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sexta-feira, 31 de março de 2023

Defasagem do IPE Saúde vai resultar em "precarização do atendimento", diz presidente do Simers

 Órgão estadual, com dívidas de R$ 250 milhões, não reajusta honorários desde 2011, mas prometeu resolução até amanhã


O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcos Rovinski, vê com preocupação a falta de uma solução para a defasagem da tabela de honorários adotada pelo IPE Saúde, e que está sem reajustes desde 2011. Embora Rovinski reconheça que esteja havendo diálogo entre as entidades médicas e o atual presidente do órgão, Bruno Jatene, bem como os anteriores, o prazo prometido pelo governo estadual à entidade para uma decisão definitiva encerrada amanhã, porém, por ora, sem qualquer sinal de que será cumprido. 

“Este assunto tem me tirado o sono. Não é o que gostava. Estamos trabalhando com a possibilidade de precarização do atendimento que vai impactar toda a população”, afirma ele. Para Rovinski, é preciso resolver este impasse. “Muitos descredenciamentos ou pedidos de licença de médicos estão associados. A ação dos médicos será definida em Assembleia a partir da resposta do governo. Sabemos que isso não vem de agora, mas é esta gestão estadual que precisa de resolver o fato”, afirma.

Além dos valores congelados pelo órgão estadual, a dívida do IPE Saúde, que atende cerca de 1 milhão de gaúchos e tem por volta de 7 mil profissionais credenciados, ou 20% do total de médicos no RS, é de R$ 250 milhões, especialmente sem pagamento de internações e procedimentos ambulatoriais. Rovinski utiliza exemplos cotidianos para abranger a questão: segundo ele, um médico recebe R$ 18 líquidos por dia para atender a um paciente internado em hospital, o que “muitas vezes, não dá conta do ticket do estacionamento do hospital”. 

“Neste valor, estão incluídos a avaliação clínica, conversa com a família, prescrição de medicamentos”, entre outros. “Já um complicado auxiliar recebe em torno de R$ 48 líquidos em caso de uma cirurgia de hérnia, o que não paga nem uma entrada de cinema com saco de pipocas”. Havendo ou não solução governamental até estes dados, Rovinski argumenta que os Simers seguirão na próxima segunda-feira à Assembleia Geral Extraordinária aberta no início de março para “deliberar quais condutas serão tomadas”.

Esta reunião é, na realidade, a continuidade de encontros descentralizados, em que o sindicato está em diversos municípios do interior gaúcho onde há um número significativo de profissionais médicos. Algumas destas cidades incluem Lagoa Vermelha, onde houve o primeiro, além de Santa Maria, Erechim, Vacaria e Guaporé. “Em todos eles, foi apontado um possível descredenciamento em massa ou licenciamento”, afirma o presidente do Simers. 

Entre os profissionais que já haviam desembarcado do IPE Saúde, relata Rovinski, estão médicos anestesistas e cirurgiões cardíacos, estes últimos por meio da criação de uma cooperativa. Mais recentemente, entrou em processo de descredenciamento dos médicos hemodinâmicos, que operam em procedimentos minimamente invasivos, porém a lista só cresce. “Cirurgiões vasculares também estão fazendo reuniões, e avaliando a possibilidade de se cooperar e se descredenciar em massa do IPE. Ortopedistas entraram em contato comigo procurando saber da possibilidade”. 

Apesar do aumento no número de profissionais que estão cedendo os serviços do IPE, o presidente dos Simers não estima um percentual de descredenciamentos até o momento. “É importante ressaltar que as três entidades, nós, Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) e Conselho Regional de Medicina do Estado do RS (Cremers), estamos na mesma luta. Fizemos esta primeira assembleia com a presença das três entidades”, pontuou ele. 

“Na primeira assembleia, definimos, por exemplo, o pleito de que podemos [entidades] participar do Conselho de Administração do IPE Saúde, com sugestões para que tenhamos, enfim, ter voz ativa. Mas isto ainda não aconteceu”. Outra exigência é a adoção integral da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), cuja tabela de remunerações é adotada em algumas especialidades dentro do órgão estadual, “porém com valores absolutamente defasados”.

Correio do Povo

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