Moeda norte-americana aguarda discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell
O dólar terminou a quinta-feira praticamente estável, com o mercado em compasso de espera pelo discurso do presidente do Federal Reserve (o banco central dos EUA), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira. Do aguardado discurso os investidores querem extrair pistas sobre os próximos passos da autoridade monetária na sua política de juros.
Em meio à expectativa, operadores informaram que movimentos do comércio exterior acabaram por exercer maior influência sobre as cotações, o que justificaria a instabilidade vista desde o período da manhã. No fechamento do dia, o dólar à vista ficou em R$ 5,1121, com ganho de 0,02%. No mercado futuro, a divisa para liquidação em setembro recuava 0,11% às 17h19, aos R$ 5,1185. Já o Dollar Index (DXY), que mede a variação do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, apresentava baixa de 0,25%.
Na mínima do dia, registrada pela manhã, o "spot" chegou aos R$ 5,0869 (-0,48%). Na máxima, também no período matutino, bateu R$ 5,1429 (+0,62%). Segundo operadores, essa faixa de oscilação é formada pela atratividade do dólar quando a cotação cai abaixo de R$ 5,10 e o acionamento das ordens de venda quando a divisa supera os R$ 5,12.
Segundo Elson Gusmão, analista de câmbio da Ourominas, compras realizadas por importadores contribuíram para a maior pressão no período da tarde, mas ocorreram de maneira pontual. "O que predominou foi mesmo a expectativa em torno do simpósio de Jackson Hole, uma vez que amanhã a fala de Jerome Powell deverá mexer com os mercados", afirma.
Para Ideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora, o clima de cautela não se restringe apenas ao discurso de Powell, mas também por conta de diversos drivers potenciais que estão presentes no cenário. "Provavelmente o discurso do presidente do Fed não vai trazer as respostas que o mercado espera. Ainda há muitos dados econômicos a serem divulgados até a reunião de política monetária em setembro", disse o profissional.
Pela manhã, os destaques ficaram com indicadores da economia norte-americana. A segunda revisão do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA mostrou contração a ritmo anualizado de 0,6% no segundo trimestre, pior que a previsão dos analistas (-0,5%), mas melhor que o encolhimento de 0,9% na primeira prévia do indicador. A inflação medida pelo PCE foi revisada para cima, à taxa anualizada de 7,1% no segundo trimestre e o núcleo avançou a 4,4% na mesma base comparativa.
Taxas de juros
Os juros futuros subiram nesta quinta-feira, em trajetória oposta a das curvas no exterior e das commodities, que caíram. Num dia de agenda e noticiário domésticos sem destaques, a sessão teve caráter técnico bem marcado em função do leilão grande de prefixados do Tesouro, cuja oferta foi absorvida integralmente.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 avançou de 13,11% no ajuste anterior para 13,20% e a do DI para janeiro de 2025, de 11,96% para 12,13%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,89%, de 11,67% no ajuste anterior.
Após iniciarem o dia perto da estabilidade, as taxas começaram a subir ainda pela manhã, com o mercado na expectativa pelos lotes de LTN e NTN-F que o Tesouro divulgaria às 10h30 e até então com o retorno da T-Note de dez anos ainda em alta. Os volumes de 19 milhões de LTN e de 600 mil vieram abaixo dos megalotes da semana passada, mas com DV01 (risco) elevado, de US$ 749 mil segundo a Necton Investimentos. As máximas foram atingidas logo após a operação, com players ajustando posições de proteção no DI contra o risco prefixado dos papéis.
Sobre o leilão de LTN, o especialista em renda fixa e professor ligado a Mercado Financeiro na B3, na Anbima e FIA, Alexandre Cabral, lembrou que a operação teve o segundo maior volume do ano e que as taxas subiram, "mas nada que preocupe". Mais uma vez a oferta da LTN 1/1/2026, de 15 milhões nesta quinta, foi destaque. "Acho que gringo está comprando a Jan26. Só ela deu um volume de R$ 10,27 bi", escreveu, no Twitter.
"O leilão, grande, fez preço, num ambiente de certa expectativa com Jackson Hole", comentou o estrategista da Tullett Prebon Vinicius Alves. O Simpósio que reúne banqueiros centrais terá seu ponto alto na sexta-feira, com o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Enquanto aguardam pela sinalização sobre a política monetária, os investidores digeriram o PIB fraco da economia dos EUA, mas que não aliviou as apostas de elevação de juro em 75 pontos-base e o mercado segue dividido ante a opção de alta de 50 pontos.
