segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Ruim para Leite

 Como ler os números das pesquisas eleitorais

Guilherme Baumhardt

Quem acompanha a coluna sabe das restrições que tenho com pesquisas eleitorais. Não é pegação de pé, muito menos má vontade, mas o histórico recente de erros produzidos por alguns grandes institutos (especialmente Datafolha e o antigo Ibope) obriga adotarmos uma dose extra de cautela. Feita a ressalva, vamos às leituras possíveis do levantamento trazido na edição de sexta-feira, pelo Correio do Povo, feito pelo Instituto Paraná.

Para um governador que praticamente não enfrentou oposição na Assembleia Legislativa (sofreu um forte revés apenas quando tentou prorrogar o aumento de impostos), os números apresentados por Eduardo Leite ficam aquém do que seria esperado para quem deixou o Palácio Piratini “ontem” e que governou com relativa facilidade, com dinheiro federal entrando nas contas do Estado, sem a necessidade de pagar as parcelas da dívida com a União – o que possibilitou, também, colocar a folha de pagamento do funcionalismo em dia.

Sim, Leite aparece na frente, com 31,6% das intenções de voto. Onyx Lorenzoni é o segundo, com 25,1% dos votos, mas divide a preferência do eleitorado com Luis Carlos Heinze, que surge com 6,9% na pesquisa. Onyx e Heinze disputam o mesmo segmento, portanto, são votos que transitam de um para outro com alguma naturalidade.

Apenas para efeito de comparação, se analisarmos a situação do tucano gaúcho com seus colegas, também candidatos à reeleição, nos demais Estados do Sul, ele está mais para o enrolado Carlos Moisés, de Santa Catarina, do que para Ratinho Jr., do Paraná. Não será surpresa alguma se o paranaense vencer a disputa já no primeiro turno. Já o catarinense não chega aos 30% em vários levantamentos. Vale lembrar: Moisés escapou por pouco de uma cassação, em um processo de impeachment aberto na Assembleia Legislativa.

Se a distância para o segundo colocado não é grande, o dado mais preocupante para Eduardo Leite está na rejeição. É o campeão. Mais de 30% dos eleitores responderam que não votariam no tucano de jeito nenhum. O segundo é Onyx, com 19%. Rejeição é sempre o fator mais difícil de ser trabalhado, a resistência quase intransponível em termos de marketing político.

A campanha em rádio e televisão começou nesta sexta-feira. Para Leite isso talvez não seja motivo de alívio, mas sim de tormento e dor de cabeça. Ele é a vidraça, é que tem o telhado de vidro, é a gestão dele que está sob análise. Sim, é tempo para mostrar o que ele fez enquanto estava no Palácio Piratini. Mas será tempo também para bombardeio pesado, por todos os demais.

Há um fator que merece atenção especial: no restante do país, Jair Bolsonaro começa a melhorar seus índices de intenção de voto. Em alguns Estados ele, inclusive, já ultrapassou Lula. Querendo ou não isso impacta nas disputas regionais. A ascensão de Bolsonaro, se confirmada, é uma péssima notícia para Eduardo Leite. Em 2022, diferentemente do que fez em 2018, ele não poderá embarcar na canoa bolsonarista. Lá ele é, hoje, persona non grata.

Mourão descola e decola
A pesquisa trouxe ainda uma boa notícia para o candidato ao Senado Hamilton Mourão. Ele está colado em Olívio Dutra, o líder, e descolou de Ana Amélia Lemos, na disputa pelo eleitor mais conservador. Como é uma disputa de turno único, o voto útil acontece antes. A dúvida do eleitorado era saber em quem apostar as fichas para ser o anti-Olívio. Mourão saiu na frente.

Lula...
A entrevista (podemos chamar assim?) do candidato petista Lula a um telejornal na última quinta-feira revelou mais do mesmo. Serviu também para mostrar de que lado está o eterno sindicalista, que fala muito em “povo, povo, povo”, mas liderou o governo que mais tungou dinheiro dos brasileiros.

... e o campo
Apesar da deficiência jornalística da entrevista, de maneira geral, alguns parâmetros ficaram bastante claros. Cito como exemplo as referências feitas ao campo e aos produtores rurais, chamados de fascistas, entre outros adjetivos. O ex-detento até tentou fazer uma linha de corte, dizendo que nem todo produtor rural é fascista. Mas ficou evidente o seu amor pelos bandoleiros do MST e a ojeriza que tem pelo agronegócio. Agricultor – pequeno, médio ou grande produtor – que vota no petista está desinformado ou é cúmplice. Ou talvez sofra de Síndrome de Estocolmo. Não há outras opções.

Parabéns
Algumas notas foram mais contundentes, outras menos. Mas o posicionamento de entidades (boa parte delas aqui do Rio Grande do Sul), após a operação da Polícia Federal que teve como alvo oito empresários brasileiros, é digno de elogio. É preciso reagir. O limite (legal, do bom senso e da mínima vergonha na cara) já foi ultrapassado há bastante tempo pelo Supremo Tribunal Federal. Parabéns à Fiergs, Federasul, OAB-RS, Fecomércio e outras. Aliás, o Clube de Opinião (que reúne jornalistas e do qual este colunista orgulhosamente faz parte) talvez tenha sido a primeira entidade a se manifestar no caso.


Correio do Povo

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