em baixa mesmo com valorização de moedas internacionais

 Alta do petróleo e ingresso de recursos externos praticamente isolaram o real da volatilidade observada no mercado global, dizem operadores

Ibovespa cai 0,15%, aos 130,6 mil, em dia de IPCA e CPI acima do esperado 

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 11, em baixa de 0,34%, cotado a R$ 4,8752, tendo tocado o nível de R$ 4,85 na mínima do dia (R$ 4,8593). Segundo operadores, a alta do petróleo e ingressos de recursos externos praticamente isolaram o real da volatilidade observada no mercado global de moedas, na esteira da leitura um pouco acima do esperado da inflação ao consumidor nos EUA em dezembro. Mesmo em momentos de fortalecimento da moeda americana no exterior em relação a pares, como o euro, e à maioria das divisas emergentes, sobretudo pela manhã, o real mostrou força.

Afora altas pontuais e muito restritas na abertura dos negócios e no início da tarde, quando tocou a casa de R$ 4,89, o dólar operou em baixa por aqui ao longo do dia. Lá fora, o índice DXY subiu pela maior parte do pregão e ensaiou se aproximar dos 103,000 pontos, com máxima aos 102,764 pontos. No fim da tarde, contudo, o Dollar Index perdeu fôlego e passou a trabalhar em leve baixa, alinhado ao comportamento dos Treasuries.

A moeda americana também recuava em relação aos emergentes, com perdas mais fortes (superiores a 0,60%) na comparação com dois pares latino-americanos do real, os pesos chileno e colombiano. Indicador mais aguardado da semana, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,3% em dezembro, levemente acima da expectativa (0,2%). O núcleo - que exclui itens mais voláteis como energia e alimentos - subiu 0,3%, em linha com o esperado.

As leituras anuais do CPI em dezembro vieram acima das expectativas, de alta de 3,2% do índice cheio e de 3,8% do núcleo. Amanhã, sai o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) referente a dezembro.

A leitura do CPI não provocou mudanças significativas nas apostas em relação ao rumo da política monetária americana. Plataforma do CME Group mostra que as chances de um corte inicial de juros pelo Federal Reserve em março permanecem majoritárias, acima de 60%, embora bem abaixo do observado no fim de 2023, quanto chegaram a superar 80%.

Por aqui, o IBGE divulgou pela manhã que o IPCA acelerou de 0,28% em novembro para 0,56% em dezembro, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 0,49%. Houve aumento da difusão e uma leitura mais pressionada de serviços e subjacentes, atribuídas mais a questões sazonais que não alteram a aposta em continuidade do processo de desinflação.

Para o consultor econômico da Remessa Online, André Galhardo, o IPCA de dezembro trouxe algum desconforto e mostrou que os "os riscos inflacionários ainda não foram superados", mas não mudou "a percepção do mercado em relação à condução da política monetária" e aos cortes seguidos da taxa Selic. "É um dado ambíguo e que pode acender um sinal de alerta. Por outro lado, tivemos o cumprimento da meta de inflação depois de dois anos de estouro (2021 e 2022)", afirma Galhardo, que projeta IPCA de 3,9% em 2024. "Com a taxa Selic entre 9,5% e 9,75% no fim do ano, ainda em campo restritivo, vamos ter uma taxa de juro real elevada que beneficia o câmbio. Meu cenário básico é de continuidade do processo de valorização do real e dólar em R$ 4,50".

Ibovespa

Divulgados pela manhã, os dados mais aguardados da semana - referentes às taxas de inflação nos EUA e no Brasil em dezembro - vieram acima do esperado, resultando em enfraquecimento adicional do apetite por risco nesta penúltima sessão da semana, em início de ano no qual o Ibovespa tem acumulado perdas. Do meio para o fim da tarde, contudo, o ajuste negativo da sessão se limitou a 0,15%, aos 130.648,75 pontos no encerramento.

Ainda assim, foi a terceira perda consecutiva para o índice, que mais cedo chegou a operar abaixo dos 130 mil pela primeira vez desde 15 de dezembro, no intradia - na mínima, tocou hoje nos 129.897,76 pontos. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 1,04%, após ter cedido 1,61% na primeira do ano, o que coloca a retração a 2,64% em 2024, até esta quinta-feira. O giro subiu a R$ 20,4 bilhões na sessão, em que o índice da B3, no melhor momento, avançou para 131.307,69, saindo de abertura aos 130.841,09 pontos. Na ponta do Ibovespa, destaque para Prio (+2,59%), Sabesp (+2,45%) e Assaí (+2,14%).

No lado oposto, MRV (-11,78%), Casas Bahia (-6,34%) e Petz (-3,21%). Entre as ações de maior liquidez, Petrobras - ainda que a princípio discretamente, como Banco do Brasil (ON +0,68%) e Itaú (PN +0,18%) - figurou entre os poucos nomes a mostrar ganhos, com ON em alta de 1,02% e PN, de 0,85%, no fechamento.

Ao fim, o ajuste nas ações da petrolífera foi compatível à moderação da retomada nos preços da commodity na sessão, com Brent e WTI em alta inferior a 1% no encerramento em Londres e Nova York, respectivamente - mais cedo, subiam cerca de 3%. A melhora observada no desempenho das ações de Petrobras do meio para o fim da tarde, concomitante à virada de Vale ao positivo (ON +0,53% no fechamento), foi decisiva para moderar as perdas do Ibovespa na sessão, em que nomes do setor de utilities, especialmente Eletrobras (ON +1,05% PNB +1,37%), também foram bem.

A Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Eletrobras para incorporar Furnas, que havia sido suspensa em 29 de dezembro, foi retomada às 15h desta quinta-feira, 11, informaram fontes à jornalista Denise Luna, do Broadcast, no Rio. Os acionistas foram avisados 15 minutos antes da abertura da AGE. De acordo com as fontes, já havia votos suficientes para aprovar a incorporação da subsidiária Furnas ao capital da Eletrobras - aprovação que, ao fim, foi confirmada.

No mercado de petróleo, a sessão foi marcada por retomada de temores geopolíticos no Oriente Médio, que se impuseram à percepção de enfraquecimento da demanda pela commodity. Forças navais iranianas apreenderam hoje um petroleiro no Golfo de Omã que já foi alvo de conflitos com os Estados Unidos, disseram autoridades, agravando as tensões nas rotas marítimas do Oriente Médio. A agência estatal IRNA informou que a marinha iraniana apreendeu o navio, cumprindo ordem judicial. O navio St. Nikolas, anteriormente chamado de Suez Rajan, esteve envolvido em disputa que durou um ano, depois do Departamento de Justiça dos EUA ter apreendido 1 milhão de barris de petróleo iraniano. Hoje, o navio pertence a uma empresa grega. Horas depois de homens armados terem feito a apreensão, a TV estatal iraniana disse que "o petroleiro infrator Suez Rajan roubou petróleo iraniano e o levou aos americanos."

Para além do cenário geopolítico, a agenda do dia trouxe leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos que contribuiu para manter viva a noção de que os juros do Federal Reserve podem não cair tanto quanto tem sido estimado para 2024, e que os cortes podem demorar um pouco mais para começar no ano: uma indefinição que resultou em leves ajustes para os índices de Nova York na sessão, com Dow Jones em alta de 0,04%, Nasdaq, sem variação, e baixa de 0,07% para o S&P 500.

No Brasil, a leitura do IPCA em dezembro veio acima do esperado, mas ficou dentro do teto da meta para 2023 - um cumprimento anual que não ocorria desde 2020. "O IPCA de dezembro veio acima do esperado, e fechou o ano um pouco acima do que se vinha projetando nos últimos meses. Mas se compararmos ao que era esperado lá no início de 2023, com a cabeça que se tinha um ano atrás, o índice fechou dentro da meta, e bem", diz Bernard Faust, operador de renda variável da One Investimentos. Ele ressalva que a aceleração do IPCA pode resultar em alguma preocupação, e volatilidade para a curva de juros doméstica, no momento em que o CPI nos EUA ainda mostra força, também acima do esperado na leitura de dezembro.

