domingo, 13 de agosto de 2023

A aliança narcotráfico e corrupção

 Além da corrupção, outro mal endêmico, não só do Equador, mas também da América Latina, é o narcotráfico.

Jurandir Soares

Aconteceu nesta quarta-feira no Equador o mesmo que já havia ocorrido em tempos recentes no México e na Colômbia: o assassinato de um candidato à Presidência do país pouco antes da realização do pleito. Aqui no Brasil quase aconteceu o mesmo com Jair Bolsonaro. Fernando Villavicencio, de 59 anos, estava em segundo lugar nas pesquisas, conforme o instituto Cedatos, e foi executado quando saía de um encontro com correligionários em uma escola de Quito. Calou-se ali uma voz que falava forte contra a corrupção no país, um mal endêmico da América Latina.

Villavicencio elegera-se deputado em 2021 e era jornalista investigativo. Conhecia muito o setor petrolífero, pois fora funcionário da Petroequador, quando se tornou líder sindical da Federação dos Trabalhadores Petroleiros (Fetrapec) no fim dos anos 1990. Isto lhe deu base para suas atuações posteriores como jornalista e como deputado. Definia o Equador como um “narcoestado”, propunha restaurar a segurança com as forças armadas e a polícia nas ruas e combater duramente o que chamava de “máfia política” no país. Ele fora eleito por uma aliança de partidos de esquerda e de centro esquerda, mas atuava muito mais como um jornalista investigativo do que como político, pois denunciava tudo que via de errado, não importando o lado político.

Passou a denunciar as negociatas, envolvendo o petróleo do Equador, feitas pelos dirigentes do país. Suas críticas vinham desde os tempos da presidência do esquerdista Rafael Correa, passaram pelo governo de Lenin Moreno e chegaram até o atual mandatário Guillermo Lasso. Rafael Correa vive hoje exilado na rica Bélgica, depois de ter fugido de seu país onde, em abril de 2020, fora condenado a oito anos de prisão, por casos de corrupção durante seu governo (2007-2017). A condenação teve como base uma denúncia da Frente Parlamentar Anticorrupção, liderada por Villavicencio, envolvendo o que ficou conhecido como “petrochina”, uma negociata de Correa com o governo de Pequim. Um dos muitos processos contra ele. Com relação a Lasso, a acusação foi de peculato, por supostamente ter conhecimento de atos ilícitos de funcionários que concederam de maneira fraudulenta a terceiros vários contratos de transporte de petróleo, o principal ativo do Equador. Esta acusação levou o Parlamento a abrir um processo de impeachment do presidente. Para livrar-se do processo, Lasso cometeu o que no Equador é chamado de morte cruzada, ou seja, dissolveu a Assembleia Nacional e deu fim a seu mandato presidencial convocando novas eleições. Estas estão programadas para acontecer no próximo dia 20, em meio ao estado exceção decretado pelo presidente.

Além da corrupção, outro mal endêmico, não só do Equador, mas também da América Latina, é o narcotráfico. As organizações se tornam cada vez mais poderosas, ameaçadoras e corrompedoras. A Colômbia viveu horrores até conseguir se libertar dos cartéis de Cali e de Medellín, este comandado pelo terrível Pablo Escobar. O poder desses dois cartéis se transferiu para o México, onde Los Zetas e Sinaloa não só disputam o controle do narcotráfico no país, como também já estenderam seus tentáculos para outros países. Como no caso do Equador, onde há Los Cocheros e Los Lobos, filiais dos mexicanos. Aqui no Brasil conhecemos bem esses grupos, seus líderes e seu poder. O resultado dessas ações é o aumento significativo da taxa de homicídios nos países da região. E o Equador hoje está com uma taxa de homicídios de 25,9 por cem mil habitantes. Os dados são de 2022 e fornecidos por InSight Crime, Macrotrends e Reuters, que apontam o país com um número superior ao do México, que tem 25,2. A Colômbia, mesmo tendo acabado com os cartéis, ainda sofre com seus reminiscentes e com a guerrilha, fazendo com que o índice seja de 26,1. Diante desse quadro, o Brasil até que não está tão ruim, 18,8 mortes por 100 mil habitantes. Mas o país campeão na América Latina em termos de homicídios é aquele que conseguiu reunir no poder governo, legislativo, judiciário, forças armadas e narcotráfico: a Venezuela, com 40,4. Além do elevado número de assassinatos, tem-se 60% da população vivendo abaixo da linha de pobreza e 7 milhões tendo deixado o país, além da maior inflação da América Latina. E lá, vozes como a de Fernando Villavicencio não conseguem se levantar porque não há liberdade de expressão e de imprensa. Então, o grande desafio dos países da região é não só evitar o avanço da corrupção e do narcotráfico, mas, fundamentalmente, não permitir a aliança que aconteceu na Venezuela. 


Correio do Povo

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