Reportagem percorreu quatro locais de atendimento e constatou de perto o cansaço, desespero, sentimento de impotência e revolta dos pacientes e de seus familiares
A superlotação e demora no atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e de Pronto Atendimento de Porto Alegre é uma realidade. Uma reportagem do Correio do Povo percorreu quatro locais de atendimento, na noite desta quarta-feira, e constatou de perto o cansaço, desespero, sentimento de impotência e revolta dos pacientes e familiares.
O Postão da Cruzeiro foi o primeiro na rota. A dona de casa Adriana Moraes, de 53 anos, revelou que chegou com o neto de 2 meses, às 18h. "Ele foi encaminhado para uma emergência e, até agora, duas horas depois, ainda não sei de nada. Ele tá ali no oxigênio e ainda não sabe se vai ser internado em algum hospital pediátrico". Adriana é moradora da região há mais de 20 anos e diz que a situação é a mesma ano após ano. "Eu estou de coração apertado com toda essa situação, mas a realidade do posto é essa. Sempre lotado", desabafou.
Logo na chagada à Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus, no bairro Bom Jesus, o motorista do aplicativo Nedis Camargo Nunes, afirmou que a lotação na Unidade de Saúde é diária. “Isso é uma vergonha. As pessoas vêm aqui, reclamam e ninguém faz nada. Faz oito anos que trabalho aqui e é sempre assim”, desabafou.
A cuidadora Elisiane da Silva, de 42 anos, revelou que estava com o marido José Carlos, de 52 anos, há mais de 12 horas, no local. “Ele está sentando lá dentro, em jejum, com suspeita de apendicite e nenhum médico olha os resultados dos exames para saber. Vou ali e pergunto e só digo que falta o médico”. Ela ainda afirmou que durante a tarde, na UBS Bom Jesus, a situação ainda era mais crítica. “Isso aqui foi pior mais cedo. Teve mãe que estava desesperada aqui. Quase deu tumulto”.
A autônoma Daiana, de 38 anos, disse que chegou perto das 15h com o filho de 11 anos, apresentando febre e tosse, e recebeu alta cinco horas depois. “Na segunda-feira trouxe meu filho caçula, de cinco anos, e foi a mesma coisa, aqui na Bom Jesus”, revelou
Uma funcionária do posto da Lomba do Pinheiro, que não quis se identificar, disse que por noite costuma atender de 70 a 80 pessoas e já faz algum quase um mês que o atendimento é três vezes mais do que o normal. A servidora também solicitou que cinco médicos estivessem naquele plantão noturno. A cozinheira Jéssica Lima, 30 anos, afirmou que chegou às 15 horas com a filha de 13 anos. “Ela estava com muita dor de estômago. O atendimento para a triagem apreciado duas horas e agora, perto das 20 horas ainda estamos aguardando a reavaliação do médico”, explicou.
A Unidade de Pronta Atendimento Moacyr Scliar, na zona Norte, foi a única que estava distribuindo máscaras para os pacientes assim que chegavam. Lá o movimento era menor, comparado com os outros locais. A auxiliar administrativa Michele Bauermam, que estava acompanhando sua mãe, disse que estava há uma hora esperando o retorno da avaliação. Antes de vir aqui fui na Bom Jesus e estava lotado”.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que "acompanha diariamente a movimentação das portas de urgência e emergência da capital. O grande movimento vem de fatores como o acúmulo de casos de doenças crônicas que ficaram sem acompanhamento na pandemia - como diabetes e hipertensão. Somasse a isso a demanda de municípios da região metropolitana que vem sofrendo com encerramento e redução de serviços, levando para a capital pacientes que antes eram atendidos nestes municípios. Casos leves têm sido os que levam mais tempo para serem atendidos. para que os pacientes busquem os 16 postos de saúde que atendem até as 22 horas."
Correio do Povo
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