Falha na segurança permitiu que alguém armado chegasse perto da vice-presidente argentina
O anunciado atentado contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, deixa algumas indagações no ar. Em primeiro lugar é preciso dizer que não é novidade um atentado contra líderes expressivos. É longa a lista dos que morreram em tais circunstâncias, sendo que alguns conseguiram escapar, como Ronald Reagan e o papa João Paulo, porém, ambos baleados, e Margaret Thatcher, que se encontrava noutro compartimento do hotel em que explodiu uma bomba a ela endereçada. O disparo contra Cristina falhou. Que bom que a vida dela foi preservada. Porém, que falha do sistema de segurança para permitir que alguém armado chegasse tão perto dela.
Este atentado ocorre em meio a uma semana de intensas manifestações nas cercanias da residência de Cristina, no bairro de Recoleta, reunindo apoiadores e contestadores da vice. E se dá também num momento em que o promotor Diego Luciani pediu uma pena de 12 anos para a política, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado no período em que foi presidente (2007-2015). Luciani também solicitou que Cristina seja inabilitada a concorrer a cargos públicos para o resto da vida e que sejam devolvidos aos cofres públicos 5,3 bilhões de pesos, o equivalente a R$ 200 milhões. A Justiça argentina já apontou que Cristina e seu falecido marido, Néstor Kirchner, estão envolvidos no maior escândalo de corrupção da Argentina, nos chamados “cadernos de anotações”, que registram os pagamentos de subornos. Caso que vinha sendo investigado pelo juiz Claudio Bonadio, que teve frustradas suas tentativas de quebrar o foro privilegiado de Cristina para fazer a investigação adequada. Em outro episódio que envolve Cristina, ela foi acusada pelo promotor Alberto Nisman de montar um esquema para inocentar os iranianos responsáveis pelo ataque à Amia, Associação Mutual Israel Argentina, em 1994, que deixou 85 mortos. Isto para facilitar a venda de grãos para o Irã em troca de petróleo. Detalhe: o promotor foi encontrado morto em seu apartamento no bairro de Puerto Madero.
São muitas as acusações contra Cristina que, junto com seu marido, colocou em prática uma política populista que afundou o país e esfacelou até o agronegócio, o carro chefe da economia argentina. As taxações impostas aos produtores fizeram, por exemplo, a carne argentina perder a sua posição de número um no mundo. E o país passou a conhecer algo até certo tempo impensável para aquela que já foi uma das cinco principais economias do mundo: a miséria e a fome. Ampliadas por uma inflação que já passa dos 60% e que deve fechar o ano perto dos 100%.
Muitos argentinos passaram a se dar conta disto e a se manifestar contra Cristina. Outros fanáticos e sem discernimento seguiram fiéis a ela. O suposto atentado vem colocá-la como vítima, se prestando a mais um trágico enredo de tango, que os argentinos tanto gostam. Até um feriado foi decretado para os atos de solidariedade. E para complicar, o autor do ato, que é filho de mãe argentina e pai chileno, e que vive na Argentina desde 1993, por acaso nasceu no Brasil. O que está fazendo com que brasileiros que vivem na Argentina estejam sendo alvo de ataques, como se fossem corresponsáveis pelo ato.
Correio do Povo
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