sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Tensão da guerra aumenta

 Moscou ganhou uma característica arquitetônica simplória que iria se espalhar por outras capitais da União Soviética.

Jurandir Soares

A capital da Rússia imperial czarista era São Petersburgo. Quando a revolução comunista resultou vitoriosa, em 1917, transferiram a capital para Moscou. E passaram a construir os prédios com uma arquitetura específica, com quatro a cinco andares, sendo que sete prédios se tornaram mais suntuosos, bem mais amplos e altos, para abrigar os ministérios. Moscou ganhou uma característica arquitetônica simplória que iria se espalhar por outras capitais da União Soviética. Com o fim da URSS, em 1991, teve início, um ano depois, a construção de um centro internacional de negócios, que recebeu o nome de Moskva Citi ou Moscow City, numa analogia à City londrina. Ou seja, a área se tornou o símbolo de uma nova Rússia, que queria demonstrar prosperidade. Pois foi exatamente essa área de torres envidraçadas que a Ucrânia escolheu para perturbar e provocar Vladimir Putin. O prédio mais visado foi o IQ-Center, que concentra escritórios de três ministérios russos (Desenvolvimento Econômico, Digital e Indústria e Comércio) além de empresas de tecnologia. É contra alguns desses majestosos prédios de Moscou que estão sendo lançados os drones teleguiados. Dispositivos que não têm causado maiores estragos, a não ser destruição de janelas e algumas partes de escritórios. Mas que tem feito a guerra chegar a Moscou. E atingir o setor financeiro, que é um dos que está mais revoltado com Putin, pois, em consequência da guerra, teve o seu bloqueio no setor financeiro internacional, como decorrência das sanções impostas à Rússia.

Todavia, os aparentemente pouco ofensivos drones ucranianos têm provocado também o fechamento do aeroporto Vnukovo, um dos três que servem a capital do país. Nesta terça-feira, pela segunda vez em três dias, a Ucrânia atacou pontos emblemáticos de Moscou. Não é um avanço de sua contraofensiva, mas é uma forma de fazer os russos verem que a guerra está chegando a Moscou.

Apesar destas fustigações contra a Rússia, a realidade para a Ucrânia não é nada boa. A contraofensiva, iniciada a 4 de junho, ainda não logrou romper as camadas defensivas russas em Zaporízhia, no sul, apesar do emprego maciço de equipamento da Otan. E o país segue perdendo pessoas e bens materiais em função dos contínuos bombardeios por mísseis russos. Aliás, a estratégia que Moscou passou a usar. Como não tem conseguido avançar com seus tanques, a Rússia bombardeia com seus mísseis. E assim segue atingindo cidades ucranianas. Em Kherson, no sul, ao menos duas pessoas morreram em bombardeios oriundos do outro lado do rio Dnipro.

O ataque mais contundente, no entanto, se deu em reação a uma decisão tomada pela Ucrânia nesta semana. Diante da ruptura por Moscou do acordo que permitia a saída de grãos através do Mar Negro, a Ucrânia firmou um acordo com a Croácia para escoar seus produtos através de seu porto no rio Danúbio e depois por porto croata no Adriático.

Pois, nesta quarta-feira, a Rússia bombardeou o porto de Izmail, na região de Odessa, junto ao rio Danúbio que separa a Ucrânia da Romênia. Ou seja, do outro lado do rio onde houve o ataque situa-se um país membro da Otan. O bombardeio destruiu um prédio e dois silos que continham 40 mil toneladas de grãos. Enquanto Moscou demonstrou sua disposição de bloquear a saída dos grãos ucranianos, o presidente Zelensky postou no Telegram: “O mundo tem de responder. Quando portos civis são alvejados, isto é uma ameaça a todos os continentes”.

Mais outro fato ampliou a tensão na região. A mobilização de tropas da Polônia para a fronteira com a Belarus, após acusar a invasão de seu espaço aéreo por dois helicópteros militares de Minsk. A Belarus é vista como uma extensão do território russo, em função da forte aliança entre os presidentes Alekssander Lukachenko e Vladimir Putin. E como se não bastasse, a Rússia anunciou a realização de manobras navais no mar Ártico, a partir de sua base naval de Kaliningrado, um encrave seu situado entre Polônia e Lituânia.

São manobras de rotina envolvendo 6.000 soldados, 30 navios e 20 embarcações de apoio, além de 30 aeronaves. Porém, no atual contexto, qualquer incidente pode fazer com que as manobras deixem de ser de rotina.


Correio do Povo

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