segunda-feira, 26 de junho de 2023

Mais da metade dos brasileiros que entram na faculdade desistem do curso antes de se formar

 

Custo do ensino e decepção com curso fazem a maioria deixar universidade. (Foto: Divulgação)

Mais da metade (55,5%) dos alunos que entram na faculdade no Brasil desiste dos cursos antes de se formar. Nas áreas de tecnologia, como Ciência da Computação, Design de Games e Sistemas de Informação, que estão entre as que mais empregam, o abandono é ainda maior do que a média: 6 em 10 saem antes de terminar. Os números são do Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp, e o motivo da desistência: frustração com currículos e questões econômicas e de mercado.

“Eles (os ingressantes) querem ter contato com o mundo do trabalho, gerar renda, ser mais independentes e acabam se frustrando com discussões teóricas”, afirma o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato. Pela primeira vez, a pesquisa da entidade, que representa as faculdades privadas em todo o País, mapeou indicadores de trajetória dos alunos e não só evasão informada no primeiro ano.

Depois de TI, as áreas que mais perdem alunos são as engenharias. Do total que ingressou em 2017, 56,3% não terminaram o curso em 2021. Nas universidades privadas, a desistência é ainda maior em todas as áreas. Nas engenharias, chega a 63%; em Direito, o índice é de 54,2%, o mesmo de Pedagogia.

Usando o ano de 2017 como base para ingressantes na faculdade, os dados mostram que 55,5% dos alunos tinham deixado os cursos em 2021 no Brasil. Após cinco anos, apenas 26,3% haviam se formado e outros 18,1% ainda estavam cursando.

Para Capelato, a desistência em cursos de graduação é uma preocupação no mundo todo, pela pouca aderência que o curso superior tem em relação à expectativa dos jovens. Mas o Brasil tem números mais altos, segundo ele, principalmente por questões econômicas. “A pessoa ingressa e não consegue continuar pagando. Ou entra no curso mais barato porque é o que pode pagar, mas não estava vocacionada para aquela área”, afirma. “Muitas vezes quer fazer Arquitetura, mas faz Pedagogia a distância porque é o que cabe no bolso. A chance de se frustrar e desistir é enorme”, diz.

Os números mostram que a desistência é maior em instituições privadas (59%), mas o número é alto até entre as públicas (40,3%), gratuitas e consideradas de excelência no País. Também há maior abandono em cursos feitos a distância (EAD) do que nos presenciais.

Nos últimos anos, o Brasil tem registrado alta significativa de cursos EAD, com preços mais baixos e que atraem principalmente estudantes de baixa renda e levam a questionamentos sobre a qualidade de formação. O aumento da oferta entre 2020 e 2021, segundo o Mapa do Ensino Superior, foi de 26,6% na rede privada, onde estão 92,6% dos cursos não presenciais.

Atualmente, 62,8% dos estudantes que entram no ensino superior brasileiro vão para cursos a distância. A inversão com relação aos cursos presenciais vem desde 2019, e se acelerou com os efeitos da pandemia. A área com menor desistência é Medicina, com cursos caros em universidades privadas e difíceis de entrar, o que faz com que seja uma opção mais refletida. Só 18% dos estudantes de Medicina desistem.

Perspectivas

Para pesquisadores especializados em juventude, recortes precisam ser feitos para que se possa pensar sobre a universidade do futuro no Brasil, país que tem 50 milhões de habitantes na faixa etária de 15 e 29 anos e 8,9 milhões de universitários (segundo o Censo da Educação Superior de 2021).

Paulo Carrano, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que o papel do ensino superior no País está muito vinculado à forma como a educação básica é implementada. “Ela acaba servindo como um ‘plus’ nas chances de empregabilidade, quase que a chance de você se inserir produtivamente. E não deveria ser isso, mas um percurso de aprimoramento, de desenvolvimento, profissional até.”

Ele foi responsável por coordenar a pesquisa Juventudes do Brasil pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI). Publicado em 2021, o levantamento aponta que, embora sejam mais escolarizados que seus pais, os jovens de agora vivem uma situação de insegurança em relação ao trabalho e sentem, por exemplo, mais medo de ficar sem emprego no futuro do que de perder o emprego atual. “É o desafio entre prover para sua família e, ao mesmo tempo, apostar em uma inserção no ensino superior que no futuro pode ou não dar recompensa. A gente tem diante de nós algo que a estatística chama de desemprego de formação, que são pessoas altamente qualificadas que não conseguem colocação no mercado”, afirma.

A educação ocupa o quarto lugar nas preocupações dos ouvidos pela pesquisa. São mencionados fatores como o acesso ainda restrito à educação superior no País, a falta de condições de continuar estudando, a dificuldade de conciliar trabalho e estudo e a falta de garantia de empregabilidade compatível com a escolaridade atingida.

O Sul

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