sábado, 12 de novembro de 2022

Putin humilhado

 Jurandir Soares

Não resta a menor dúvida que a retirada das forças russas da cidade de Kherson, a única grande cidade da Ucrânia que haviam tomado, é uma grande derrota e humilhação para o presidente Vladimir Putin. E é, ao mesmo tempo, um reforço para a posição do presidente ucraniano Volodimir Zelensky, que resistia a uma pressão do Ocidente para negociar com a Rússia e insistia na capacidade de resistência das forças ucranianas. O fracasso pode ser medido pelo que expressou no Telegram o blog militar russo War Gonzo: “É uma página sombria na história do Exército russo”. Apesar da derrota, as forças russas ainda se mantêm à margem esquerda do rio Dnipro, ou seja, mais próximo de sua fronteira, na parte Leste da Ucrânia que pretendem tomar.

Em meio ao recuo militar, surgem informações sobre como a Rússia está sendo afetada pela guerra. A economia russa está muito pior do que todas as previsões mostravam, de acordo com artigo publicado por cinco economistas da Universidade de Yale. Vamos aos dados com base no artigo. Fala-se que o rublo se valorizou, o que é verdade, mas isto não representa vantagem para a Rússia. Para entendermos isto, vamos nos aprofundar nos fatores determinantes para esta elevação. Primeiro, as sanções econômicas direcionadas à Rússia limitaram drasticamente o país de fazer importações de mercadorias. Por exemplo, as concessionárias não conseguem importar, o que era comum, veículos da Ford, da Nissan, Hyundai, Volkswagen etc. Dessa forma não trocam seus rublos por dólares para pagar as importações, resultando numa menor pressão de venda da moeda. Menores importações resultam em menor venda de rublos em troca de dólar. O que, por consequência, valoriza o rublo. A queda das importações é estimada em 50%.

Assim, o valor de uma moeda não reflete necessariamente a força econômica. Um rublo mais forte não traz nenhum benefício se o país não puder importar. Na verdade, isto se torna um pesadelo, porque produtos essenciais como máquinas, microchips e computadores não chegam ao país. O microchip, por exemplo, é essencial na fabricação de qualquer eletrônico, desde geladeira a tanque de guerra. Então, a Rússia deixa de receber componentes essenciais para a sua indústria, o que torna impossível para o país se transformar de uma economia baseada nos combustíveis fósseis em uma indústria altamente produtiva. Isto está levando a indústria russa ao colapso. A produção de veículos caiu pela metade e a inflação nos setores de tecnologia e elétrico já passa dos 60%. Portanto, a valorização da sua moeda não reflete a realidade do país.

Quem está aproveitando para comprar o petróleo da Rússia que não vai para a Europa é a China. E compra mais barato. Em setembro chegou a 50% do valor de mercado. Ou seja, a Rússia cortou o suprimento de gás e petróleo de seu maior consumidor, a Europa, e teve que se sujeitar a vender para a China pela metade do preço. Assim, Putin está perdendo a guerra. E fica demonstrado o quanto é perigoso para um país democrático, como a Alemanha, por exemplo, fazer negócio com um regime como o liderado por Putin. O que projeta que, mesmo com o fim da guerra, a Europa, que está buscando alternativas energéticas, não irá comprar mais da Rússia.


Correio do Povo

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