Pacto havia permitido a exportação de nove milhões de toneladas de grãos ucranianos
As exportações marítimas de grãos ucranianos estão paralisadas neste domingo (30) depois que a Rússia suspendeu sua participação em um acordo que permitia essas entregas vitais para a segurança alimentar mundial, após denunciar um ataque com drones à sua frota na Crimeia. O tratado para desbloquear as entregas de grãos assinado pela Rússia e Ucrânia com a mediação da Turquia e da ONU é fundamental para aliviar a crise alimentar mundial causada pelo conflito.
Esse pacto permitiu a exportação de nove milhões de toneladas de grãos ucranianos e a renovação do acordo, prevista para 19 de novembro.
No sábado, Moscou anunciou que estava suspendendo sua participação depois que o Exército russo acusou Kiev de lançar um ataque "maciço" de drones contra sua frota no Mar Negro, o que a Ucrânia chamou de "falso pretexto". O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou a decisão russa de "indignante" e seu secretário de Estado Antony Blinken afirmou que Moscou "está tentando transformar os alimentos em armas novamente".
Por sua vez, a União Europeia instou a Rússia a "reverter sua decisão". O centro que coordena a logística do acordo afirmou em nota que não há tráfego previsto para este domingo.
"Não foi alcançado um acordo no Centro de Coordenação Conjunta para a movimentação de embarcações de entrada e saída para 30 de outubro", disse. "Há mais de 10 navios, tanto de saída quanto de entrada, esperando para transitar pelo corredor".
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, estimou que a Rússia bloqueia "dois milhões de toneladas de grãos em 176 navios todos os dias", o que é suficiente para alimentar "sete milhões de pessoas".
Também exigiu que Moscou acabe com "seus jogos da fome" e disse que as explosões estavam a mais de "220 quilômetros do corredor de grãos".
A Ucrânia e a ONU informaram anteriormente que o acordo ainda estava em vigor.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky chamou a decisão da Rússia de "uma intenção absolutamente transparente de retornar à ameaça de uma fome em larga escala na África e na Ásia".
Enquanto isso, Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, afirmou que "é vital que todas as partes se abstenham de qualquer ação que possa comprometer o acordo".
"Afirmações falsas"
A cidade de Sebastopol, na península ucraniana da Crimeia, que foi anexada pela Rússia, foi alvo de vários ataques nos últimos meses e é o quartel-general da frota russa no Mar Negro e um centro de coordenação das operações na Ucrânia. O Exército russo afirmou que "destruiu" nove drones aéreos e sete marítimos que atacaram o porto no início do sábado.
"A preparação desta ação terrorista e o treinamento dos militares do 73º centro de operações marítimas especiais da Ucrânia foram realizados por especialistas britânicos baseados em Ochakov, na região de Mykolaiv, na Ucrânia", disse o Ministério da Defesa russo no Telegram.
O Exército russo também acusou o Reino Unido de envolvimento nas explosões de setembro que causaram vazamentos dos oleodutos Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico, construídos para transportar gás russo para a Europa.
O Reino Unido rejeitou as acusações, dizendo que o Ministério da Defesa russo recorre a "divulgar alegações falsas de dimensão épica". A porta-voz diplomática russa, Maria Zakharova, afirmou no sábado que Moscou levaria esta questão, assim como os ataques de drones, ao Conselho de Segurança da ONU.
Um ataque "maciço"
A autoridade pró-russa de Sebastopol, o governador Mikhail Razvojayev, afirmou que o ataque foi o "mais maciço" contra a península até agora no conflito.
Os ataques contra a Crimeia se multiplicaram nas últimas semanas, paralelamente ao avanço de uma contraofensiva ucraniana em direção à cidade de Kherson, próxima à península que serve de base de retaguarda para a operação militar russa.
A Ucrânia informou no sábado que na frente sul do país suas tropas "estão resistindo em suas posições e atacando o inimigo para criar condições para ações mais ofensivas".
As autoridades russas de ocupação de Kherson prometeram transformar a cidade em uma fortaleza, preparando-se para um ataque inevitável. Enquanto isso, separatistas pró-russos anunciaram uma nova troca de prisioneiros com a Ucrânia no sábado, dizendo que 50 soldados de cada lado poderão voltar para casa.
AFP e Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário