terça-feira, 20 de junho de 2023

Dólar fecha sessão cotado a R$ 4,77 e Ibovespa se aproxima de 120 mil pontos

 Moeda norte-americana atingiu o menor valor de fechamento desde 31 de maio


O Ibovespa renovou mais uma vez o pico do ano nesta segunda-feira quando fechou em alta de 0,93%, aos 119.857,76 pontos, no maior nível desde outubro. A expectativa por um corte da taxa Selic em agosto foi a principal responsável pelo desempenho do índice, após o relatório Focus ter mostrado uma redução das expectativas do mercado para a inflação de 2023 a 2026 e a taxa básica de juros no fim deste ano e do próximo.

Embalado pelo otimismo com os ativos domésticos, o índice chegou a avançar a 119.939,00 pontos na máxima do dia (+0,99%), distante apenas 61 pontos de superar a marca dos 120 mil pontos pela primeira vez desde novembro de 2022. Na mínima, registrada pontualmente nos primeiros minutos de negócios, cedeu aos 118.557,81 pontos (-0,17%), em meio à liquidez reduzida devido ao feriado que deixou fechadas as bolsas em Nova York.

Profissionais do mercado atribuem o desempenho ao fortalecimento das apostas em uma redução da taxa Selic em agosto após a divulgação do relatório Focus. Às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima quarta-feira, 21, o boletim mostrou queda das medianas para o IPCA de 2023 (5,42% para 5,12%), 2024 (4,04% para 4,0%), 2025 (3,88% para 3,80%) e 2026 (3,90% para 3,80%).

"A melhora das expectativas de inflação para 2024 e para o horizonte mais longo, de 2025 a 2026, deve ser percebida e bem-vinda pelo BC. Isso e a recente dinâmica favorável do IPCA e da inflação no atacado, e o fortalecimento do real, devem permitir que o BC considere uma virada na política monetária e cortes de juros já em agosto", afirmou o diretor de Pesquisa Macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório.

O Focus também registrou uma queda das estimativas intermediárias do mercado para a taxa Selic no fim de 2023 (12,5% para 12,25%) e de 2024 (10,0% para 9,5%). Os analistas do mercado ainda anteciparam de setembro para agosto a projeção do primeiro corte dos juros, quando passaram a prever uma queda de 0,25 ponto porcentual da taxa, de 13,75% para 13,5%.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a aposta em um corte dos juros em breve e o aumento geral do otimismo com os ativos domésticos explicam a alta do Ibovespa nesta sessão. "De forma geral, temos um otimismo com a expectativa de que o BC possa sinalizar um corte de juros em agosto na quarta-feira", afirma a analista.

Assim, mesmo em meio à baixa liquidez, que levou a um giro financeiro fraco - de R$ 15,9 bilhões -, 69 das 86 ações que compõem o Ibovespa anotaram ganhos no pregão. O setor financeiro avançou 1,37% e liderou o índice, puxado por altas acima de 1% nos papéis de grandes bancos como Bradesco (+2,06% ON, +1,77% PN), Santander Unit (+1,44%) e Itaú Unibanco (+1,36%).

As altas dos papéis ordinários e preferenciais da Petrobras - de 2,63% e 2,49%, respectivamente - também deram fôlego ao Ibovespa em um dia marcado por quedas dos preços de commodities, incluindo o petróleo. A expectativa de que a companhia pague mais dividendos no segundo trimestre sustentou as altas. Já Vale ON cedeu 0,39%, em meio à baixa do minério de ferro e a incertezas sobre o desempenho da economia chinesa.

Na ponta positiva do índice, os destaques ficaram com Azul ON (+3,93%), Localiza ON (+3,90%), JBS ON (+3,86%), Cogna ON (+3,73%) e Marfrig ON (+3,46%). Em contrapartida, tiveram as maiores quedas CVC ON (-5,11%), Natura ON (-2,37%), Alpargatas PN (-2,06%), Assaí ON (-1,92%) e Hapvida ON (-1,61%).

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira em baixa de 0,92%, cotado a R$ 4,7755 - abaixo de R$ 4,80 pela primeira vez desde 6 de junho de 2022 e no menor valor de fechamento desde 31 de maio do ano passado (R$ 4,7516). Com queda em 10 dos 12 pregões de junho, a moeda já acumula desvalorização de 5,86% no mês. Tirando uma alta pontual e bem limitada na abertura, quando tocou máxima a R$ 4,8299, o dólar operou com sinal negativo ao longo do dia e registrou mínima a R$ 4,7600, à tarde.

A apreciação do real se deu na contramão da onda de fortalecimento do dólar no exterior, tanto em relação a moedas fortes quanto divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Houve frustração com a ausência de estímulos à economia na reunião do Conselho Estatal da China encerrada na sexta-feira, 16. As expectativas se voltam agora para possível corte de taxas longas pelo Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) hoje à noite.

Operadores atribuíram a baixa firme do dólar à entrada de fluxo estrangeiro para bolsa e desmonte parcial de posições defensivas no mercado futuro, que tiveram seu efeito exacerbado pela liquidez bem reduzida, dada a ausência da referência das bolsa em Nova York, fechadas em razão de feriado nos EUA. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho movimentou menos de US$ 8 bilhões.

