Na Europa, a Espanha é um dos destinos favoritos dos cubanos, devido a lei que permite que descendentes obtenham a nacionalidade
Cubanos fazem fila para entrar na embaixada espanhola em Havana em 9 de janeiro de 2024Elsa resistiu a deixar Cuba, até que as oportunidades acabaram e ela decidiu se somar, em 2023, ao êxodo de cubanos, que, em dois anos, alcançou níveis recordes. Uma sangria sem precedentes desde o início da Revolução em 1959 e motivada pela grave crise econômica da ilha.
Em meio a uma inflação galopante, do colapso da produção agrícola e de uma lenta recuperação do turismo em seu país, a jovem de 30 anos partiu em agosto desiludida pela rápida deterioração da situação econômica.
"Era muito difícil resolver e saciar as necessidades básicas, não havia nada, o tema dos apagões era insuportável e o da comida, o preço do dólar" subia sem parar, disse à AFP essa comerciante autônoma de Miami, aonde chegou em novembro.
Como muito de seus compatriotas, Elsa voou até Manágua e de lá percorreu um perigoso caminho de cerca de 3.000 km até chegar à fronteira dos Estados Unidos.
No sábado, a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos revelou que em 2023 registrou mais de 153.000 entradas irregulares de cubanos ao país. Outros 67.000 voaram diretamente ao território americano graças ao programa conhecido como Parole, implementado há um ano pela administração de Joe Biden.
Juntamente com os mais de 313.000 que entraram sem documentos em 2022, isso "representa o maior número de migrantes cubanos já registrado em dois anos corridos desde o começo do êxodo cubano pós-revolucionário em 1959", disse Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade Internacional da Flórida.
Em dois anos, pelo menos 533.000 cubanos chegaram aos Estados Unidos, um número equivalente a 4,8% dos 11,1 milhões de habitantes da ilha. Isso sem contar as entradas com outros tipos de vistos sobre as quais não há números oficiais disponíveis.
"Uma perda substancial"
Apenas a onda migratória de Mariel supera esta. Na década de 1980, 130.000 cubanos deixaram o país, seguida pelos "balseros" em 1994 com 35.000 e a fuga por razões políticas entre 1960 e 1963 de 300.000 no início da revolução.
Nesses dois anos, "muitos jovens com níveis educacionais e ocupacionais elevados" se foram, o que representa uma perda substancial de recursos humanos" para Cuba, que tem uma das populações mais envelhecidas da região, acrescenta Duany.
América Latina e Europa também são destino de dezenas de milhares de cubanos. No entanto, não há um número oficial global.
Por exemplo, 36.574 cubanos pediram refúgio no México entre 2022 e 2023, enquanto pelo menos 22.000 entraram no Uruguai e centenas chegaram ao Chile, segundo números oficiais desses três países consultados pela AFP.
Rabidel Peña, um carpinteiro de 28 anos, voou em abril de Havana para Georgetown, na Guiana, que não exige visto para cubanos. Depois cruzou o Brasil e foi para a Bolívia, por onde entrou ilegalmente no Chile em maio.
"Aqui há de tudo. Alguém, trabalhando dignamente, vive bem", disse à AFP em Valparaíso, no centro do Chile, onde trabalha na construção civil ainda sem documentos migratórios.
"Intolerância"
A enorme saída começou em novembro de 2021, quando a Nicarágua, um aliado de Cuba, eliminou a necessidade de visto para cubanos. Uma válvula de escape para a ilha afundada em sua pior crise econômica em três décadas.
Em 2023, disparou também um incomum tráfego de voos fretados carregados de migrantes cubanos para Manágua, um fenômeno que levou Washington a sancionar em novembro essas empresas aéreas.
Na Europa, a Espanha é um dos destinos favoritos dos cubanos, em especial depois da aprovação em 2022 da chamada lei de netos, que permite que descendentes de espanhóis obtenham a nacionalidade.
Marco Antonio Nápoles Álvarez, um garçom de 24 anos da província de Holguín, espera viajar para Madri em março com sua irmã, após obter seu passaporte espanhol.
"Temos pensado em nos instalar por lá e ver se nos saímos bem", disse na saída da embaixada com o passaporte espanhol na mão.
Raúl Bonachea, um dramaturgo de 35 anos, permaneceu em Madri em setembro com um visto de residência artística.
"Foi a oportunidade que tive para sair", disse à AFP, reclamando de que na ilha precisava ter até seis empregos para cobrir os gastos básicos e decepcionado com a "intolerância" em seu país governado pelo Partido Comunista de Cuba (PCC), o único do país.
Ele disse ter tido censurada sua obra, "Ifigenia", um clássico que ele reinterpretou com o tema da migração.
AFP e Correio do Povo
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