Trabalhadores da agropecuária, pecuária, silvicultura e exploração florestal foram as principais vítimas neste período
O Rio Grande do Sul registrou, de 2019 a 2022, 193,4 mil notificações de acidentes de trabalho e 1.470 mortes, conforme o Relatório da Investigação de Óbitos Relacionados ao Trabalho no RS, apresentado nesta quarta-feira pela Divisão da Vigilância em Saúde do Trabalhador (DVST) do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS). Os dados foram divulgados durante evento na sede da Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs), em Porto Alegre, que reuniu profissionais da área para discutir políticas de prevenção à acidentalidade e mortes relacionadas.
Trabalhadores da agropecuária, pecuária, silvicultura e exploração florestal foram os que mais morreram no Estado, tanto em 2021 quanto no ano passado, com 60 e 65 óbitos, respectivamente. Em 2021, a maior causa individual de mortes foi tombamento ou colisão envolvendo caminhão, com 31 ocorrências, ou 15% do total. Já em 2022, as quedas em geral lideraram, somando 40, ou 16,9%. Acidentes com maquinários agrícolas ficaram na segunda colocação, com 38, sendo 20 mortes relacionadas a tratores.
Painelistas da abertura, a professora do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maria Carlota Borba Brum, e o procurador do Ministério Público do Trabalho do RS (MPT-RS) Rogério Fleischmann ressaltaram a importância do evento para criar redes de integração que permitem melhores políticas públicas voltadas à proteção dos trabalhadores.
“Acho importante buscarmos novos atores, como o MPT, entidades, inclusive de apoio técnico na área agropecuária, entre outras, a fim de trazer estas soluções, e estabelecer esta caminhada em conjunto. O papel da universidade é, muito mais, de apoio para estas análises, auxiliando a pensar os problemas no âmbito da pesquisa. Também é importante uma estruturação da rede de assistência”, comentou a professora Maria, que também atua como médica do trabalho no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e já trabalhou no Estado.
Segundo ela, é preciso também observar o trabalhador informal, aquele que não terá a mesma assistência de um trabalhador CLT, por exemplo, e corre tanto ou maior risco de acidentalidade. “A política do nosso grupo é justamente atuar com a informação, conversando com as empresas, que têm responsabilidade pela estrutura e condições de trabalho. Quando o trabalhador é autônomo, as dificuldades são muito grandes, porque, a princípio, não há um responsável”, comentou Fleischmann, informando ainda que o MPT-RS iniciou uma campanha na região de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, para conscientizar sobre a segurança com manejo de máquinas agrícolas.
Para a chefe substituta da DVST, Cláudia Veras, o grande objetivo do relatório, bem como o guia lançado no evento, voltado aos gestores municipais, é a prevenção. “O óbito no trabalho ou relacionado a ele é um tabu. Não é para se morrer trabalhando. Nunca responsabilizamos o trabalhador em razão de ele não ter sido informado. Precisa haver um sistema de proteção e a informação necessária para não colocar sua vida em risco”, disse ela.
Foto: Maria Eduarda Fortes
Correio do Povo
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