No mesmo dia em que ex-presidente tornou-se inelegível, o petista fez inaugurações e defendeu o combate à pobreza
Felipe Nabinger
Última agenda do presidente Lula no Estado foi uma inauguração no Hospital de ClínicasNo mesmo dia que o TSE tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos, o presidente Lula (PT) fez a sua primeira visita ao Rio Grande do Sul após assumir o Planalto, pela terceira vez e ignorou o ex-adversário. Mesmo assim, durante os dois eventos abertos ao público, em Viamão e em Porto Alegre, os apoiadores citaram aos gritos a atual condição de Bolsonaro.
Apesar de não falar sobre o ex-presidente, Lula fez discursos em defesa da boa política, citando a rivalidade Gre-Nal. Segundo ele, as divergências não podem resultar em brigas. “Se perguntar aqui, metade deve ser Grêmio, metade Internacional. Nem por isso a gente sai do estádio e vai brigar”, afirmou o presidente, que admitiu torcer para o lado vermelho aqui no Estado, mas também revelou seu apreço pelo Tricolor.
“A política é a mesma coisa. Quando eu venho ao Rio Grande do Sul, eu não quero saber o partido do governador ou prefeito. Eu quero saber que ele é um representante legal e eu tenho que manter a relação mais civilizada com ele”.
A fala foi feita na primeira agenda oficial, em Viamão, quando inaugurou casas do programa Minha Casa, Minha Vida. Ao longo de quase oito horas, Lula também almoçou no Palácio Piratini, com Eduardo Leite e ex-governadores, e, no final da tarde, participou de evento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Defesa do SUS e da ciência marca fala de Lula
No último evento, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o presidente Lula inaugurou oficialmente os blocos B e C do complexo, que receberam investimento de R$ 555,5 milhões ainda no governo de Dilma Rousseff (PT).
Após visitar o Centro de Material e Esterilização, referência na América Latina, Lula subiu a um palco na área externa do prédio e, em sua fala, lembrou que era deputado constituinte, com Olívio Dutra (ex-governador do Estado), presente no palco, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado, buscando a universalização da saúde no país.
“Quem já morou nos EUA e outros países da Europa, sabe que não há em país algum plano de saúde com a abrangência do SUS. Precisou acontecer uma desgraça, que foi a pandemia, e de um governo negacionista para que o SUS fosse respeitado nesse país. Morreram 700 mil pessoas, mas poderiam ter morrido mais de um milhão não fosse a dedicação dos profissionais do SUS.”
Em seu discurso, disse que a educação pode trazer a revolução social que o país precisa, afirmando ser possível construir hospitais universitários como o HCPA em outras regiões. Ao citar encontro com reitores de universidades federais, ocorrido neste ano, para retomar investimentos, presentes no público pediram “fora, Bulhões”, em alusão ao atual reitor da Ufrgs, Carlos André Bulhões.
Já no final da sua fala, de cerca de 20 minutos, Lula defendeu a melhoria da qualidade de vida da população. “Voltei porque acho que vamos construir um país do tamanho que a gente quer. Com a cara de vocês, gente vencedora. Precisamos pensar grande. (...) E é esse país que vamos construir”, encerrou.
Antes, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, sem citar Bolsonaro, disse que o país passou por “um longo inverno”, mas que “chegou a primavera” com Lula, ao que parte dos cerca de 2,3 mil funcionários do HCPA presentes no ato respondeu com gritos de “inelegível, inelegível”.
Investimentos para o Rio Grande do Sul
A ministra da Saúde, Nisia Trindade, que não integrava inicialmente a comitiva e que vem enfrentando pressão do chamado Centrão pelo posto no ministério, veio ao RS para assinatura de duas portarias que ampliam os recursos para serviços médicos. Uma aumenta o custeio em serviços de alta complexidade em R$ 165,5 milhões, e outra em R$ 2,4 milhões para oncologia no RS.
“Todos que estão aqui desse lado e a nossa volta estão com o mesmo pensamento. Precisamos reconstruir a saúde e fortalecer os programas que retomamos como o mais médicos, o farmácia popular e a vacinação.” Além dela e de Pimenta, estavam presentes o ministro da Educação, Camilo Santana; da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; das Cidades, Jader Filho.
Apesar dos discursos pregando a união entre esferas políticas, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), foi hostilizado ao discursar. Após dar boas-vindas a Lula e falar que a Capital é acolhedora e respeita as divergências, Melo disse que os prefeitos querem a reforma tributária, mas que ela não pode prejudicar o pobre e os municípios.
Representando o governo, o vice-governador Gabriel Souza (MDB) foi poupado pelos apoiadores de Lula, na comparação com Melo. “Somos reconhecedores do quanto o senhor tem empreendido no restabelecimento das relações federativas”, disse.
“Temos ainda muitos desafios na área da saúde”, disse citando o piso da enfermagem, cobrando da União mais recursos para o cumprimento dessa demanda. Antes do evento, sindicatos realizaram caminhada prometendo greve em caso de não pagamento do piso.
Correio do Povo
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