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terça-feira, 27 de junho de 2023

Falhas da Abin e "máfia do Pix"; veja principais pontos do depoimento do ex-chefe da PMDF na CPMI

 Coronel Eduardo Naime é investigado por omissão no 8 de janeiro; ele disse que não recebeu informações sobre manifestações


Em depoimento que durou cerca de seis horas na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro nesta segunda-feira, o coronel Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento Operacional (DOP) da Polícia Militar do Distrito Federal, afirmou que a corporação não recebeu informações sobre a gravidade das manifestações na Praça dos Três Poderes. Naime foi autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a ficar em silêncio, no entanto, decidiu responder às perguntas dos parlamentares. Veja os principais pontos do depoimento:

Contato com Ricardo Cappelli

Naime afirmou que no dia 8 de janeiro chegou a ligar para Ricardo Cappelli, então interventor federal no DF, mas não recebeu resposta. O então chefe do Departamento Operacional (DOP) da Polícia Militar estava de folga no domingo em que vândalos invadiram os prédios da praça dos Três Poderes, porém, foi convocado a ir ao local após a manifestação se tornar violenta.

"Fernando Neto [assessor do PT para a transição de governo] me ligou e falou: 'Coronel, você está na Esplanada? Vá e me mantenha informado, porque eu vou manter o governo informado sobre o que está acontecendo'. Eu fui para a Esplanada, cheguei lá, e ele [Fernando Neto] me informou que tinha sido decretada a intervenção e me passou o número do Ricardo Cappelli. De imediato, liguei para o Cappelli, que não me atendeu. Então, mandei uma mensagem e não recebi resposta dessa mensagem", afirmou o coronel. Cappelli foi nomeado interventor federal no DF no início da noite de 8 de janeiro, quando a situação na Esplanada havia saído do controle e as sedes dos Três Poderes já tinham sido invadidas.

Falhas na inteligência

O policial também disse que havia um plano de operações para a manifestação. Além disso, ele afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tinha informações detalhadas, às 10h de 8 de janeiro, sobre as manifestações, mas que as "providências não foram tomadas".

"Ou as agências de informação não passaram isso para o secretário e para o comando geral, ou passaram e eles ficaram inertes, não tomaram providências, porque eles tiveram cinco horas para tomar providência a partir do momento em que receberam a informação", comentou.

Naime chegou a afirmar em um determinado momento que o secretário de segurança em exercício no dia da depredação da Esplanada, Fernando de Souza Oliveira, "ou foi enganado ou dolosamente enganou o governador [do Distrito Federal, Ibaneis Rocha]". Naime pediu atenção dos parlamentares para relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que, às 10h do dia dos ataques, alertavam para o aumento da manifestação e para o risco de invasão das sedes dos três Poderes.

Segundo Naime, havia um grupo no WhatsApp para acompanhar as manifestações, e o Departamento de Operações da Polícia Militar tinha representante. Entre outras autoridades, estavam no grupo o coronel Reginaldo Leitão, chefe de Inteligência da PMDF; e Marília Ferreira Alencar, ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF.

Ataque de 12 de dezembro

Sobre a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, em Brasília, em 12 de dezembro, Naime afirmou que os manifestantes não estavam no acampamento do Quartel-General (QG) do Exército. Segundo ele, quem participou diretamente dos ataques do dia 12 estava hospedado no Setor Hoteleiro.

"Tanto que no dia seguinte o comandante-geral e o secretário de Segurança foram chamados para uma reunião com os donos dos hotéis, que estavam preocupados com esse vandalismo, e vários deles chamaram o comandante-geral no canto. Pelo que chegou ao meu conhecimento foi colocada inteligência nesses hotéis. Eles se reuniam no café da manhã nesses hotéis, planejavam o dia nesses hotéis, não iam nem no acampamento", disse.

Na ocasião, um grupo de vândalos se reuniu em frente à sede da PF e tentou invadir o prédio. Como foram impedidos, eles começaram uma manifestação nas ruas, queimaram carros e ônibus e atacaram soldados da Polícia Militar, arremessando pedras e pedaços de madeira.

Acampamento no QG do Exército

O policial afirmou ainda durante a oitiva que se o acampamento em frente ao QG do Exército tivesse sido desmobilizado, o cenário seria outro. Ele disse que não sabia da existência de infiltrados petistas no acampamento, mas que o local era frequentado por pessoas que incitavam o golpe. Afirmou que tinha muita gente "exaltada", com discurso para incitar pessoas a "atos contra o resultado eleitoral". Foi o que ele chamou de "efeito manada". "Poucas pessoas fazem o ato de agressão, e outras pessoas, em momento de euforia, acompanham. Tinha gente lá que entrou só para tirar foto aqui dentro do Congresso", comentou.

Naime também disse que haviam pessoas preparadas e treinadas nos acampamentos, e que o Exército não permitiu a retirada de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro do QG em 29 de dezembro. Ele também afirmou que a PMDF tentou fazer o policiamento e proteção para desmobilização do acampamento, mas a competêcia era do Exército. "Isso aconteceu três vezes. Uma vez foi na madrugada. Outra, no momento que ia começar a operação foi desarticulado. O Exército pegou os servidores do DF Legal foram hostilizados. O Exército não fez nada", comentou.

'Máfia do PIX'

Naime também confirmou que a Secretaria de Segurança Pública do DF tinha conhecimento de um esquema que ficou conhecido como "máfia do Pix", que desviava o dinheiro arrecadado com manifestantes para a manutenção da cozinha do acampamento.

"Essa denúncia chegou ao meu conhecimento em uma reunião da Secretaria de Segurança Pública. Não me recordo a data, mas foi um pouco antes do dia 12 [de dezembro]. Havia uma divergência entre uma liderança [do acampamento] que acusava outra liderança por conta do recebimento de valores para manter a cozinha", detalhou.

Os pedidos eram feitos com uso de um carro de som que permanecia constantemente em frente ao QG. Segundo ele, o equipamento era usado para manter a mobilização dos acampados, gritar palavras de ordem e pedir a interferência do Exército no Estado.

Choro e abraço

Naime estava de folga no dia das manifestações. Mesmo assim, foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, em 7 de fevereiro. Ele é o único entre as autoridades investigadas que continua detido. Ao ser perguntado por quanto tempo está sem ver a família, Naime chorou. "Eu não tenho contato com os meus filhos desde que eu fui preso, dia 7 de fevereiro de 2023", disse. 

Antes de terminar a sessão, Naime foi autorizado a "abraçar" a esposa, antes de voltar para a prisão. O então comandante-geral da PMDF no dia dos atos golpistas, coronel Fábio Augusto Vieira, e o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres foram soltos.


R7 e Correio do Povo

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