Aumento dos preços de commodities também favoreceu a divisa brasileira
O dólar caiu 0,66% em relação ao real no segmento à vista, a R$ 4,9048, o menor nível desde 6 de dezembro. Segundo operadores, a baixa da moeda americana reflete um movimento de realização dos lucros, amparado pelo maior apetite global por risco. O aumento dos preços de commodities também favoreceu a divisa brasileira, com fluxo positivo para o País, segundo profissionais.
A divisa americana ficou próxima da estabilidade em relação ao real durante a maior parte da manhã, quando chegou a tocar a máxima de R$ 4,9513 (+0,29%), puxada pela demanda corporativa para remessas ao exterior.
À tarde, passou a cair, até a mínima de R$ 4,8930 (-0,90%), sincronizada com a aceleração do ritmo de ganhos do Ibovespa, que renovou hoje a máxima histórica no fechamento, aos 131.083,82 pontos.
"Com as commodities puxando, vimos ações como Petrobras e Vale subindo e sustentando o Ibovespa, trazendo bastante fluxo para o Brasil", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Com altas do petróleo entre 1,44% (WTI) e 1,83% (Brent), Petrobras ON ganhou 2,05% e Petrobras PN, 1,24%. Vale ON subiu 0,47%, ignorando a queda de 1,59% do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China.
O real teve hoje um desempenho mais positivo do que o de pares emergentes. O dólar fechou o dia em queda mais moderada, de 0,31%, na comparação com o peso mexicano e subiu 1,35% ante o rand sul-africano. E ficou mais próximo da estabilidade em relação a moedas de outros exportadores de commodities, como os dólares australiano (0,00%) e neozelandês (-0,03%).
O índice DXY, que mede o comportamento da divisa americana ante seis moedas fortes, subia 0,01% às 18h14. Segundo o especialista de câmbio da Manchester Investimentos Thiago Avallone, a queda do dólar reflete um movimento de correção, devido às altas das últimas duas sessões. Ele lembra que a agenda do governo no Congresso andou mais do que se esperava na semana passada, inclusive com a aprovação da reforma tributária e da medida provisória da subvenção de ICMS. Isso, ele diz, mostra um ambiente interno mais favorável.
"Parece que tivemos um movimento de correção nesta tarde, depois do dólar ter subido na semana passada mesmo com o andamento mais fluido da agenda do governo", afirma Avallone. "A alta do petróleo também favorece a queda do dólar, porque o Brasil é exportador de commodities e existe uma demanda mundial muito forte. A valorização do real reflete a entrada de moeda estrangeira para cumprir com essas exportações."
O diretor da corretora de câmbio Correparti, Jefferson Rugik, atribui a queda do dólar ante o real a um ajuste de posições. Ele destaca que o ambiente de procura global por risco, que levou a ganhos também das bolsas de Nova York, favoreceu um movimento de realização dos lucros com a moeda americana. Isso, diz o profissional, ainda reflete os sinais mais dovish do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na semana passada. "A nossa Bolsa está valorizada hoje, as bolsas lá de fora trabalharam à procura de riscos, foi esse ajuste", afirma Rugik.
Ibovespa
O Ibovespa renovou máxima histórica de fechamento nesta segunda-feira, 18, aos 131.083,82 pontos, em alta de 0,68% na sessão. Hoje, oscilou dos 130.198,41 aos 131.447,26, saindo de abertura aos 130.202,35 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 22,6 bilhões nesta segunda-feira, bem mais acomodado do que na sessões anteriores.
No mês, o Ibovespa avança 2,95%, colocando o ganho do ano a 19,46%. Com agenda relativamente esvaziada nesta primeira sessão da semana, a alta em torno de 2% para o petróleo - após novo ataque de rebeldes do Iêmen a navio no Mar Vermelho, importante via de escoamento do petróleo do Oriente Médio - deu suporte às ações de Petrobras, que fecharam o dia com ganho de 2,05% (ON) e 1,24% (PN). Assim como para os grandes bancos, o dia foi positivo também para Vale (ON +0,47%) e para o setor metálico (Gerdau PN +1,33%, CSN ON +2,77%), apesar da queda de 1,59% do minério de ferro em Dalian (China). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Alpargatas (+6,36%), Braskem (+4,37%) e PetroRecôncavo (+3,75%), com Casas Bahia (-8,33%), Rumo (-2,67%) e Klabin (-2,32%) no lado oposto.
"Eventos econômicos importantes passaram e o mercado começa a diminuir liquidez. O dia foi de movimentações mais contidas, e o petróleo ajudou, com o setor de energia segurando o índice na sessão, assim como o metálico, apesar da queda do minério", diz Pedro Canto, analista da CM Capital, destacando também a "puxada" do setor financeiro, o de maior peso no índice, ao longo da tarde. A agenda volta a ganhar algum dinamismo amanhã, com a ata da última reunião do Copom no ano, de que se espera sinais adicionais da autoridade monetária sobre a perspectiva para a Selic, após comunicado da quarta-feira passada em que manteve a indicação de que a taxa de juros de referência continuará a cair ao ritmo de meio ponto porcentual nas próximas reuniões.
