Estatal deve voltar a entregar produtos em seis meses, diz presidente
Fábrica criada em 2008 pelo Governo Federal fica em Porto AlegreCriado em Porto Alegre em 2008, no primeiro governo Lula, e extinto em 2020, por Bolsonaro, o Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) passa por processo de retomada. A liquidação da estatal foi revertida pelo governo federal e a movimentação na fábrica voltou após dois anos e oito meses de paralisação.
O Ceitec foi desenvolvido, para tirar o Brasil do atraso na área de microtecnologia e ser a primeira fábrica de chips da América do Sul. O governo federal extinguiu a empresa por entender que a estatal recebeu investimentos de cerca de R$ 1 bilhão ao longo dos anos e não engrenou.
A fábrica ficou dois anos e oito meses sem funcionar, mas, de acordo com o gestor, a estrutura está operacional.
Na última sexta-feira, uma assembleia geral determinou o retorno à condição de empresa ativa e indicou os membros dos conselhos Fiscal e de Administração. O Conselho elegeu o presidente, Augusto César Gadelha Vieira, e o diretor administrativo, José Messias de Souza. O novo presidente é professor da UFRJ e acompanhou o processo de criação do Ceitec, quando atuou em uma secretaria do Ministério da Ciência e Tecnologia entre 2002 e 2010.
Nesta terça-feira, o Ceitec recebe a visita da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que conhecerá as instalações e fará a cerimônia de retomada. O Ministério já garantiu investimento de R$ 110 milhões para a retomada.
Ceitec deve contratar 50 profissionais para retomada
Dos 180 funcionários que constavam no quadro, 110 foram demitidos no processo de liquidação. Para a retomada, a Ceitec deve contratar cerca de 50. Gadelha explica que as contratações serão feitas de acordo com a necessidade da fábrica e que deve ser adotado um modo de contratação temporária.
Gadelha afirma que o trabalho já foi retomado e que, em cerca de seis meses, a fábrica já deve estar fabricando alguns produtos. “Vamos poder fazer alguns produtor que já temos capacidade e propriedade intelectual preparados, que tínhamos do passado. Precisamos de seis meses para recuperar a capacidade da fábrica.”
Já a fabricação de chips depende de transferência de tecnologia e know-how (conhecimento especializado). Segundo Gadelha, antes da extinção, havia parceria bastante adiantada com uma empresa alemã, que foi encerrada. Agora, a estatal busca novos parceiros. “Queremos em dois anos começar a produzir os chips”, estima.
“É o petróleo deste século”
Gadelha destaca que os semicondutores são hoje um elemento fundamental para o processo de industrialização do país e para o dia a dia das pessoas.
“Qualquer coisa que utilizamos usa grande quantidade de chips, que são elementos feitos em material semicondutor. Nosso celular são vários chips. Tudo que você usa no mundo hoje tem chips e material semicondutor. O semicondutor é o petróleo deste século. O que o petróleo representou para a industrialização e para a riqueza do mundo no século passado, o chip representa para este século.”
O gestor explica que a produção dos chips ocorre em três etapas. O projeto, ou design, onde se determina as funcionalidades do chip e é feito o projeto do circuito eletrônico no computador.
Em seguida, ocorre a fabricação do chip em si, com a injeção de partículas em uma lâmina de material semicondutor. Por fim, o encapsulamento, geralmente em plástico, para que ele se torne resistente.
Atualmente, cerca de 80% da fabricação mundial de chips está concentrada em Taiwan. Já a primeira e a última etapa são realizadas em diversos países.
“O Ceitec não vai competir com Taiwan. Objetivo não é esse. Objetivo é ter capacidade e tecnologia para produzir chips e chegarmos a nichos de mercados que podem ser úteis para o Brasil ter um amadurecimento maior nos seus produtos. Não precisamos ficar dependentes da importação total porque teríamos capacidade de produção.”
Tecnologia de alta complexidade
O presidente pontua que se trata de um setor que envolve tecnologia de alta complexidade e que, em função disso, os processos levam tempo e necessitam de transferência de tecnologia e investimento de médio e longo prazo.
“Em todo o mundo os governos entendem que é necessário investir nesse setor. Essa onda de que o Estado brasileiro não pode gastar recursos para investir neste setor é uma coisa totalmente descabida. Há críticas de que a empresa teve investimento e não deu lucro em dez anos. Nenhuma empresa de semicondutores no mundo deu lucro nos primeiros 15, 20 anos.”
Correio do Povo
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