" A redução é muitas vezes desejada por aqueles que estão no poder – não interessa quem é o governante de plantão. Há razões para isso. É o atual ocupante do cargo que se transforma em vidraça, no sistema “todos contra um”. Menos debates significa menos exposição e menor risco."
Guilherme Baumhardt
Os debates começaram. E, ao que tudo indica, já não ocorrerão no volume esperado por muitos. O primeiro encontro entre os candidatos ao Palácio do Planalto ocorreu no domingo passado, transmitido pela Bandeirantes e realizado em conjunto com um pool de veículos de imprensa. Pelo visto, teremos apenas mais dois encontros dos presidenciáveis, antes do primeiro turno.
A redução é muitas vezes desejada por aqueles que estão no poder – não interessa quem é o governante de plantão. Há razões para isso. É o atual ocupante do cargo que se transforma em vidraça, no sistema “todos contra um”. Menos debates significa menos exposição e menor risco. O problema é que, segundo informações de bastidores, a redução encontrou a simpatia, também, daquele que é considerado o rei da oratória, chamando por alguns de “palanque ambulante” – expressão cunhada pelo grande Augusto Nunes. Sim, Lula teria respirado aliviado.
Procedente ou não, o que vemos é um Lula cansado, não apenas fisicamente, mas do ponto de vista ideológico – as mesmas ideias (ruins) de sempre, as mesmas fórmulas (ruins) de sempre, o mesmo discurso. Além disso, o petista não é mais um garoto. Convém lembrar que Lula passou alguns meses atrás das grades, na carceragem da Polícia Federal, no Paraná. E isso desgasta o vivente.
Nos últimos anos, o petista precisou dar muita explicação para tentar convencer de que ele nada tem a ver com o Sítio de Atibaia (apesar dos pedalinhos com os nomes dos netos, do quarto principal da casa, das caixas com itens do período palaciano que lá estavam guardadas). Lula gastou saliva como nunca antes da história “destepaís” para justificar o injustificável, após o escândalo do Petrolão. E isso cansa.
Há momentos em que a estafa lulista fica evidente. No debate da Bandeirantes ele sofreu uma invertida de Ciro Gomes que vai entrar para os anais da cobertura política. Ao cobrar de Ciro a falta de apoio a Fernando Haddad, no segundo turno de 2018, dizendo que o oponente havia fugido para Paris, Lula, sem querer, levantou a bola para o contragolpe: “Você não fugiu porque não podia. Você estava preso, Lula”, respondeu Ciro.
Em outro momento, em que criticava as privatizações do governo Jair Bolsonaro, Lula começou a elencar empresas que foram desestatizadas. Até que repetiu duas vezes o nome de uma delas e... congelou, parou. Foram segundos de silêncio, mas para o público pareceu uma eternidade. O momento em que a câmera corta para Bolsonaro, com um sorriso no canto da boca, diante do lapso do oponente, também entrará para a história das eleições 2022, independentemente do resultado final.
Lula paga o preço de ter sido “mato de eucalipto”, em que nada consegue crescer ou vingar abaixo da sombra das árvores. O petista criou uma “lulodependência” para o partido. Sem Lula, o PT fica amorfo, sem voz e mais irrelevante. A entrada dele na disputa de 2022 é uma espécie de cartada final.
Ninguém virá a público dizer isso, mas é óbvio que há pessoas dentro do próprio PT que soltariam foguetes em caso de derrota lulista. Significa uma chance de arejar o partido – ou quem sabe até salvá-lo, após tantos erros cometidos enquanto esteve no poder. E não me venham falar em Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad como líderes da sigla. Ambos figuram como bonecos de ventríloquo do poderoso chefão.
Correio do Povo
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