"A agenda de hoje foi bem fraca e o que ainda movimentou o mercado foi a inércia que vem da semana passada, com a sinalização dada pelo Fed quanto à possibilidade de corte de juros antes do que se pensava para os Estados Unidos", diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, chamando atenção para o fechamento da curva de juros futuros doméstica. Serra destaca também a alta em torno de 2% para o petróleo Brent, que o recoloca na casa de US$ 78 por barril, em recuperação após ter sido negociado recentemente a US$ 73. "A retomada de ataques a embarcações no Mar Vermelho resulta em preocupações quanto ao fornecimento, pressionando as cotações para cima", acrescenta.
O grupo armado Houthi, do Iêmen, afirmou hoje garantir que todos os navios - exceto os israelenses - que se dirigem a portos da região e de lá saem para outros portos do mundo estarão seguros, e que devem manter os dispositivos de identificação abertos. Pela rede X, o porta-voz da ala militar da milícia, Yahya Saree, fez as afirmações após ataques do grupo no Mar Vermelho, o que resultou em temores sobre o trânsito de navios na região, e também em alteração de rotas.
Juros
Os juros futuros fecharam a segunda-feira, 18, perto da estabilidade. A alta das taxas perdeu força durante a tarde, descolando as taxas da pressão das curvas globais, que hoje abriram.
O apetite por ativos brasileiros se impôs ante às novas tentativas de dirigentes do Federal Reserve de esfriar a empolgação quanto ao ciclo de corte de juros nos EUA, que estimularam uma correção dos yields dos Treasuries. A curva local acompanhou com certa distância, dado o espaço para uma realização de lucros após a queima de prêmios registrada na semana passada.
Os juros curtos tocaram mínimas à tarde, com apostas na suavização do tom da ata do Copom amanhã. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,05%, de 10,07% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 ficou em 9,64%, de 9,66% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,74% (mínima), de 9,75%, e a do DI para janeiro de 2029 fechou estável em 10,18%.
O sinal de alta que prevaleceu nos juros dos Treasuries serviu de referência para as taxas longas em boa parte do dia, ainda que não na mesma intensidade, enquanto os demais prazos resistiam em partir para uma realização antes da divulgação da ata do Copom amanhã. No fim da tarde, apostas num tom mais suave do documento em relação ao comunicado levaram as taxas curtas para as mínimas.
"Temos ainda uma correção nas curvas em geral, que haviam fechado bastante após a mensagem do Fed e agora alguns dirigentes veem necessidade de corrigir as expectativas de redução de juros no primeiro semestre", avalia André Alírio, gerente de Renda Fixa e Distribuição de Fundos da Nova Futura Investimentos. Após os presidentes de distritais John Williams (Nova York) e Raphael Bostic (Atlanta) terem na semana passada alertado sobre o excesso de otimismo, hoje os discursos dos presidentes da distritais de Chicago, Austan Goolsbee, e Cleveland, Loretta Mester, foram pelo mesmo caminho.
No fim da tarde, o retorno da T-Note de dez anos subia a 3,95%. Apesar das declarações, as apostas para o juro americano seguem majoritariamente (70% de chance) sendo de que o Federal Reserve vai abrir o processo de alívio em março, segundo a ferramenta do CME Group, que indicava ainda 36% de probabilidade de uma queda de total de 150 pontos-base ao longo do ano que vem. Por isso, o ajuste tanto aqui quanto lá foi moderado. Na curva local, outro fator que contribuiu para limitar o movimento de realização é a melhora da percepção fiscal após o avanço da agenda econômica nos últimos dias.
Nesse contexto, o Brasil tem atraído fluxo externo em grande volume. "A tendência natural da curva neste rali de fim de ano é de queda, com correções isoladas", diz Alírio. Ele alerta, porém, que nas próximas duas semanas até o encerramento de 2023 o giro de contratos deve ficar cada vez mais escasso, como já foi visto hoje.
"O grosso das posições já foi feito e alocações mais importantes agora devem ficar para 2024." Sobre a ata do Copom, amanhã, o mercado espera pelos detalhes sobre o plano de voo do Banco Central para a Selic. No comunicado, os diretores buscaram firmar a ideia de novos cortes de 0,50 ponto na taxa e com isso cresceram as apostas num ciclo mais longo, que possa levar o juro básico até 9%, em sintonia com a percepção de um Fed mais dovish no ano que vem.
Estadão Conteúdo e Correio do Povo
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