terça-feira, 22 de agosto de 2023

Santos Cruz diz ser "muito difícil" que Cid tenha agido sem conhecimento de Bolsonaro

 Para ex-ministro da Secretaria de Governo, Bolsonaro deveria assumir a responsabilidade sobre os crimes cometidos no esquema de revenda de joias

"Nessa hora, o chefe tem que assumir a sua responsabilidade", afirma ex-ministro de Bolsonaro 

O ex-ministro da Secretaria de Governo, general da reserva do Exército Carlos Alberto Santos Cruz, avaliou que é "muito difícil" que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid tenha vendido as joias destinadas ao acervo da Presidência da República sem o conhecimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo Santos Cruz, Cid não teria omitido e revendido as peças preciosas sem ter ao menos uma "sensação" de que estaria sendo aprovado pelo ex-chefe do Executivo.


"Eu vejo que é muito difícil se imaginar um subordinado tomar determinadas iniciativas sem o conhecimento ou sem a sensação de que está sendo aprovado pelo chefe. Eu acho que ele não sente essa liberdade para tomar certas medidas como a gente está assistindo", disse o ex-ministro.


Segundo o general Santos Cruz, que foi ministro de Bolsonaro entre janeiro e junho de 2019, o ex-presidente deveria assumir a responsabilidade sobre os crimes cometidos no esquema de revenda de joias entregues por comitivas estrangeiras. "Nessa hora, o chefe tem que assumir a sua responsabilidade e não proteger coisas erradas que os subordinados fizeram, mas ele tem que assumir a parcela dele que é extremamente importante por que ela tem consequências muito fortes em toda a escala hierárquica", disse.


Mauro Cid teria vendido joias no exterior

No último dia 11 de agosto, a Polícia Federal deflagrou a Operação Lucas 12:2, que teve como alvo auxiliares de Bolsonaro. Segundo as investigações, eles teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República fora do País. Os itens de luxo deveriam ser incorporadas ao acervo da União, mas foram omitidos do conhecimento dos órgãos públicos, negociados para fins de enriquecimento ilícito e entregues em dinheiro vivo para o ex-chefe do Executivo, conforme a PF.


Mauro Cid teria vendido, também com o auxílio do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, joias no exterior. De acordo com a PF, uma das peças comercializadas pelo ex-ajudante de ordens foi um relógio da marca Rolex, estimado em R$ 300 mil e recebido por Bolsonaro em uma


As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit composto por colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.


Advogado de Cid disse que ele iria confessar crime, mas depois recuou

Na quinta-feira, 17, o advogado de Mauro Cid, Cezar Roberto Bitencourt, disse à revista <i>Veja</i>! que Cid iria confessar a sua participação no esquema de venda de joias e declarou que o seu cliente havia agido a mando de Bolsonaro. Menos de 24 horas depois, em mensagens enviadas à reportagem de <b>Estadão</b>, Bitencourt recuou e disse que não iria "dedurar" o ex-presidente e indicou que a confissão, por ora, não iria ocorrer.


Em outra entrevista ao Estadão, neste domingo, 20, Bitencourt afirmou que dará "20, 30 versões" e que "pode dizer o que quiser". Em outra fala, o advogado admitiu que Cid fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja Bolsonaro. "Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele [Bolsonaro], não vou deixar de usar", disse.


Bolsonaro disse que Cid tinha autonomia

Em uma entrevista exclusiva concedida ao Estadão na última sexta-feira,(18) Bolsonaro negou que tenha mandado o seu ex-ajudante de ordens vender o relógio Rolex no exterior, e disse que Mauro Cid tinha autonomia para vender ilegalmente a peça. O ex-presidente afirmou também que não recebeu nenhum dinheiro proveniente do esquema.


O advogado de Mauro Cid alega que seu cliente vendeu o relógio Rolex e entregou o dinheiro a Bolsonaro. As tratativas sobre a suposta venda da peça estão presentes nos relatórios da PF que coletou trechos de conversas entre Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência. Em um áudio, Cid afirmou que iria entregar 25 mil dólares que, possivelmente, pertenciam ao ex-presidente em "cash".


"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em 'cash' aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o residente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?", afirma Mauro Cid..


Agência Estado e Correio do Povo

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