"A liquidez é reduzida e as divisas emergentes estão perdendo com commodities para baixo Parece que temos um movimento de tesourarias descarregando posições compradas (em dólar). A alta das ações da Petrobras mesmo com a queda do petróleo sugere que existe um fluxo estrangeiro mais forte para a bolsa, o que joga o dólar para baixo", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

O pano de fundo para a valorização do real é a melhora das expectativas para a economia brasileira, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que anuncia sua decisão no início da noite desta quarta-feira, 21. É consenso no mercado que o colegiado vai manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. As atenções se voltam para o comunicado do Copom, que pode trazer pistas sobre o tão esperado início de ciclo de cortes.

Pela manhã, o boletim Focus trouxe nova rodada de redução das expectativas de inflação. Houve revisão para baixo da mediana das projeções para taxa Selic no fim deste ano (de 12,50% para 12,25%) e para o próximo (de 10% para 9,50%). Mais: a maioria dos economistas já prevê queda da taxa Selic de 13,75% para 13,50% em agosto, segundo o Sistema de Expectativas de Mercado, base de dados do Boletim Focus. Para a taxa de câmbio no fim de 2023, a estimativa caiu de R$ 5,10 para R$ 5,00,

Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, o Copom deve promover "mudanças importantes" em seu comunicado, retirando referência a eventual retomada de ciclo alta dos juros e "sinalizando que o cenário macroeconômico sugere afrouxamento monetário para breve", tendo em vista a inflação corrente e a melhora das expectativas. Oliveira acredita em início de ciclo de cortes em agosto com redução de 0,50 ponto porcentual e taxa Selic em 11,75% no fim do ano.

"Se o BC for muito tímido no início do ciclo de corte da Selic, como sugerem algumas análises, o real deverá valorizar moderadamente ainda, dado que o juro real ainda permanecerá excessivamente alto", afirma o economista-chefe do Banco Pine.

Entre os indicadores, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou à tarde que a balança comercial brasileira superávit comercial de US$ 2,544 bilhões na terceira semana de junho (dias 12 a 18). No mês, o superávit acumulado é de US$ 7,244 bilhões e no ano, de US$ 42,166 bilhões.

Juros

A ausência dos mercados em Wall Street, a agenda esvaziada e o compasso de espera pelos eventos da semana resultaram num dia fraco para o mercado de juros. As taxas ensaiaram uma pressão de alta pela manhã, mas que se dissipou ao longo da sessão, e passaram a oscilar de lado até o fechamento. Numa segunda-feira de liquidez fraquíssima, o mercado resistiu a uma realização de lucros, mas também não houve gatilhos para estimular o aumento da exposição ao risco, mesmo com o dólar abaixo de R$ 4,80 e nova rodada de redução das expectativas de inflação e Selic no Boletim Focus.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 ficou em 13,030%, de 13,017% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,12% para 11,13%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 10,51% (de 10,50% no ajuste) e a do DI para janeiro de 2029, em 10,86%, 10,84%.

"O foco hoje todo está no câmbio. A agenda está esvaziada e há um compasso de espera pelo Copom e pelo arcabouço", resumiu o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira.

A valorização do câmbio é vista como um dos catalisadores da melhora do quadro não só para a inflação corrente como das expectativas. Duas de três variáveis-chave, como lembra Oliveira, que parecem ser condicionantes para o início do ciclo de cortes da Selic. A outra, diz, é o arcabouço fiscal. Todas elas vêm apresentando evolução e, desse modo, abrem caminho, se não para uma queda da Selic esta semana, ao menos para um ajuste na comunicação do Copom, que sinalize que uma redução da Selic já está no radar dos diretores.

"Esperamos a retirada da última frase do texto, onde diz que 'não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado'", preveem os analistas do BTG Pactual, para os quais a manutenção deste trecho dará ao mercado a interpretação de um tom hawkish e dúvidas sobre o início do ciclo de cortes em agosto.

O dólar à vista caiu 0,92%, fechando hoje em R$ 4,7755, o menor patamar desde 31/5/2022 (R$ 4,7526). Sobre o novo marco fiscal, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a expectativa é encerrar a votação no Senado nesta semana. Na avaliação do ministro, a proposta está bem calibrada e é a "prioridade absoluta no Senado". Está prevista para ser votada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta terça. Em seguida, deve ir a plenário.

Na Pesquisa Focus, a nova onda de revisões para baixo para o IPCA veio acompanhada de queda nas medianas para a Selic. Após oito semanas parada em 12,50%, a expectativa para o fim de 2023 caiu para 12,25%. No fim de 2024, cedeu de 10,00% para 9,50%, após 17 semanas de estabilidade, alinhando-se, assim, ao que está precificado na curva de juros. Ainda, os analistas anteciparam de setembro para agosto a projeção para o primeiro corte, também convergindo para o que prevalece tanto na precificação dos DIs quanto nas opções digitais.

As expectativas de IPCA recuaram em todos os horizontes. Após o corte nos preços da gasolina na semana passada, a mediana para junho (0,20% para -0,04%) já é deflacionária. Para o fim de 2023, a projeção tombou de 5,42% para 5,12%, ainda acima do teto da meta de 4,75%. A de 2024 saiu de 4,04% para 4,00% e a de 2025, de 3,90% para 3,80%. A mediana para 2026 recuou a 3,80%, de 3,88%.


Agência Estado e Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário