Moeda norte-americana encerrou sessão da sexta-feira cotado a R$ 5,30
Após tocar o nível de R$ 5,38 já na abertura do pregão e trabalhar em alta firme pela manhã, o dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde e, com um tombo na reta final dos negócios, encerrou a sessão desta sexta-feira, em baixa de 0,12%, cotado a R$ 5,3004 (mínima do dia). Com valorização em três dos últimos cinco pregões, o dólar fecha a semana no mercado doméstico de câmbio com ganhos de 2,96%, o que faz do real a moeda de pior desempenho divisas de emergentes no período.
Segundo operadores, a formação da taxa de câmbio no mercado à vista na sessão desta sexta foi muito influenciada pelo o tombo da divisa no mercado futuro, em razão de fatores técnicos típicos de encerramento de mês. Às vésperas da formação da última Ptax de outubro e da rolagem de posições, na segunda-feira, o contrato de dólar futuro para novembro - principal termômetro do apetite por negócios - teve giro forte, acima de US$ 18 bilhões.
Entusiasta da moeda brasileira, o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que está é a primeira semana em 2022 na qual o real apresenta performance inferior a de seus pares. "Com as pesquisas apertadas, os mercados começam a se preocupar com o risco de transição e de contestação do resultado", afirma Brooks, no Twitter. "Colocamos o prêmio de risco eleitoral ao redor de 10%. Portanto, com um resultado ordeiro, podemos ver o dólar vir bem abaixo dos R$ 5,00".
Segundo noticiou o Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), há rachaduras dentro da campanha de Jair Bolsonaro, cuja última cartada para minar a credibilidade do pleito foi o caso das inserções de propaganda nas rádios - frente de batalha que já abandonada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, teria sugerido postergação das eleições. Mas a ideia encontra forte resistência no Centrão, que teme ser associado à defesa de um golpe ou à tática para vencer no "tapetão". As principais pesquisas de intenção de voto mostram liderança apertada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou quadro de empate técnico entre os candidatos.
Para a economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais, o mercado foi muito contaminado nesta semana pela expectativa em torno das eleições. Ela mantém uma visão otimista para ativos domésticos e acredita que, com a perspectiva de prolongamento de juro real alto (após a decisão do Copom na quarta-feira) e a possibilidade de preços de commodities elevados em razão da guerra da Ucrânia, pode haver um retorno do fluxo estrangeiro após as eleições.
"O real tende a ganhar com o juro real alto por tempo prolongado e crescimento econômico melhor que de outros emergentes. Por enquanto, com o impasse fiscal, uma faixa de dólar entre R$ 5,20 e R$ 5,40 ainda é saudável", afirma Ariane, acrescentando que, mais do que o comportamento da moeda americana no exterior, o que vai ditar a formação da taxa de câmbio são os sinais sobre a política fiscal.
No exterior, houve também uma desaceleração dos ganhos do dólar frente a pares fortes ao longo da tarde, com o índice DXY, que chegou a atingir máxima acima dos 111,000 pontos, operando entre leve alta, ao redor dos 110,600 pontos. Indicadores de inflação e gastos ao consumo nos EUA vieram em linha com o esperado. A maioria de divisas emergentes e de exportadores de commodities perdeu fôlego, em meio ao avanço das taxas dos Treasuries. As cotações do petróleo caíram mais de 1%, com o tipo Brent para janeiro, referência para a Petrobras, em baixa de 1,33%, a US$ 93,77 o barril. As cotações do minério de ferro também recuaram com preocupações sobre a demanda chinesa, na esteira de medidas restritivas para combater a covid-19.
Taxas de juros
Os juros futuros terminaram a última sessão antes do segundo turno da eleição com taxas de lado ante os ajustes de quinta-feira, mas avançaram na semana marcada pela elevação das tensões políticas. E foi justamente o compasso de espera pelo resultado do pleito presidencial no domingo que travou nesta sexta o mercado, com a disputa considerada em aberto e dado o risco de contestação de resultado caso Lula saia vencedor. Na semana, as taxas subiram em bloco, cerca de 13 pontos-base nas curtas e longas, configurando estabilidade na inclinação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,965%, de 12,958% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,83% para 11,82%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou na mínima de 11,65%, de 11,66%.
As taxas começaram o dia em alta, ainda sob um rescaldo da frustração com a cara aberta de Lula divulgada na quinta no fim da tarde, que pegou o mercado de juros já na sessão estendida. No meio da manhã a pressão se dissipou e, a partir de então, as taxas passaram a oscilar ao redor dos ajustes, com os investidores evitando posições mais direcionais antes do desfecho eleitoral.
"Lula tem um certo favoritismo, mas dada a grande diferença que as pesquisas no primeiro turno mostraram com relação ao resultado efetivo, há dúvidas quanto ao desfecho. A eleição tende a ser a mais apertada desde a redemocratização", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, lembrando ainda do papel importante que o debate na TV Globo pode ter nas urnas.
Na semana do Copom, quem deu as cartas foi o cenário eleitoral. A postura defensiva por causa da eleição acabou deixando o cenário externo nesta sexta em segundo plano para o mercado de juros. Lá fora, as taxas dos Treasuries subiram, com os yields das T-Notes de 2 e de 10 anos voltando a rodar acima de 4,40% e de 4% respectivamente. Já o petróleo cedeu, pressionado pela alta do dólar e temor sobre a economia da China, após a retomada dos lockdowns em meio a novos surtos de covid-19.
Bolsa
A última sessão antes do segundo turno da eleição presidencial, e a penúltima do mês, como era de se esperar foi marcada por cautela, com o Ibovespa desconectado do bom humor externo, que resultou em ganhos acima de 2% para Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq no fechamento desta sexta-feira em Nova York. Aqui, além da incerteza eleitoral - que no pior cenário, de eventual contestação do resultado, estenderia-se por um "terceiro turno" -, o balanço trimestral da Vale, divulgado na quinta à noite, pressionou as ações da mineradora (ON -4,88%) neste encerramento da semana. No intervalo, o Ibovespa acumulou perda de 4,49%, após ganho de 7,01% na anterior.
Nesta sexta, o índice ficou bem perto de zerar as perdas do dia perto do encerramento, ao fechar em baixa de 0,09%, a 114.539,05 pontos, entre mínima de 113.336,06 e máxima de 114.712,07 pontos, com abertura a 114.636,18 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 31,0 bilhões nesta sexta-feira. No mês, o Ibovespa avança 4,09%, com ganhos no ano a 9,27%.
O CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, afirmou nesta sexta que o terceiro trimestre mudou as perspectivas da companhia. "Foi bem sólido com relação à produção, custo em linha, frete também. Enfim, foi um pouco frustrante em relação a questões contemporâneas, mas estamos indo bem nas variáveis que a gente controla, como custo", disse.
A queda sustentada nos preços do minério de ferro, em meio ao enfraquecimento do ritmo de atividade econômica da China, produz efeito também sobre as ações do setor de siderurgia, que operou em forte retração nesta sexta-feira, com destaque para CSN (ON -5,74%). A falta de relaxamento na política de Covid-zero no país asiático tem afetado diretamente os preços e a demanda por materiais básicos, pressionando as ações das empresas do setor.
O dia também foi negativo para Petrobras (ON -1,51%, PN -1,18%), com o petróleo em baixa superior a 1% na sessão, levemente positiva para os grandes bancos (Itaú PN +0,78%, Bradesco ON +0,74%), o que ajudou a conter as perdas do Ibovespa.
Na ponta positiva do índice na sessão, destaque para Méliuz (+8,33%), Cogna (+5,30%), Americanas (+4,84%) e Sul América (+4,40%). No lado oposto, além de CSN (-5,74%) e Vale (-4,88%), pela ordem as duas maiores perdedoras do dia, destaque também para Usiminas (-4,17%), Gerdau (PN -3,65%) e Bradespar (-3,32%). O índice de materiais básicos, que reúne as ações de commodities, fechou a sessão em baixa de 1,29%, enquanto o de consumo, com exposição à economia doméstica, avançou 1,87%.
Apesar do viés negativo que prevaleceu nesta última sessão da semana, o Ibovespa conseguiu manter a linha dos 114 mil pontos, que havia perdido na quarta, quando fechou aos 112,7 mil pontos. Na mínima intradia da semana, também na quarta-feira, chegou aos 112,5 mil pontos, menor patamar desde o último dia 17.
"O volume de hoje ficou mais fraco e é natural essa cautela antes de uma eleição ainda indefinida, com parte das pesquisas ainda mostrando empate técnico, dentro da margem de erro. Não dá para fazer posição em cima, então se deixa em caixa, à espera do resultado", diz César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.
Em Nova York, os índices acionários continuaram a surfar nesta última sessão da semana a expectativa por moderação no ritmo de alta dos juros do Federal Reserve ainda este ano, bem como uma temporada de balanços trimestrais que, à exceção das grandes empresas de tecnologia, tem se mostrado "ok" até o momento, acrescenta o gestor.
Aqui, na quinta, perto do fechamento, a carta do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o "Brasil do Amanhã", em que se faz referência a responsabilidade fiscal, foi rapidamente posta de lado pelo mercado como uma manifestação vaga e, em alguns pontos, contraditória, segundo o mercado.
"Ainda há dúvida sobre o que virá em caso de um terceiro mandato de Lula: se será como um 'Lula 1', do Henrique Meirelles no BC, ou um 'Dilma 2', do Guido Mantega na Fazenda, com ações muito 'desenvolvimentistas' na agenda econômica. Embora a carta tenha sido um aceno para o mercado, ficou muito vaga em termos de propostas concretas", diz Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos.
Ante a incerteza no horizonte imediato, o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira traz um quadro de maior equilíbrio das expectativas para as ações no curtíssimo prazo, em comparação à pesquisa anterior. Entre os participantes, a previsão de alta para o Ibovespa caiu de 72,73% para 44,44%, sendo ainda majoritária, enquanto a de queda saltou de 18,18% para 33,33%. Para 22,22%, a Bolsa fechará a próxima semana com estabilidade, porcentual bem maior do que os 9,09% que no último Termômetro esperavam variação neutra.
Agência Estado e Correio do Povo
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