sábado, 10 de junho de 2023

Ibovespa entra em "zona de alta" e dólar acumula queda de 1,54% na semana

 Moeda norte-americana fechou a sexta-feira cotada a R$ 4,87


Ibovespa computou fortes ganhos na sessão desta sexta-feira a sexta seguida de elevação e a que marcou a entrada do índice em território de "bull market" (mercado de alta). Foi também a sétima subida semanal consecutiva da Bolsa (+3,96%), igualando-se à sequência registrada em dezembro de 2020. Perspectivas de redução em breve da Selic, aposta em pausa no aperto monetário do Federal Reserve e expectativa por estímulos na China apoiaram a nova rodada de compra de ações. Ao fim da sessão, o índice estava em 117.019,48 pontos (+1,33%), mais alta marca de fechamento desde 4 de novembro.

Logo nos primeiros minutos da sessão de hoje, o Ibovespa atingiu o "bull market", ou seja, a valorização de 20% do seu mais recente piso os 96.996,84 pontos, vistos em 23 de março - dia seguinte à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em que o Banco Central endureceu o tom em relação à desancoragem das expectativas e foi alvo de críticas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O mercado acionário brasileiro vem ganhando força nas últimas semanas, à medida que diminuíram incertezas no cenário local e externo. O pessimismo com as primeiras medidas do governo Lula 3 e a retórica do Planalto contra o Banco Central deu lugar à desinflação mais forte do que a projetada, ao andamento célere do arcabouço fiscal no Congresso e à aposta de corte já em agosto da Selic. Lá fora, a crise bancária foi arrefecida com medidas do Fed ao mesmo tempo que a aposta em pouso suave da economia dos Estados Unidos (soft landing) cresceu.

Na quarta-feira da próxima semana, o BC dos EUA decide juros e, após dados de auxílio-desemprego ontem, a chance de uma pausa nas altas é calculada na curva dos Fed Funds em 70%, segundo o CME Group. Na quinta-feira, é a vez de o Banco Central Europeu subir juros. E na madrugada de sexta-feira, o Japão deve deixar inalterada a sua política monetária ultrafrouxa.

Também para a próxima semana, cresceu o otimismo do mercado financeiro sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo. No <b>Termômetro Broadcast Bolsa</b>, 55,56% dos respondentes avaliam que a próxima semana será de alta para o Ibovespa, ante 44,44% na pesquisa anterior. Os que esperam estabilidade são 22,22% e os que acreditam em queda, também 22,22%. Na pesquisa anterior, a expectativa de baixa tinha 11,11% do total e a de variação neutra, 44,44%.

Em termos de liquidez, o Ibovespa teve giro hoje de R$ 29,1 bilhões, acima dos R$ 25 bilhões de média no ano até a quarta-feira, 7. A maior alta do índice foi da Gol (+7,28%) e a maior queda, do Iguatemi (-2,17%). Dos 86 papéis que compõem o indicador acionário, 60 subiram.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 9, em queda de 0,97%, cotado a R$ 4,8763 - abaixo de R$ 4,90 pela primeira vez desde 15 de maio e no menor valor de fechamento desde 7 de junho de 2022. Operadores relataram entrada de fluxo comercial e financeiro, tanto para ações domésticas quanto para a renda fixa. A moda recuou em cinco dos últimos seis pregões e, com baixa de 1,54% na semana, já acumula desvalorização de 3,88% em junho.

O real se beneficiou da onda de apetite ao risco no exterior em meio à perspectiva de interrupção da alta de juros nos EUA no encontro de política monetária Federal Reserve (Fed, o BC americano) na semana que vem e de adoção de estímulos pelo governo chinês. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities subiram em bloco, embora dois pares do real (peso chileno e colombiano) tenham destoado. Referência do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY teve leve alta, com ganhos frente ao iene e ao euro, em um ajuste após a queda de ontem, quando voltou a ser negociado abaixo da linha dos 104,000 pontos.

Ao cenário externo favorável soma-se um pano de fundo doméstico mais positivo, que combina desaceleração da inflação, melhora das expectativas de crescimento e redução do risco de trajetória explosiva do endividamento público, com a tramitação acelerada da proposta de novo arcabouço fiscal no Congresso. Houve também diminuição de ruídos políticos, tendo em vista menor número de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política monetária e sinais de entrosamento entre o ministério da Fazenda e o Banco Central.

O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que, de maneira geral, as divisas de mercados emergentes se valorizaram nos últimos dois dias em razão de uma combinação de indicadores americanos e chineses. O real, que vinha sofrendo mais que seus pares, apresentou hoje, na volta aos negócios, o melhor desempenho entre as moedas emergentes mais relevantes.

