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terça-feira, 2 de maio de 2023

Aumento do leite traz um pouco de alívio ao produtor

 Impactado pela estiagem, setor ainda trabalha com margens apertadas, apesar da pesquisa investigar em pesquisas sobre preços médios pagos aos pecuaristas e custos de produção

Pesquisas que ajudam a montar a tolerância de equilíbrio entre custos de produção e preços pagos ao produtor rural vêm aspirar números mais animadores para a pecuária leiteira, tanto em termos nacionais quanto regionais. Apesar da redução nas despesas da atividade e da melhora nas cotações do leite, o cenário identificado nesses levantamentos traz um pouco de alívio ao setor no Rio Grande do Sul, que amargou prejuízos com as estiagens sucessivas e ainda não conseguiu recuperar as margens de lucro, avaliam fontes do agronegócio.

Divulgados na sexta-feira (28), dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) mostram que o preço médio do leite cru captado por laticínios no Brasil chegou a R$ 2,8120 o litro em março, um aumento real (deflacionado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo do mês) de 2,4% frente a fevereiro e de 10,8% em relação ao mesmo mês de 2022. No trimestre, o avanço acumulado foi de 9,3%. A tendência, de acordo com o centro de pesquisas, é que os valores continuam firmes em abril, com a aproximação do período de entressafra e a consequente diminuição da produção no campo.

“O produtor não sente esse alívio de imediato. Quando ele fez o plantio do milho, o custo de produção ainda estava elevado”, diz o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), Eugênio Zanetti. Ele observa que a crise hídrica prejudicou fortemente a safra de milho, ingrediente usado na formulação das rações. Para o dirigente, a tendência é de melhora gradativa na rentabilidade dos pecuaristas ao longo dos próximos meses. “O produtor precisa melhorar essa margem, senão não vai ter como se manter na atividade”, afirma Zanetti, que também é vice-coordenador do Conselho Paritário Produtores/Indústrias do Leite do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS).

Calculado pela assessoria econômica da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), o Índice de Insumos para Produção de Leite Cru do Rio Grande do Sul (ILC) apresentou queda de 3,72% em março na comparação com fevereiro. No trimestre, a deflação acumulada é de 12,98% frente ao mesmo período do ano passado. Em 12 meses, o ILC recuou 20,38%. “Março do ano passado foi o pico do indicador, porque havia começado o conflito na Ucrânia, os preços do petróleo, do fertilizante e das commodities agrícolas dispararam”, lembra o economista Ruy Silveira Neto.

Segundo Neto, a deflação do ILC vem refletindo a queda das cotações da soja e do milho, diante da expectativa de safra recorde de grãos no Brasil. Em contrapartida, os preços de combustíveis e energia estão em alta. “Estamos vivendo um caso singular aqui: o custo continua elevado, mesmo com o preço (das commodities) caindo. O produtor não conseguiu produzir milho, está tendo de comprar de outros estados e aí tem o custo de frete”, diz Neto.

Para os economistas, os preços da soja e do milho tendem a continuar em baixa até o final do primeiro semestre e o ILC deve seguir em deflação ou mostrar pequeno aumento no período, o que sinaliza uma tendência de recuperação do preço do leite. “Mas não acho que o produtor vai querer aumentar muito a produção, porque ele ainda está com a margem bem apertada. O alívio viria no segundo semestre, com boas pastagens de inverno, e depois no último trimestre, com uma perspectiva de que ele consegue fazer boas silagem e se recupera da estiagem”, avalia.


Correio do Povo

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