No Brasil, "a divulgação do índice de dezembro traz informações qualitativamente e quantitativamente piores do que o precificado pelo mercado para o IPCA. Ainda se trata de algo preliminar para cravar que o processo desinflacionário começa a apontar mudança de ritmo, mas é inegável que hoje tivemos um primeiro ponto nesse sentido", observa Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. "O IPCA-15 prévia da inflação oficial do mês também trouxe informações altistas em itens cuja variação se repete na divulgação do IPCA - ou seja, parte relevante da piora na perspectiva inflacionária já estava incorporada na divulgação de hoje, e o índice se mostrou ainda pior que o esperado", acrescenta o economista.

Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, "apesar de o IPCA de dezembro ser resultado de choques pontuais, serve de advertência de como é desafiadora a tarefa de convergir a inflação para o patamar em torno de 4,0% que projetamos para 2024". "A reversão do choque favorável de alimentos, a diminuição do efeito da deflação dos bens industriais e a manutenção do mercado de trabalho aquecido são fatores que demandam cautela na condução da política monetária, em especial num ambiente de continuidade de crescimento real de gastos", acrescenta Costa.

Juros

Os juros futuros caíram levemente ao longo da curva, acompanhando o comportamento das taxas americanas. Números mais fortes de inflação, aqui e nos Estados Unidos, não impediram o fechamento das curvas hoje. O mercado continuou apostando na redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já em março.

A taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025, mais negociado do dia, fechou em 10,115% - mais de 0,02 ponto porcentual menor do que os 10,138% do ajuste anterior. Também em relação aos ajustes, caíram os juros dos DIs para janeiro de 2026 (9,795% para 9,730%), 2027 (9,906% para 9,845%) e 2029 (10,280% para 10,210%).

Nos EUA, o juro da T-Note de dois anos caiu de 4,354% para 4,266% e o do papel de dez anos, de 4,043% para 3,977% - abaixo da marca psicológica de 4%. A curva futura do país embutia quase 71% de chance de um corte de 0,25 ponto porcentual dos juros em março, mesmo nível de ontem, segundo a ferramenta do CME Group. Dados mais fortes de inflação, lá e aqui, foram o destaque da sessão.

O índice de preços ao consumidor americano subiu 0,3% em dezembro, mais do que indicava a mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 0,2%. Mas o núcleo do índice ficou em linha com o esperado, com uma alta de 0,3%. Aqui, o IBGE informou que o IPCA acelerou de 0,28% em novembro para 0,56% em dezembro, também acima do consenso de 0,49%. A média dos núcleos de inflação e os serviços subjacentes, acompanhados de perto pelo Banco Central para calibrar a política monetária, também ficaram acima das expectativas.

"A surpresa do IPCA hoje teve uma parte sazonal, concentrada em alimentos, mas não é um quadro tranquilo, que você possa atribuir a um choque", afirma o economista da Terra Investimentos Homero Guizzo. "A explicação para essa queda dos juros aqui é que o mercado local acabou mimetizando o movimento dos juros nos EUA." Nas contas do economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, a curva de juros precificava, no fim da tarde, uma Selic próxima de 9,45% no fim do ano - pouco abaixo dos 9,55% vistos após a divulgação do IPCA. A precificação indica corte de 0,5 ponto na Selic em janeiro e cerca de 10% de chance de desaceleração a 0,25 ponto em março e maio.

O gerente de renda fixa e distribuição de fundos da Nova Futura Investimentos, André Alírio, afirma que os números de inflação não mudaram o cenário do mercado. Por enquanto, ele diz, a tendência é que o comportamento dos juros permaneça marcado por um otimismo cauteloso, acompanhando de perto os Estados Unidos. "Talvez as expectativas mais otimistas que foram pintadas até o fim de dezembro, quando tivemos aquele rali, não se confirmem. Mas a probabilidade de corte dos juros ainda é grande. Devemos continuar no mesmo ritmo aqui e aguardar o que o Fed vai fazer para ver o espaço", afirma Alírio.

Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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