"O mercado precifica que Fed manterá taxa de juros inalterada na próxima semana e que a China pode promover mais easing (afrouxamento)", afirma Oliveira, que mantém previsão de que a taxa de câmbio local oscile entre R$ 4,85 e R$ 4,95 nos próximos meses, voltando a se "estabilizar em R$ 5,00 no fim do ano".

Ontem, foi divulgado que os novos pedidos de auxílio desemprego nos EUA, na semana encerrada dia 3, cresceram 28 mil, para 261 mil, bem acima da previsão de analistas, de 240 mil. Já na China houve leitura abaixo do esperado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e deflação do índice de preços ao produtor (PPI), ambos referentes a maio.

O economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, observa que, apesar da surpresa com o aumento de juros pelos bancos centrais do Canadá e da Austrália nesta semana, a perspectiva ainda é de que Fed não anuncie nova elevação da taxa básica americana. "Os dados de novos pedidos de seguro desemprego vieram fortes ontem, quando foi feriado no Brasil. Isso endossa a possibilidade de o Fed fazer uma pausa no aumento de juros na semana que vem, o que ajuda moedas como o real", afirma Galhardo, para quem a tendência ainda é de queda do dólar no mercado doméstico.

Juros

Os juros futuros tiveram forte queda, em especial nos contratos intermediários, que nas mínimas da sessão chegaram a recuar mais de 20 pontos-base. Num dia de agenda e noticiário locais esvaziados, o movimento foi determinado pelo aumento do apetite ao risco no exterior, onde a percepção de que o espaço para aperto de juros em nível global está se fechando alimentou o fluxo para ativos emergentes. A liquidez, contudo, foi abaixo do padrão. De todo modo, a ponta curta já embute probabilidade marginal de que o Copom inaugure o ciclo de corte da Selic em agosto com uma dose de 50 pontos-base. No acumulado da semana, as taxas desabaram de forma generalizada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a 13,02%, menor nível de fechamento desde 22/3/2023 (13,00%), de 13,092% no ajuste de quarta-feira, chegando a tocar 13,00% na mínima. A do DI para janeiro de 2025 terminou a 11,07%, no menor nível desde 7/2/2022 (11,02%), de 11,25% no último ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 10,50% (de 10,64% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,84% (de 10,94%). Na semana, a ponta curta teve alívio em torno de 20 pontos e a intermediária, de 40 pontos. As taxas longas cederam cerca de 25 pontos.

Após o pregão de ajuste na última quarta-feira, quando as taxas curtas tiveram apenas um viés de baixa e as longas subiram, hoje a curva retomou logo cedo sua tendência considerada "natural" de queda, acompanhando os eventos externos e ignorando a abertura da curva dos Treasuries.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, viu hoje no mercado local um "catch up" à reação dos ativos ontem ao forte aumento dos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos na última semana, que ajudou a fortalecer as apostas na manutenção dos juros pelo Federal Reserve na reunião de junho, que tinham sido abaladas com a decisão inesperada do Canadá de apertar sua política monetária. Além disso, ontem à noite saíram dados de inflação na China abaixo do esperado, reforçando a ideia de que a demanda mundial está menor.

"É um cenário de maior desaceleração global que reduz a preocupação com a próxima decisão do Fed. Ao olhar pelo lado do juro, o mercado está precificando o copo meio cheio", comentou. Ele ressalva que a magnitude da queda das taxas hoje pode ter sido amplificada pela liquidez reduzida. De todo modo, é um cenário que atrai fluxo para mercados emergentes, como se vê também no câmbio. O dólar fechou abaixo de R$ 4,90, aos R$ 4,8763.

Com papel determinante na queda da inflação, a ajuda do real valorizado e o recuo nos preços das commodities encorajam o mercado a não só consolidar a expectativa de que a temporada de afrouxamento da Selic começará no Copom de agosto, como agora já aparecem na curva apostas na redução de 50 pontos-base. Segundo Rostagno, os DIs precificam 26 pontos-base de queda, o que representa 4% de chance de um corte de 50 pontos, contra 96% de que a dose seja de 25 pontos. Para setembro, a expectativa de 50 pontos está praticamente consolidada pela precificação de -46 pontos. Para o fim de 2023, a curva projeta taxa de 11,81%.

Para o Copom de junho, precificação é de manutenção nos atuais 13,75%, mas se o BC estiver alinhado com o pensamento do mercado de que em agosto já é possível começar a baixar a Selic, provavelmente este mês fará um ajuste na sua comunicação para deixar a porta aberta para começar a reduzir a taxa.

Agência Estado e Correio do Povo

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