O conflito deixa pelo menos 528 mortos e 4.599 feridos
Os combates intensos entre o exército sudanês e os paramilitares continuaram neste domingo(30), enquanto uma trégua de três dias que foi violada no terreno se aproxima do fim.
O Sudão enfrenta bombardeios e tiros antiaéreos desde 15 de abril, quando começou o conflito entre o general Abdel Fatah al Burhan, que dirige o país, e aquele que já era seu número dois e agora é seu rival, o militar Mohamed Hamdan Daglo, que comanda o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR).
Os confrontos continuaram na capital Cartum e em outras regiões, especialmente na área de Darfur, como aconteceu durante uma primeira trégua, que também não conseguiu deter os combates.
O atual cessar-fogo em vigor terminou à meia-noite deste domingo (19h no horário de Brasília).
O conflito deixa pelo menos 528 mortos e 4.599 feridos, segundo o Ministério da Saúde, balanço que pode piorar já que os confrontos impossibilitam o recolhimento dos corpos.
Vários testemunhas informaram que há combates neste domingo muito perto do quartel-general do exército em Cartum e bombardeios em Omdurman, subúrbio ao norte da capital.
"Há combates muito violentos, tiros são ouvidos na minha rua a cada poucos minutos, desde o amanhecer", disse uma testemunha à AFP.
Desde o início do conflito, os cinco milhões de habitantes da capital permanecem entrincheirados e tentam sobreviver, apesar da falta de alimentos, água e eletricidade. Outros decidiram fugir.
As autoridades do estado federal de Cartum anunciaram que deram "permissão para não trabalhar até nova ordem" aos funcionários da capital, enquanto a polícia verificava seu transporte na cidade para evitar saques.
A maioria dos hospitais do país fecham as portas. Nos que continuaram abertos, "a situação é insustentável", reconheceu Majzub Saad Ibrahim, médico de Ad Damir, capital do estado federal do Nilo, ao norte de Cartum.
Dezenas de milhares de pessoas fugiram em travessias difíceis para países vizinhos, como Egito, Etiópia, Chade ou Sudão do Sul.
Governadores estrangeiros estão tentando evacuar seus cidadãos e nacionais de outros países de Porto Sudão para Jeddah, na Arábia Saudita, do outro lado do Mar Vermelho.
O primeiro avião com ajuda humanitária do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pousou neste domingo em Porto Sudão, com oito toneladas de suprimentos, embora o espaço aéreo estivesse fechado desde o início do conflito.
O chefe da diplomacia saudita, Fayçal ben Farhan, convidou-se neste domingo com um emissário do general Burhane.
Mas apesar dos apelos da comunidade internacional, não há solução política à vista para acabar com os confrontos entre os dois generais rivais.
"A ONU intensifica seus esforços para ajudar as pessoas que buscam segurança nos países vizinhos", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, no Twitter.
Segundo a ONU, 75.000 pessoas foram deslocadas pelos combates para outras partes do país e pelo menos 20.000 fugiram para o Chade, 4.000 para o Sudão do Sul e 3.500 para a Etiópia.
Segundo estimativas, se a guerra continuar, até 270.000 pessoas poderão fugir do país.
As autoridades sudanesas informaram que os combates atingem 12 dos 18 estados do país, que têm 45 milhões de habitantes e é um dos mais pobres do mundo.
Segundo a ONU, quase 100 pessoas foram mortas desde segunda-feira em El Geneina, capital de Darfur do Oeste, uma região ainda fortemente marcada pela guerra civil dos anos 2000.
Em um momento em que o drama humanitário se agrava, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou que precisaria "suspender quase todas as suas atividades" devido à violência.
ARTE: PAZ PIZARRO, JONATHAN WALTER, SYLVIE HUSSON, GABRIEL CAMPELO / AFPAFP e Correio do Povo
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