domingo, 9 de abril de 2023

"Pai, estou vivo", disse criança que sobreviveu ao ataque em creche em Blumenau

 Menino de cinco anos e mais oito colegas foram feridos por um agressor, que invadiu o local com uma machadinha


Samuel Lorenzzo, de cinco anos, ainda não entende o que ocorreu na Creche Cantinho Bom Pastor, onde ele e mais oito colegas foram feridos por um agressor, que invadiu o local com uma machadinha. "Meu filho fala que foi um soco", disse ao Estadã o mecânico industrial Fabio Junior Santos, de 42. Poucos milímetros garantiram a sobrevivência de Samuel, que sofreu um corte grave e trincou a mandíbula. Das crianças atingidas, quatro não resistiram.

"A médica falou que o golpe foi perto da jugular dele", afirmou o pai. "Quando olho o rosto dele e vejo aquele ferido, sei que poderia ter sido fatal." O menino ainda vai ter de passar por uma cirurgia por causa do dano sofrido na mandíbula.

A orientação dos psicólogos que atenderam o menino no hospital, segundo o pai, é não questionar o menino sobre o episódio, mas deixar que ele conte as histórias voluntariamente. A criança tem detalhes relatados da cena de horror. "Estará na mente dele o resto da vida dele", afirma Fabio Junior. "Tento não chorar na frente dele."

Durante uma entrevista, o pai seguro o travesseiro de ficar do filho, que Samuel batizou de "Confortável". Foi um presente recebido pelo menino em uma festa do pijama da igreja que a família frequenta.

baque

O pai lembra que Samuel tinha o traje de ir para a creche ainda sonolento. "Ele só acorda no portão da escolinha." No dia do atentado, Fabio Junior deixou o menino no local por volta das 7 horas.

O baque veio no meio da manhã, quando Fabio estava no trabalho. "Uma amiga nossa ligada para mim", conta. Como estava perto das máquinas do trabalho, ele não conseguiu ouvir muito, mas desconfiou que era algo sério. Depois, um amigo mostrou a foto da creche que havia recebido no celular. "Minhas pernas amoleceram, meus braços amoleceram. Fiquei muito nervoso, comecei a chorar."

Desnorteado, Fábio saiu correndo. Chegando nos arredores da creche, havia uma multidão. A rua estava cheia e a entrada da escolinha, já em regime de educação infantil. "A gente teve que descer do carro e ir andando a pé", diz. Em um primeiro cordão feito pela polícia, só passoum os pais. Em um segundo, só quem desses nomes. "E eles falaram para não entrar no colégio naquela segunda parte."

nervoso

Fábio conta que estava tão nervoso na hora que só conseguia falar o nome do filho, na esperança de receber alguma informação. “Aí uma professora, a Célia, veio correndo e já falou para gente: 'pai, mãe, o Samuel está bem'.

Em seguida, Fabio conta que um policial, que se apresentou como psicólogo - ele não sabe exatamente quem é -, o apertou pelos braços e disse que ele tinha que ter forças, cuidar da família dele e que Samuel estava no hospital.

Nenhum hospital

Os pais só viram o menino quando ele foi levado para o quarto, já no início da tarde. Só ali Fabio diz ter acreditado que o filho estava bem, ainda que estava com curativos no rosto e no pescoço. Samuel foi recobrando a consciência aos poucos.

"Ele falou comigo: 'pai, estou vivo. Eu estou ferido, mas estou vivo'", relembra. O pai diz que isso era algo que o menino falava para todo o corpo médico ao longo do tempo que ficou internado no Hospital Santo Antônio, entre quarta e quinta. O filho ganhou uma série de presentes no hospital, desde ovos de Páscoa até brinquedos. Quatro sobreviventes ficaram todos em um mesmo quarto.

Todos receberam alta, mas Samuel ainda deve ter que passar por um procedimento espontâneo na próxima semana, já que um dos golpes fez o osso da mandíbula dele trincar. "Está bem inchado ainda, por isso estão esperando", diz o pai. Mesmo com dores na boca, o garoto tem sucesso no comer.

"Ele é um menino muito ativo, chamo ele de serelepe. É um menino muito rápido", afirma o pai. O pequeno Samuel já até voltou a correr pelo apartamento em que moram. A sensação, torce Fábio, é de que o pior já passou.

futuro

A família de Samuel é de Curitiba e, há três anos, veio morar com a família em Blumenau, por conta do trabalho dos pais. É o primeiro ano do filho caçula do casal na creche. O pai elogia o Cantinho Bom Pastor. "As professoras, as diretoras, todos são muito bons para as crianças", diz.

Fabio é grato pela ajuda da equipe da creche. "Todos os professores foram heróis ali. Todos tentaram pegar o máximo de crianças, correr para dentro das salas e se trancar."

Segundo o pai, Samuel relata orientações da professora na hora do ataque. "Ele disse: escutei a 'pro' (como o menino chama as professoras) Célia falando para eu correr, e corri para dentro da sala. Aí eles fecham a sala e ela colocou um pano no meu rosto'", diz.

Ao mesmo tempo, ele reconhece que seria difícil deixar o menino estudar no Cantinho Bom Pastor. "Se realocasse a escola para outro local, eu continuaria com eles, porque são muito amorosos. Mas acho que nem professores nem alunos... ninguém vai ter cabeça para estar ali dentro."

Fabio cobra um mais ações preventivas para evitar tragédias em escolas e julgamento do criminoso que cometeu o atentado em Blumenau. Defende ainda a tipificação de atentados assim como terrorismo.

Ele é o favor de colocar profissionais de segurança pública nas escolas, medida anunciada recentemente pela prefeitura de Blumenau, que também promete câmeras e psicólogos nas escolas. "Estou ao mesmo tempo alegre com meu filho, que está em casa, mas com o coração com os outros pais. Porque eu estou com o meu ali em casa. Mas e os pais que enterraram quatro crianças?"

Agência Estado e Correio do Povo

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