terça-feira, 19 de dezembro de 2023

COMUNISTA, GRAÇAS A DEUS.

 .

(por Maynard Marques de Santa Rosa)

“Sou comunista, graças a Deus. Sigo o que Lênin recomenda.”

Foi o que declarou, expressamente, o ministro recém-aprovado pelo Senado

para integrar a suprema corte.

Mas, quem foi Lênin? O menchevique Alexander Potresov, em 1927, resumiu

em uma frase: “Foi um gênio do mal”. E o historiador Dmitri Volkogonov, debruçado

nos arquivos secretos, após o colapso da União soviética, assim respondeu: “Foi

homem de uma só dimensão. Parece ter amado uma única coisa: o poder”.

Lênin voltou à Rússia em abril de 1917, “plantado” pelo inimigo alemão para

destruir o seu país. “A liderança bolchevique foi comprada pelos alemães. Foram mais

de 50 milhões de marcos-ouro. O resultado disso foi o Tratado de Brest-Litovsk” (pág.

21 e 22). Naturalmente, foi poupado do estigma de traidor pela narrativa histórica.

A ideia de implantar o terror como método de governança também foi sua.

Para isso, criou a malfadada Cheka e instituiu os seksots, uma comunidade de

colaboradores oficiosos que chegaria a 11 milhões, no ano da morte de Stalin. O

Politburo e o Comitê Central, criaturas institucionais da sua lavra, “assumiram uma

nova forma de absolutismo ideológico e político, que controlava cada aspecto da

atividade pública e estatal” (pág. 64).

Revolucionário messiânico, a propaganda o transformou no profeta

predestinado, e o leninismo, na religião estatal dos ateus. “Os mitos sobre ele foram

fabricados, e sua canonização virou política estatal”.

Na contabilidade macabra apurada pelo autor de “Os Sete Chefes do

Império Soviético”, cerca de um terço da população cossaca foi exterminado por

ordem de Lênin, e os leninistas foram responsáveis pela perda de 13 milhões de

vidas na guerra civil (pág. 67). Portanto, uma personalidade genocida.

No seu final, Lênin teve um desfecho pessoal compatível com a sua obra. Após

quatro derrames, faleceu aos 53 anos de idade, em 1924, mas não sem ter amargado,

em vida e impotente, à usurpação do seu poder. Stalin chegou a redigir uma nota ao

Politburo, dizendo que ele implorava por uma dose letal de cianeto de potássio. “A

esposa, Krupskaya, insistiu para que o desejo de Ilyich não fosse recusado. Ela própria

tentou administrar, pessoalmente, a dose ao marido, mas perdeu a coragem” (pág. 60).

Volkogonov concluiu: “Não foram seus escritos, mas sua capacidade de

converter o conceito de Marx da luta de classes numa ferramenta para a conquista

do poder – seu objetivo principal –, que fez de Lênin um gigante da história”(pág. 74).

A sessão que aprovou a indicação de Flávio Dino representou uma encenação

parlamentar de resultado combinado, o que evoca a necessidade de revitalização e

ampliação da Operação Lava-Jato como programa nacional de combate à corrupção.

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Como os métodos leninistas de ação direta não são mais aplicáveis, é

provável que o novo ministro venha a reforçar a ala gramscista da Corte, em seu

propósito “iluminista”, nos termos anunciados pelo próprio presidente do STF.

O ato jurídico que liberou o condenado pelo mais notório processo de

corrupção da história do país, aproveitando o clima paralisante da pandemia e o

sofisma de um argumento acessório, foi uma ousadia de índole leninista, uma

afronta direta à ordem tradicional e à opinião pública.

Após a aprovação de Dino, o presidente declarou, eufórico: “Vocês não sabem

como estou feliz, hoje. Pela primeira vez, na história deste país, nós conseguimos

colocar na Suprema Corte um ministro comunista”. Palavras partidas dele “são

apenas palavras, nada mais que palavras”, na mais pura acepção de Shakespeare.

No entanto, desde que se formou o vácuo da omissão militar, após os

infaustos de 8 de janeiro, passou a tomar corpo uma sanha reformadora de iniciativa

dos partidos radicais, do governo e do próprio Judiciário, que avança com ousadia

insana, com a conivência do Legislativo e a indecisão do Ministério Público,

pressionando os limites constitucionais.

Já está em pleno vigor a ordem ditatorial de um sistema difuso, onde não se

personaliza o ditador, mas as garantias de liberdade estão relativizadas. Instalou-se

o medo. O direito de propriedade está ameaçado. E o risco da tirania se aproxima.

Se de fato as palavras do presidente representarem uma intenção, é preciso

despertar o país, porque o Brasil não merece passar pela tragédia comunista. 

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