Objetivo é que o debate passe "do campo do sensacionalismo ao da ciência"
A Nasa anunciou nesta quinta-feira que pretende investigar cientificamente os óvnis, os objetos voadores não identificados, que despertam fascínio ainda que não sejam comprovadamente fenômenos extraterrestres, de acordo com um novo relatório de especialistas na área publicado pela agência espacial norte-americana.
Após meses de trabalho, o documento, elaborado por um grupo de cientistas e especialistas em aeronáutica, recomenda que a Nasa desempenhe no futuro "um papel de liderança" no estudo dos óvnis, que foram renomeados como "fenômenos anômalos não identificados" (UAP, na sigla em inglês).
Simultaneamente, a agência espacial americana anunciou a criação de um cargo de diretor responsável pela investigação destes fenômenos. Inicialmente, não foi revelado quem ocuparia esta posição por medo de assédio, como ocorreu com os 16 autores do relatório. Mas a Nasa acabou revelando o escolhido: será Mark McInerney, que já trabalhava na análise dos fenômenos dentro da agência.
O documento, encomendado em junho pela Nasa a um painel independente, representa "o primeiro passo concreto para investigar seriamente estes acontecimentos inexplicáveis", afirmou em uma entrevista coletiva o diretor da instituição, Bill Nelson. O objetivo é que o debate passe "do campo do sensacionalismo ao da ciência", insistiu.
A Nasa define estes fenômenos como "a observação de eventos no céu que não podem ser identificados cientificamente como um avião ou um fenômeno natural conhecido". Segundo David Spergel, astrofísico que dirige a investigação do grupo de especialistas, a maioria das observações de objetos estranhos são relatadas por pilotos e são consideradas "inexplicáveis".
Muitas vezes acabam sendo "aviões, balões, drones, fenômenos meteorológicos", ou mesmo ligados aos próprios instrumentos de observação, explicou Spergel. Outros seguem sem explicação, em grande parte pela falta de dados precisos sobre cada evento, acrescenta o documento.
De acordo com o informe, a importância de "detectar" estes fenômenos com "sensores múltiplos e bem calibrados é primordial", e a Nasa tem uma vasta "experiência" neste campo, o que poderia ser utilizado como parte de uma "rigorosa campanha de colheita de dados".
O documento ainda recomenda uma maior participação do público em geral, por exemplo, com o desenvolvimento de uma plataforma para reunir vídeos gravados de celulares.
A Nasa recolherá mais dados, inclusive através da observação de cidadãos e pilotos, disse nesta quinta-feira Nicola Fox, administradora associada de ciência da Nasa. "Queremos que os pilotos privados, comerciais e militares saibam que, se virem algo, devem dizê-lo", afirmou.
O objetivo do relatório não era o de analisar fenômenos já observados ou mesmo explicá-los, mas sim formular recomendações sobre como estudá-los no futuro. Os especialistas, que defendem o uso da inteligência artificial na análise de dados, trabalharam a partir de dados públicos, para que a discussão pudesse ser livre e aberta.
A Nasa reforçou a necessidade de transparência neste processo, com o objetivo de combater preconceitos relacionados à expressão 'óvnis'. Spergel mesmo relembrou que atualmente "não se dispõe de provas" que possam confirmar que os fenômenos observados "sejam de origem extraterrestre".
"Tudo o que encontrarmos, diremos", prometeu ele, confessando que "se me perguntarem se acredito que exista vida em um Universo (fora da Terra) tão vasto que me é difícil de conceber, minha resposta pessoal é de quem sim", reforçou ele.
AFP e Correio do Povo
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