sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Guerra contra a mãe natureza

 Americanos travam uma guerra contra a natureza

Jurandir Soares

A expressão título desta coluna foi utilizada pela governadora de Nova York Khaty Hochul para qualificar a luta que as populações do Centro e do Leste dos Estados Unidos e do Canadá estão desenvolvendo para enfrentar as fortes nevascas e ventos que têm atingido aquelas regiões. Neve que, conforme tem sido noticiado, tem se acumulado a quase 2,00 metros de altura, obstruindo rodovias, soterrando automóveis e bloqueando moradias. Como estou em Vancouver, no Oeste do Canadá, não tenho enfrentado as mesmas consequências, embora por aqui também tenham chegado nevascas que há muitos anos não chegavam, fazendo com que a temperatura no centro da cidade chegasse aos 12 graus negativos e indo aos 19 graus negativos nas montanhas. O acúmulo de neve chegou a meio metro. Porém, os transtornos que acontecem nas outras partes do país se refletem por aqui.
Na sexta-feira passada, os serviços de meteorologia já anunciavam que Canadá e EUA iriam enfrentar a pior tempestade do século. E o anúncio se consumou, com cortes de energia, acidentes em rodovias, carros cobertos de neve e pessoas morrendo de frio. Porém, o maior problema foi a dificuldade de acesso das equipes de emergência aos bairros residenciais. Chegou a 1,5 milhão o número de casas sem energia elétrica. Tornou-se difícil tirar as pessoas dessas casas para levá-las a lugares aquecidos. Outro fato inédito foi o congelamento de máquinas e de sistemas hidráulicos, envolvendo caminhões de bombeiros e guindastes. Ventos de até 80 km/h derrubaram árvores e postes. Casas situadas às margens dos Grandes Lagos sofreram com um fato inédito. O vento jogava sprays de água que ao atingir as casas congelava, formando enormes esculturas de gelo que bloqueavam entrada ou saída das casas. Por isto que esta tempestade está sendo chamada de a “nevasca do século”, pois há mais de 50 anos não ocorria algo parecido. Tudo isto demandou das autoridades canadenses e norte-americanas uma operação de guerra para salvar as pessoas. Mesmo assim, o número de mortos nos EUA chegou a 62, e no Canadá a 27.

Muitas cidades ficaram intransitáveis e muita gente que estava fora não conseguiu voltar, assim como gente que pretendia sair não conseguiu. Mais de dois mil voos foram cancelados. Embora Vancouver tenha ficado longe do epicentro da tempestade, deu para perceber, pois voos para a parte Leste do país foram cancelados. No total, entre os dois países, foram mais de 15 mil voos cancelados. E ainda é cedo para dizer que tudo passou. Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia do Canadá as condições para a “nevasca do século” foram criadas na região dos Grandes Lagos. Lá, o ar gelado vindo do Ártico encontrou-se com o ar quente vindo do Leste. Mas há quem atribua o fenômeno ao aquecimento do Ártico, provocado pelas emissões de CO2 na atmosfera. Seja qual for a origem, o certo é que os estragos têm sido grandes e, embora amenizados, ainda não se vislumbra o seu término.


Correio do Povo

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