Nos últimos anos o Peru destituiu quatro presidentes, todos por envolvimento em falcatruas com a brasileira Odebrecht
Jurandir Soares
A ação do presidente do Peru Pedro Castillo, destituindo o Congresso e convocando novas eleições, é uma reação aos movimentos que vinham sendo desenvolvidos contra ele. No dia 1° deste mês, grupos políticos de oposição aprovaram no Congresso a abertura de um processo de impeachment contra ele, acusado de corrupção pelos parlamentares opositores.
Nesse mesmo dia 1° de dezembro, antes da decisão do Congresso, um grupo de alto nível da Organização dos Estados Americanos (OEA) publicou um “informe preliminar”, alegando alta instabilidade democrática, polarização entre poderes e confrontação permanente. A missão recomendou a convocação de uma instância formal de diálogo entre todos os poderes para uma “trégua política” e que se o impasse continuasse, o Tribunal Constitucional do Peru deveria agir. Estava marcado para ontem o comparecimento de Castillo ao Congresso para apresentar sua defesa. Se a destituição fosse aprovada, o que era muito provável, a vice-presidenta Dina Boluarte assumiria o governo. Assim, o que Castillo fez foi antecipar-se ao movimento que visava derrubá-lo do poder.
Castillo é acusado de corrupção, o que não é novidade no país. Nos últimos anos o Peru destituiu quatro presidentes, todos por envolvimento em falcatruas com a brasileira Odebrecht. Ou seja, todos os presidentes eleitos a partir de 2001. Alejandro Toledo (2001-2006), Alan Garcia (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuchinsky (2016-2018). Na iminência de ser preso, Alan Garcia suicidou-se. Mesmo assim o país seguiu crescendo durante a década passada a uma média de 5% ao ano. Até chegar a pandemia. Aí o país afundou, fechando 2020 com uma queda de 11% de seu PIB e com os hospitais não dando conta do atendimento das vítimas da Covid-19. O país registrou o maior número de mortos por milhão de habitantes da América Latina. Com isto, a pobreza voltou a superar os 40%. Foi mediante este quadro e a desconfiança de metade da população do país que o esquerdista Pedro Castillo assumiu o governo em julho de 2021.
O pior é que, com toda a história recente de corrupção por parte dos presidentes e suas respectivas condenações, Castillo não deixou de seguir o mesmo caminho. Desde que assumiu já enfrentou duas tentativas de impeachment no Congresso e é alvo de seis investigações fiscais por suposta corrupção, das quais também são acusados seus familiares e círculo político mais próximo. O presidente peruano se considerava vítima de uma campanha para tirá-lo do poder e denunciava um “golpe de Estado”. E alegava que não poderia ser investigado até o final do mandato, em julho de 2026. Em um documento divulgado no Twitter, a procuradora-geral do país, Patricia Benavides, acusou o presidente de ser o “suposto autor de delitos contra a tranquilidade pública, na modalidade de organização criminosa agravada por sua condição de líder”. A chefe do Ministério Público ainda acusou Castillo de tráfico de influência agravado e conluio agravado. Castillo, por sua vez, decretou estado de emergência, a convocação de um novo congresso com poderes constituintes, além da reorganização do sistema de justiça, envolvendo o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Junta Nacional de Justiça e o Tribunal Constitucional. No entanto, seu tiro acabou saindo pela culatra, pois acabou mesmo destituído pelo Congresso. Enfim, é mais um episódio de corrupção e golpe, o que não é novidade na história do Peru.
Correio do Povo
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