Alves, da Tullett, pondera que apesar da queda nos rendimentos, a curva dos Treasuries teve um movimento de "flattening" nesta quinta, com a taxa do papel de dez anos caindo bem mais do que a de dois anos, refletindo a possibilidade de um aperto monetário mais firme no curto prazo gerar recessão mais adiante.
Nesse contexto, no fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos estava em 3,03%, de 3,10% na quarta, e a da T-Note de 2 anos, em 3,39%, de 3,40% na quarta-feira.
Bolsa
Mesmo com moderada realização de lucros em Petrobras (ON -1,01%, PN -1,07%) em dia de recuo para o petróleo, o desempenho de Vale (ON +1,94%) e dos grandes bancos (BB ON +2,38%, máxima do dia no fechamento; Itaú PN +1,24%) assegurou mais um leve avanço para o Ibovespa, em semana de fluxo acomodado pela expectativa em torno de Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole. Enquanto o mundo aguarda sinais sobre os juros dos Estados Unidos, o Ibovespa subiu nesta quinta-feira 0,56%, a 113.531,72 pontos, entre mínima de 112.768,19 e máxima de 114.156,20, saindo de abertura aos 112.897,84 pontos.
Na semana, a referência da B3 ganha 1,83%, colocando a alta do mês a 10,05% e a do ano a 8,31%. O giro financeiro ficou em R$ 23,8 bilhões na sessão.
"A Bolsa tem mostrado recuperação mesmo sem ajuda da Vale, negociada ainda abaixo de R$ 70 no ano, ON ainda cede 3,27%. Tem havido fluxo para a B3 e, com o S&P 500 no nível em que está, ainda há como atrair recursos, com os descontos que ainda se tem por aqui. Mas o Ibovespa tem estado mais lateralizado nessas últimas sessões, à espera também do que Powell dirá em Jackson Hole. Existe expectativa para uma narrativa maishawkish, dura, do Fed o BC americano", diz Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. "A inflação mostrou moderação recentemente nos Estados Unidos, mas o mercado de trabalho está muito ajustado, com taxa de desemprego bem baixa, em nível pré-pandemia, e crescimento real da renda salarial", acrescenta.
Assim, com foco total no cenário externo, o noticiário doméstico segue em segundo plano, mesmo nesta semana de entrevistas dos candidatos à presidência em horário nobre da Globo - nesta quinta-feira, a expectativa era para o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no JN. "A volatilidade que se antecipava para o período eleitoral ainda não veio, ao contrário de outros anos. O externo tem ditado, muito mais do que o doméstico. Não há ainda muita clareza, indicação sobre a economia, e é provável que se venha a ter isso apenas depois de outubro. O mercado então aguarda, não tem como colocar no preço agora", observa Lucci.
Além da expectativa para Powell na sexta, os investidores puderam acompanhar nesta quinta a segunda leitura sobre o PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre, em retração anualizada de 0,6% ante estimativa inicial, um mês atrás, de contração de 0,9%.
Aqui, "os juros futuros subiram por toda a curva, e o dólar teve dia indefinido, porém demonstrando alguma pressão compradora abaixo dos R$ 5,11, o que indica certa cautela dos investidores", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, destacando o desempenho de ações como Vale e Banco do Brasil para que o Ibovespa encerrasse o dia no positivo. No fechamento do câmbio, o dólar à vista ficou em R$ 5,1121, praticamente estável (+0,02%), entre mínima de R$ 5,0869 e máxima de R$ 5,1429 nesta quinta-feira.
Após indecisão no começo da tarde, quando oscilou pontualmente para o negativo, o Ibovespa conseguiu se firmar em alta e retomar o nível de 113 mil pontos, mantido também no fechamento, acompanhando a alguma distância a melhora de humor em Nova York, onde os ganhos chegaram a 1,67% (Nasdaq) no encerramento do dia.
Na ponta positiva do índice da B3, destaque nesta quinta para Alpargatas (+10,06%), Azul (+5,62%), Gol (+5,49%), Petz (+5,00%), Natura (+4,00%) e Magazine Luiza (também +4,00%), com Energisa (-2,77%), Eletrobras PNB (-1,78%) e Cemig (-1,71%) puxando o lado oposto. Com avanço entre 19% e 21% até aqui no mês, e superior a 74% no ano - bem à frente de outras blue chips e do próprio Ibovespa -, Petrobras ON e PN tiveram leve realização de lucros no fechamento, após terem acentuado perdas acima de 2% no começo da tarde, levando então o índice a transitar para o negativo.
Agência Estado e Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário